Capítulo 7

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- Quer dizer que você já me trocou rápido assim?

Vitória sente um arrepio percorrer sua espinha quando reconhece o dono daquela voz tão detestável. No entanto, toma coragem e se vira, puxando seu braço que era segurado com força.

- O que você quer comigo, André? - Pergunta, tentando manter a calma, embora estivesse prestes a ter um ataque de pânico.

- Não me teste, Vitória. Você ouviu muito bem o que perguntei.

- Não te interessa nada. Por que quer saber sobre a minha vida?

- Pelo óbvio. Você é minha noiva.

- Não sabia que além de ser idiota tu tinha problemas de interpretação. Nós terminamos, seu imbecil. Terminamos quando eu descobri sobre suas mentiras, lembra ou também tem amnésia? - Ela pergunta sarcasticamente.

- Você terminou. Eu não concordei com isso.

- Não importa. Suma da minha frente antes que eu grite pela segurança do prédio.

- Ah, você não faria isso - ele sorri como um maníaco. - A menos que queira que, hm, não sei, algo aconteça àquela garota. 

- Tu não teria coragem. Ana não tem nada a ver com isso, deixe ela em paz.

- Sua médica, Vitória? Realmente...

- Vou repetir: deixe a gente em paz. Eu e Ana não devemos nada a ninguém, muito menos a você. Se voltar aqui ou fizer algo contra ela, não respondo por mim.

- Pare de vê-la. É simples. Você volta comigo, esquece dela e nada acontecerá à sua preciosa médica.

- Não vou parar de vê-la! Nós estamos apaixonadas!

- O quê?!

A discussão ganhava ares violentos. A advogada temia o que seu ex psicopata poderia fazer contra Ana, que, mesmo a par da situação, provavelmente não tinha noção do quão perigoso André Martins poderia ser, especialmente quando estava furioso. 

Enquanto eles brigavam em frente à portaria, que tinha o porteiro muito ocupado assistindo a um jogo qualquer de futebol para prestar atenção no desenrolar das coisas, Júlia estranhava a demora de Vitória. A cacheada havia avisado à amiga, por mensagem, que estava chegando quando já saía da casa de Ana, já que não tinha levado sua cópia da chave e sabia que, se Júlia dormisse, ela com certeza passaria a noite inteira tocando a campainha do apartamento e não seria ouvida. Ju resolveu, então, descer e ver se Vitória estava perto de chegar ou se já estava lá embaixo com Ana, em algum lugar. Porém, o que encontrou a surpreendeu terrivelmente. Como André teve a pachorra de aparecer lá? Além de louco ele era afrontoso e muito.

- Seu Manuel, me ajude, por favor! - Ela cutuca o porteiro, que retira os fones de ouvido.

- O que houve, menina Júlia?

Ela não precisou falar nada. Os gritos de Vitória já eram suficientes.

Eles correram para fora, mas quando Deco percebeu que tentariam pegá-lo, correu a plena velocidade, entrando num carro preto que parecia o estar esperando. O porteiro quis pegar o próprio carro e ir atrás dele, mas, pela maneira como o outro saiu, dava para se deduzir que não seria alcançado tão cedo. Em choque, Vitória abraçou a amiga, que lhe levou para o elevador a amparando por todo o tempo. Ela chorava copiosamente, e Júlia sussurrava palavras de conforto, dizendo que tudo ia ficar bem. Sinceramente, não esperava que a noite fosse terminar daquele jeito. Nem a sua nem muito menos a de Vitória. Esperara ansiosamente pela volta da amiga, para perguntar como havia sido o encontro, e, durante todo o tempo em que a outra estivera ausente, Júlia bolou todas as piadinhas que faria com a advogada, já que tinha total certeza de que Ana a beijaria. Mas, naquele momento, sabia que a única coisa que poderia - e deveria - fazer era confortar a amiga. 

- Vi, fica calma, vamos chamar a polícia e procurá-lo. Não vou pra casa de mamãe amanhã, não tem nem como te deixar aqui assim.

- Ju, tu tem que ir. Eu não posso estragar sua viagem.

- Nada disso, Vi. Eu vou ficar aqui pra que você se sinta mais segura também.

- Não tenho medo por mim, Ju - ela ainda chorava. - Tenho medo por Ana. Ele viu a gente lá fora.

- O quê?

- Sim. Viu quando a gente estava se beijando e...

- Espera, rolou beijo? - Vitória assentiu corando levemente. - EU SABIA! Apesar daquela aparência tímida, Ana não tem cara mesmo de quem perde tempo.

- JÚLIA! 

- Tá bom, tá bom, amiga. Só saiba que eu estou feliz por você ter encontrado alguém que é bom o suficiente pra você. Ana parece estar apaixonada demais por ti.

- Nós acabamos de ter nosso primeiro encontro, calma aí.

- E daí? Amor não conhece o tempo, querida.

- Enfim... como eu dizia, ele viu tudo e ameaçou a Ana. Se acontecer algo com ela por minha causa eu não vou me perdoar nunca.

- Aquele babaca... Mal deu pra ver como era o carro, e com certeza não ganharíamos nada correndo atrás dele. Temos que pensar em alguma coisa.

- Sim, principalmente por causa da Ninha. 

Pela Ninha. Não, Vitória não ia deixar que nada acontecesse à mulher que salvara sua vida, nem que pra isso ela tivesse que perseguir o ex-noivo até os confins da Terra. 

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