Capítulo 17

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- Essa aqui é a Vitória, minha namorada - Ana fala, e todos da família a encaram em silêncio. Instantes que mais pareciam uma eternidade fizeram a médica falar de novo, apreensiva. - Gente, vocês não vão dizer nada?

Rafael, irmão mais velho de Ana, se aproxima das duas e as envolve em um abraço, surpreendendo-as.

- Seja bem-vinda à família, Vitória! Eu sou Rafael, o irmão mais velho da Aninha - Ele as solta, segurando as mãos de Ana. - Minha irmã, espero que vocês sejam muito felizes! 

- E eu sou Luana, a irmã mais bonita da Ana - ela diz, fazendo todos rirem. Mas na verdade era a cópia de Ana Clara, e Vitória a achou super simpática, abraçando-a. - Dessa vez parece que tu acertou, hein - Ela corre pros braços de Ana, que ri também. 

- Mais bonita só se for - responde Ana, emburrada. 

- Mas já vai começar a implicância, meu Deus - diz Éryka, outra irmã de Ana, olhando para cima como se pedisse paciência e indo cumprimentar o casal. - Prazer em te conhecer, Vitória. Sou Éryka, irmã mais velha da Ana. 

Os outros cumprimentos e apresentações se seguem, e até mesmo seu Edimilson abençoa o relacionamento, elogiando Vitória e desejando felicidades às duas moças. Mas dona Mônica permanecia em silêncio.

- Mamãe, tu ainda não falou nada - Ana se aproxima dela, se sentando ao seu lado.

- Filha... Eu nem sei o que dizer, me desculpe. Tu me pegou de surpresa, mas não foi de um jeito ruim. Tô feliz que tu tenha encontrado alguém depois de tudo que passou com aquele tal Mike. E parece ter feito uma bela escolha - ela olha para Vitória sorrindo e se levanta para abraçá-la. - Cuida da minha menina, Vitória. Ela se faz de forte mas por dentro é extremamente sensível. Por favor, não magoe ela - dona Mônica sussurra no ouvido de Vitória enquanto a abraçava. Ana assistia a cena sorrindo, com lágrimas brilhando em seus olhos. 

- Eu não vou, dona Mônica. Tudo que eu mais quero nessa vida é fazer a Ninha muito feliz. Prometo que vou cuidar dela. Sempre. 

- Não sabe o quanto eu fico aliviada em ouvir isso - diz dona Mônica, acariciando o rosto de Vitória e limpando as próprias lágrimas com as costas da mão livre. - Venham, vamos jantar.

Durante o jantar elas contam como se conheceram, e a família de Ana fica penalizada pela situação toda que Vitória tivera de enfrentar, além de preocupada, e recomenda às duas que tenham bastante cuidado, oferecendo seu suporte para o que quer que fosse. 

Já um pouco tarde, Ana vai levar Vitória em casa, e elas se despedem sorrindo felizes por tudo ter dado certo. Realmente não esperavam que a família de Ana Clara fosse aceitar o relacionamento tão facilmente, mas se surpreenderam de uma maneira muito positiva. Ao entrar em casa, Vitória logo é recebida por sua irmã mais nova, Ana Beatriz, que pergunta onde ela esteve. 

- Tinha ido encontrar uns amigos num barzinho, Aninha - Vitória mente. No dia seguinte contaria sobre o relacionamento e finalmente apresentaria Ana, mas aquele ainda não era o momento. E ele parecia estar se encaminhando para chegar bem rápido. Naquele outro dia, as meninas não saíram juntas, decidindo dedicar tempo às suas respectivas famílias. À noite, Vitória pega o carro de Sabra emprestado e sai para buscar Ana. Ao chegarem na casa dos Falcão, eles já se preparavam para jantar.

- Oxe, Vitória, vai ficar parada aí? - Pergunta sua mãe. - Entre logo e se sente, mande sua amiga escolher um lugar também. 

Elas se olham cúmplices e cada uma vai para um lugar à mesa. Antes de começarem a comer, porém, Vitória chama a atenção deles, que esperavam que ela apresentasse a moça sentada a seu lado. 

- Gente, então... Eu tinha comentado com mamãe sobre o que houve entre mim e André - ela começa.

- Mar a vontade que eu tive de esganar aquele idiota não foi pouca - diz Sabra. - Tu perdeu a noção, Vitória? O cara tentou te matar e tu não contou pra gente.

- Tatinha, vovó tava doente, eu não podia trazer mais essa preocupação pra cá...

- Tá bem, bebê. A gente entende. Pelo menos tu tá bem agora - diz a irmã, mais calma.

- Como ia dizendo, não existe mais André e eu. Naquela noite do incidente, uma pessoa me salvou - ela coloca a mão sobre a de Ana e lhe sorri. - E é essa aqui. Gente, essa é a dra. Ana Clara Caetano, a neurocirurgiã que me operou aquele dia e me salvou. E agora também é o amor da minha vida.

Como acontecera na casa de Ana, inicialmente todos silenciaram e tentavam compreender, assimilar aquela enxurrada de informações em tão curto espaço de tempo. As duas estavam tensas, assim como na primeira vez que tiveram de contar.

- Vocês estão namorando, minha filha? - Pergunta dona Isabel, com feições sérias. 

- Sim, mamãe. Nós estamos. 

Diferentemente de dona Mônica, dona Isabel não demorou muito a falar. 

- Dra. Ana, queria primeiramente te agradecer por ter salvado a minha filha. Vou te ser grata pra sempre - a mãe de Vitória fala. - Quero te pedir só o que qualquer mãe pediria: que cuide dela.

- Dona Isabel, não precisa agradecer. Só fiz o meu trabalho - Ana lhe sorri. - E Vitória me salva todos os dias com a presença dela. Prometo pra senhora, assim como ela prometeu para a minha mãe, que vou cuidar dela com a minha vida. Sempre. 

As irmãs de Vitória aproveitam para dar as boas-vindas à Ana e conhecê-la um pouco mais, e acabam convidando-a para ir no dia seguinte à cachoeira, que fazia tempo queriam conhecer. Já que ela já tinha planos de levar Vitória lá, aceitou de imediato. O jantar também estava sendo extremamente agradável, e a médica, depois de contar que também era de Araguaína e falar sobre sua própria família, prometera à dona Isabel que levaria seus pais para conhecê-la. Ao fim da noite, estavam completamente aliviadas por tudo ter corrido tão bem, e Vitória vai levar Ana em casa. A advogada para o carro quando chegam, mas Ana Clara ainda não desce.

- Foi tão lindo ver que eles aceitaram bem nosso relacionamento, né, Vi? - Fala Ana, segurando a mão de Vitória. 

- Ai, amor, nem me fale. Eu tava com tanto medo da reação de mamãe... - ela desabafa. - Nunca pensei que ela fosse encarar tudo assim, tão bem.

- E eu... Minha mãe sempre condenou esse tipo de coisa, eu tinha certeza que ela ia me matar quando soubesse. Ainda bem que me surpreendi positivamente.

- Sim, vida. Ainda bem que tudo tá dando certo pra nós. 

Vitória se aproxima dela para um beijo, que deveria ser rápido, e logo toma proporções maiores. Ana pula para o banco dela, subindo em seu colo, e desce os beijos para seu pescoço.

- Amor... - diz Vitória, entre beijos, mas Ana não parecia se importar nem um pouco. - Amor, é sério. Para.

- Parar por que, Vi? Eu tô com saudade, poxa. 

- A gente vai ter todo o tempo do mundo pra matar essa saudade quando voltarmos pra Sampa. Mas tamo na frente da casa dos teus pais, Ninha.

- Tudo bem, tu tem razão - Ana sai de cima dela, voltando ao banco do carona. - Mas eu vou cobrar, hein? 

- Nem vai precisar. Eu vou pagar adiantado e talvez até acrescente algo... - Vitória diz, sorrindo maliciosamente. 

- Melhor eu ir logo antes que nenhuma de nós duas saia mais desse carro - fala Ana, rindo. - Boa noite, amor. Te amo.

- Boa noite, vida. Amanhã bem cedo a gente passa te buscar, tá? Te amo também - Vitória lhe dá um selinho.

- Vou estar esperando. 

Elas se despedem e Ana acena enquanto o carro parte pela rua, sumindo na esquina. Entra em casa sorrindo como uma adolescente apaixonada, para a diversão de Luana, que implicava com ela e ria do estado abobalhado da irmã. Nunca ninguém havia visto Ana daquele jeito. A médica dá um beijo de boa noite em todos e sobe para seu quarto, porém, ao deitar em sua cama, sente imediatamente falta da juba loira com cheiro da camomila que acariciava seu rosto todas as noites, e tenta dormir mais rápido, para que o dia seguinte logo chegasse e ela pudesse estar, uma vez mais, nos braços do seu amor. 


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