Capítulo 42

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No dia seguinte ao parto, Vitória e Alice tiveram alta. A bebê nascera com perfeita saúde, e agora poderia ir para casa junto de suas mães e de sua irmã. Dani passava o tempo quase que inteiro acariciando o rostinho da pequena, e dizia a todos orgulhosamente que aquela era sua irmãzinha, e que iria protegê-la e ser a melhor amiga dela. Ana estava tão feliz, que sentia que não seria possível aumentar mais sua felicidade. Saindo do hospital, ela ajudou a esposa e as filhas a entrarem no carro cuidadosamente, colocando as duas crianças em suas respectivas cadeirinhas e seguindo para o apartamento delas. Enquanto Ana Clara dirigia, um sorriso lindo dançando em seu rosto, Vitória, ao seu lado, não conseguia parar de olhar suas filhas, que dormiam placidamente no banco de trás. Dani segurava a mãozinha de Alice, e as duas ressonavam tranquilamente.

- Nós temos muita sorte, amor - diz Ana, sem tirar os olhos da estrada. - Nossas filhas são tão lindas e cheias de saúde. 

- Sim, vida - Vitória concorda. - Nossa família é a mais linda do mundo.

- Alice é a tua cópia - fala Ana. A bebê, assim como Vitória quando era pequena, tinha os poucos cabelos já loiros e os olhos de um azul-mar. - Parece que eu tô revendo aquela sua foto de criança que dona Isabel me mostrou outro dia.

- Mas tomara que puxe a tua personalidade - Vitória diz, segurando a mão livre da esposa, que estava no câmbio do carro. Ana sorri pra ela. - Quero que ela seja forte e corajosa assim como a mamãe Ninha.

As famílias Caetano e Falcão tinham voltado para acompanhar o nascimento de Alice, e agora ajudariam um pouco com os primeiros dias. Dentro de pouco tempo, Ana teve de voltar a trabalhar, mas, preocupada que era, ligava de hora em hora para saber de Vitória e das filhas, e, entre uma cirurgia e outra, sempre encontrava tempo para conversar um pouco com seus amores. Ela estava justamente a ponto de se preparar para outro procedimento, quando sua esposa ligou em FaceTime.

- Oi, amor - diz Ana, já sorrindo enormemente. Era assim toda vez que olhava Vitória, Dani e Alice. 

- Oi, mamãe - Vitória fala, baixinho, com uma sonolenta Alice em seu colo, que, ao ver a imagem de Ana, se agita um pouco no colo da cacheada. - Olha só quem queria te ver.

- Ahh nemm - Ana fala, abobalhada com a filha. - Como tu é linda, meu amor. Cadê minha bebê? Cadê? - A médica brincava com Alice e ela sorria, fazendo alguns sons como se tivesse gargalhando e querendo responder. Já se percebia que seria tão inteligente quanto suas mães. - E a Dani, amor?

- Foi pra aula de dança, vida - Vitória respondeu. - A Ju levou e vai buscar quando acabar.

- Tá bem. Tu tá se alimentando direito, né, Vitória?

- Claro que tô, Ana. Afinal, tenho que alimentar a bezerrinha que tu chama de filha - brinca Vitória, fazendo Ana rir. - Qual a cirurgia da vez?

- Outro tumor cerebral maligno - responde Ana, suspirando, cansada. - O paciente é jovem, tem cerca de 24 anos. Já tá quase que completamente afetado... 

- Ô, meu amor, tu vai conseguir. A gente tá aqui torcendo por ti, né, bebê? - Vitória balança a mãozinha da filha, e Ana sorri mais ainda. - Vai lá e faz a tua arte, Ninha.

- Brigada, amor. Espero mesmo que dê tudo certo. Cês vão ficar bem mesmo por aí?

- Vamos sim, coruja. Pode ir sossegada, a gente tá ótima.

Dito isso, elas se despedem e Ana segue para a sala de cirurgia, terminando de se escovar e colocando seu capote cirúrgico. Lá chegando, encontra Manu.

- Mas ela tá toda boba hoje, gente - a anestesista implica com a amiga ao vê-la sorrindo. - Deixa eu adivinhar, tava falando com a mulher e as filhas, acertei?

- Acertou, sua besta - Ana devolve a brincadeira. - Mas também, como que não fica boba?

- Realmente. Inclusive, parabéns de novo, Aninha - diz Manu. - Alice é tão linda.

- Brigada, amiga. Ela é mesmo, é meu amor todinho.

Ana tinha recebido, durante aqueles dias, muitas felicitações de seus amigos e colegas no hospital pelo nascimento de sua filha, e todos estavam bem abobalhados com a graça e a beleza da criança. Na verdade, desde que Dani tornara-se oficialmente filha dela e de Vitória, Ana mal tinha vontade de sair de perto delas por um segundo que fosse, e depois que Alice nasceu, se pudesse Ana Clara passaria o tempo inteiro com sua família. Ela adorava a sensação de chegar em casa depois de um dia cansativo e ser recebida com o carinho das três pessoas que mais amava, e que eram seu porto-seguro.

Do outro lado da cidade, no galpão escuro e mal iluminado, André Martins discutia com seus comparsas sobre finanças relacionadas ao seu contrabando, quando um deles chega com uma suposta informação importante.

- Chefe, a filha da sua noiva já nasceu - começa o homem, puxando um celular do bolso e mostrando a André uma foto da bebê tirada não se sabe como. - O nome dela é Alice Caetano Falcão. A doutorinha lá já voltou a trabalhar e elas seguem uma rotina padrão, conforme tenho observado.

- É mesmo? - Pergunta André, interessado. 

- Sim. Nenhuma alteração marcante nesses dias que passei prestando atenção nelas. O caso é que a casa delas está sempre cheia de visitas.

- Como sabe disso? Pelo que eu sei, elas moram na cobertura do prédio, não seria tão fácil assim ter acesso a essas visitas...

- Porque eu vejo muitos solicitando entrada no apartamento delas lá na portaria do prédio. O porteiro é um idiota, repete tudo que os outros dizem, então não foi muito difícil descobrir. 

- Que droga - resmunga André. - Mas não se preocupe, Max. Vamos pensar em algo mais... digamos, elaborado. Quando tiver alguma coisa sólida em mente eu o avisarei.

- Mas o senhor tem alguma ideia do que pretende fazer, chefe? 

- Vagamente, meu caro. Vagamente. 

- Devo alertá-lo que é um condomínio repleto de seguranças, seria muito complicado conseguir driblá-los. Sem contar que estaríamos à vista de qualquer um, o que é arriscado demais.

- Na hora certa a oportunidade perfeita vai aparecer. E, bem, você me conhece. Se há alguém no mundo que consegue aproveitar bem as oportunidades, esse alguém sou eu.

- Perfeitamente, senhor. 

- Volte lá e continue tomando todas as precauções possíveis para não ser visto ou reconhecido. De qualquer forma, para a polícia e para todos, eu estou morto - ele sorri sarcasticamente. - E mortos não podem cometer nenhum delito, não é? 

- Sim, senhor Martins - o rapaz concorda e se retira, deixando André voltar a pensar.

"Não está longe de recuperar o que é meu... Eles vão se arrepender amargamente de terem se metido comigo, de terem me tirado tudo que eu tinha. Isso não vai ficar assim..."

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