Vitória se apressa a ir ao hospital, e enquanto pegava sua bolsa e as chaves do carro, liga para Júlia, pedindo que fique com Dani em sua casa por um tempinho, para que ela pudesse passar a noite acompanhando a esposa. Ao explicar o que aconteceu, a cacheada não se contém e chora copiosamente, sendo consolada pela amiga, que se prontifica a ajudar no que for preciso e diz que iria avisar Lucas, para que fosse até lá dar um suporte mais próximo. Vi também pede para que Ju não conte nada sobre o que aconteceu para Dani, que ela mesma iria explicar quando chegasse o momento mais oportuno.
Depois de comunicar a custo o ocorrido à família, Vitória foi com Lucas até o hospital. Os pais e as irmãs de Ana, além da mãe de Vitória, estavam se mobilizando para vir de Araguaína o mais rápido possível, e Rafa, que morava em Brasília, também já estava a caminho.
- Vi, tenta se acalmar. Isso não faz bem pro bebê – diz Lucas, fazendo um carinho reconfortante na mão de Vitória.
- Como eu posso me acalmar, Lu? O amor da minha vida pode ter morrido – ela chorava desconsoladamente.
- A Ana é forte, ela vai sair dessa. Confia.
Sendo conhecida e influente como era, Ana logo teve seu caso selecionado pelos melhores médicos do HG, seus amigos pessoais, e foi atendida rapidamente e com todo o cuidado. Pouco tempo após Vitória pedir informações a respeito da esposa, o médico que recebeu Ana Clara chegou para conversar com a advogada. Explicou que a agora paciente estava bem, na medida do possível, e na enfermaria, o que significava que poderiam entrar para vê-la. A cacheada nem quis mais ouvir nada, saiu correndo arrastando o amigo pela mão na direção indicada, e o médico seguiu os dois.
Ao chegarem no quarto, porém, Vi e Lucas se surpreendem ao encontrar Ana consciente e muito bem acordada e orientada, conversando com Manu. Ela estava com a perna engessada, alguns ferimentos pelo corpo e um corte na testa, coberto por alguns curativos.
- Ninha, amor! - Vitória a abraça com cuidado.
- Oi, vida - Ana sorri pra ela.
- Que susto que cê me deu... Achei que tinha te perdido.
- Tu não vai me perder, amor. Nunca - diz Ana. - Cadê nossa filha?
- Pedi pra Ju ficar com ela enquanto vinha pra cá - responde Vitória, acariciando o cabelo da esposa, que assente.
- Essa mocinha deu mesmo um grande susto na gente - diz Manu. - Mas agora vai ficar bem. Teve uma fratura na tíbia, no entanto não foi necessário operar. Agora é só cuidar dessas escoriações, que foram leves, e dessa perna também.
- Isso, isso mesmo - confirma o médico que atendeu Ana, ainda ofegante pela corrida atrás de Vitória e Lucas.
- Graças a Deus não foi nada mais sério - diz Lucas. - Quase que a Vi morre com a notícia.
- Vi, tu sabe que isso não é bom pro bebê - Ana chama a sua atenção.
- Eu sei, mas... Tive tanto medo, vida - Vitória a abraça de novo.
- Não precisa ficar assustada, amor - diz Ana, passando a mão nas costas da esposa carinhosamente. - Eu tô bem aqui, tô aqui com você.
- Ana, como foi que esse acidente aconteceu? - Pergunta Lucas.
- Olha, amigo, essa foi a parte estranha, que eu tava até comentando com Manu...
- Mas você se lembra de tudo que aconteceu? - Pergunta ele novamente.
- Parcialmente. Eu lembro que estava dirigindo e vinha um outro carro no meu encalço. Parecia que o motorista tava realmente querendo bater no meu carro propositalmente. Daí eu afastei pro outro lado, pra me livrar. O cara desse outro carro deve ter perdido o controle, porque ele capotou várias vezes e eu até vi um início de explosão, mas logo o meu Jeep, que tava muito rápido, começou a aquaplanar na pista molhada e bateu na entrada do túnel.
- Será que...? - Vitória divaga.
- O que, vida? - Pergunta Ana.
- Por um instante eu achei que Deco e Mike pudessem estar envolvidos nisso, afinal, eles estão soltos, né...
- É, Vi, não é difícil - diz Lucas. - Mas e depois, Aninha?
- Depois da batida são só flashes... ambulâncias, luzes etc. - continua Ana. - Acabou que eu nem comprei seu suspiro e sua manteiga, né, Vi?
- Amor, não quero manteiga nenhuma, o que eu quero tá bem aqui na minha frente.
- Só espero que meu filho não nasça com cara de suspiro depois dessa.
Todos riem da brincadeira de Ana, mas logo o clima tenso volta a tomar conta do quarto quando o mesmo capitão da PF que resgatara as meninas naquele fatídico dia do sequestro, entra no recinto, acompanhado da delegada Helô.
- Com licença - diz ele, atraindo a atenção de todos, que logo olham para ele intrigados. - Precisamos falar com as senhoras Ana Clara e Vitória Caetano Falcão.
- Claro, capitão - diz Vitória. - Como tem passado?
- Poderia estar melhor, senhora.
- E a senhora, delegada?
- Digo o mesmo que ele, dona Vitória.
- Gente, o que tá acontecendo? Será que alguém pode começar a falar logo? - Pergunta Ana, impaciente.
- Senhora Ana, nós soubemos do que aconteceu com você e imediatamente olhamos as câmeras de segurança da avenida onde houve o acidente - diz o capitão. - O carro que estava atrás do seu tentava provocar uma batida, e estavam realmente seguindo-a.
- Sabem quem estava lá? - Pergunta Ana, temerosa pela resposta.
- Aí que está - diz Helô. - O carro se despedaçou e ainda explodiu, mas os bombeiros conseguiram conter o fogo depois de um tempo. Retiraram de lá um corpo, que foi identificado como sendo de Maicon Túlio Dantas.
- Ele estava sozinho? - Pergunta Vitória.
- Senhora, acreditamos que André Martins provavelmente era a outra pessoa que estava do lado dele, afinal o sr. Túlio estava no banco do carona - responde a delegada. - Mas não foi encontrado nem sinal dele.
- O quê? - Pergunta Ana, atônita.
- Isso mesmo, dra. Ana - confirma o capitão. - Acreditamos que o corpo do Martins foi carbonizado na explosão, mas a perícia está examinando tudo ainda para que se confirme essa hipótese.
- Meu Deus, eu tô chocado - diz Lucas, boquiaberto.
Um silêncio se segue a tudo aquilo, e as meninas, de certa forma penalizadas pelo suposto destino trágico daqueles dois indivíduos, ignoravam totalmente o que acontecia numa casa bem afastada do centro de São Paulo.
- Seus imbecis! Saiam daqui já! - Esbraveja o homem, irritado.
- Chefe, nós não tivemos culpa... Quer dizer...
- Já não mandei vocês sumirem daqui?
- Mas o senhor tá machucado, seu André, precisa de cuidados...
- FORA DAQUI AGORA!
Os comparsas de Deco deixam a sala assustados, e ele pega da mão de um deles o pedaço velho de pano pra tentar ele mesmo limpar seus ferimentos, que, junto com as queimaduras, não eram poucos.
- Você se livrou agora, dra. Ana - diz ele, arrastando o pano pelo canto da boca, que também estava ensanguentado. - Mas não vai se livrar da próxima. Depois que acabar com você, vou pegar a Vitória e esse bebê, que era pra ser meu e dela, e vou sumir no mundo. O idiota do Mike morreu, mas isso não significa que vou desistir de me vingar e retomar de volta o que é meu. Jamais...
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Sanity Line
Romance"Aqueles olhos... quando os vi pela primeira vez, soube ali que não teria mais volta, e que eu seguiria sua dona para onde quer que fosse..."