Capítulo 39

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Vitória se apressa a ir ao hospital, e enquanto pegava sua bolsa e as chaves do carro, liga para Júlia, pedindo que fique com Dani em sua casa por um tempinho, para que ela pudesse passar a noite acompanhando a esposa. Ao explicar o que aconteceu, a cacheada não se contém e chora copiosamente, sendo consolada pela amiga, que se prontifica a ajudar no que for preciso e diz que iria avisar Lucas, para que fosse até lá dar um suporte mais próximo. Vi também pede para que Ju não conte nada sobre o que aconteceu para Dani, que ela mesma iria explicar quando chegasse o momento mais oportuno. 

Depois de comunicar a custo o ocorrido à família, Vitória foi com Lucas até o hospital. Os pais e as irmãs de Ana, além da mãe de Vitória, estavam se mobilizando para vir de Araguaína o mais rápido possível, e Rafa, que morava em Brasília, também já estava a caminho. 

- Vi, tenta se acalmar. Isso não faz bem pro bebê – diz Lucas, fazendo um carinho reconfortante na mão de Vitória. 

- Como eu posso me acalmar, Lu? O amor da minha vida pode ter morrido – ela chorava desconsoladamente.

- A Ana é forte, ela vai sair dessa. Confia. 

Sendo conhecida e influente como era, Ana logo teve seu caso selecionado pelos melhores médicos do HG, seus amigos pessoais, e foi atendida rapidamente e com todo o cuidado. Pouco tempo após Vitória pedir informações a respeito da esposa, o médico que recebeu Ana Clara chegou para conversar com a advogada. Explicou que a agora paciente estava bem, na medida do possível, e na enfermaria, o que significava que poderiam entrar para vê-la. A cacheada nem quis mais ouvir nada, saiu correndo arrastando o amigo pela mão na direção indicada, e o médico seguiu os dois. 

Ao chegarem no quarto, porém, Vi e Lucas se surpreendem ao encontrar Ana consciente e muito bem acordada e orientada, conversando com Manu. Ela estava com a perna engessada, alguns ferimentos pelo corpo e um corte na testa, coberto por alguns curativos. 

- Ninha, amor! - Vitória a abraça com cuidado.

- Oi, vida - Ana sorri pra ela.

- Que susto que cê me deu... Achei que tinha te perdido.

- Tu não vai me perder, amor. Nunca - diz Ana. - Cadê nossa filha?

- Pedi pra Ju ficar com ela enquanto vinha pra cá - responde Vitória, acariciando o cabelo da esposa, que assente. 

- Essa mocinha deu mesmo um grande susto na gente - diz Manu. - Mas agora vai ficar bem. Teve uma fratura na tíbia, no entanto não foi necessário operar. Agora é só cuidar dessas escoriações, que foram leves, e dessa perna também.

- Isso, isso mesmo - confirma o médico que atendeu Ana, ainda ofegante pela corrida atrás de Vitória e Lucas. 

- Graças a Deus não foi nada mais sério - diz Lucas. - Quase que a Vi morre com a notícia.

- Vi, tu sabe que isso não é bom pro bebê - Ana chama a sua atenção. 

- Eu sei, mas... Tive tanto medo, vida - Vitória a abraça de novo. 

- Não precisa ficar assustada, amor - diz Ana, passando a mão nas costas da esposa carinhosamente. - Eu tô bem aqui, tô aqui com você.

- Ana, como foi que esse acidente aconteceu? - Pergunta Lucas.

- Olha, amigo, essa foi a parte estranha, que eu tava até comentando com Manu...

 - Mas você se lembra de tudo que aconteceu? - Pergunta ele novamente. 

- Parcialmente. Eu lembro que estava dirigindo e vinha um outro carro no meu encalço. Parecia que o motorista tava realmente querendo bater no meu carro propositalmente. Daí eu afastei pro outro lado, pra me livrar. O cara desse outro carro deve ter perdido o controle, porque ele capotou várias vezes e eu até vi um início de explosão, mas logo o meu Jeep, que tava muito rápido, começou a aquaplanar na pista molhada e bateu na entrada do túnel.

- Será que...? - Vitória divaga. 

- O que, vida? - Pergunta Ana. 

- Por um instante eu achei que Deco e Mike pudessem estar envolvidos nisso, afinal, eles estão soltos, né...

- É, Vi, não é difícil - diz Lucas. - Mas e depois, Aninha? 

- Depois da batida são só flashes... ambulâncias, luzes etc. - continua Ana. - Acabou que eu nem comprei seu suspiro e sua manteiga, né, Vi?

- Amor, não quero manteiga nenhuma, o que eu quero tá bem aqui na minha frente.

- Só espero que meu filho não nasça com cara de suspiro depois dessa.

Todos riem da brincadeira de Ana, mas logo o clima tenso volta a tomar conta do quarto quando o mesmo capitão da PF que resgatara as meninas naquele fatídico dia do sequestro, entra no recinto, acompanhado da delegada Helô.

- Com licença - diz ele, atraindo a atenção de todos, que logo olham para ele intrigados. - Precisamos falar com as senhoras Ana Clara e Vitória Caetano Falcão.

- Claro, capitão - diz Vitória. - Como tem passado?

- Poderia estar melhor, senhora.

- E a senhora, delegada?

- Digo o mesmo que ele, dona Vitória.

- Gente, o que tá acontecendo? Será que alguém pode começar a falar logo? - Pergunta Ana, impaciente.

- Senhora Ana, nós soubemos do que aconteceu com você e imediatamente olhamos as câmeras de segurança da avenida onde houve o acidente - diz o capitão. - O carro que estava atrás do seu tentava provocar uma batida, e estavam realmente seguindo-a. 

- Sabem quem estava lá? - Pergunta Ana, temerosa pela resposta.

- Aí que está - diz Helô. - O carro se despedaçou e ainda explodiu, mas os bombeiros conseguiram conter o fogo depois de um tempo. Retiraram de lá um corpo, que foi identificado como sendo de Maicon Túlio Dantas.

- Ele estava sozinho? - Pergunta Vitória.

- Senhora, acreditamos que André Martins provavelmente era a outra pessoa que estava do lado dele, afinal o sr. Túlio estava no banco do carona - responde a delegada. - Mas não foi encontrado nem sinal dele.

- O quê? - Pergunta Ana, atônita. 

- Isso mesmo, dra. Ana - confirma o capitão. - Acreditamos que o corpo do Martins foi carbonizado na explosão, mas a perícia está examinando tudo ainda para que se confirme essa hipótese.

- Meu Deus, eu tô chocado - diz Lucas, boquiaberto. 

Um silêncio se segue a tudo aquilo, e as meninas, de certa forma penalizadas pelo suposto destino trágico daqueles dois indivíduos, ignoravam totalmente o que acontecia numa casa bem afastada do centro de São Paulo.

- Seus imbecis! Saiam daqui já! - Esbraveja o homem, irritado. 

- Chefe, nós não tivemos culpa... Quer dizer...

- Já não mandei vocês sumirem daqui?

- Mas o senhor tá machucado, seu André, precisa de cuidados...

- FORA DAQUI AGORA! 

Os comparsas de Deco deixam a sala assustados, e ele pega da mão de um deles o pedaço velho de pano pra tentar ele mesmo limpar seus ferimentos, que, junto com as queimaduras, não eram poucos.

- Você se livrou agora, dra. Ana - diz ele, arrastando o pano pelo canto da boca, que também estava ensanguentado. - Mas não vai se livrar da próxima. Depois que acabar com você, vou pegar a Vitória e esse bebê, que era pra ser meu e dela, e vou sumir no mundo. O idiota do Mike morreu, mas isso não significa que vou desistir de me vingar e retomar de volta o que é meu. Jamais...



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