Capítulo 9

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Maio, 1843
Recital Smythe Smith

Charlotte amava recitais e tudo que envolvia música. Não porque ela fosse uma ótima musicista, porque realmente estava longe disso.

Amava o som de cada instrumento e em como cada um se tornava algo tão harmonioso e bonito quando juntos. Porém, era o Recital Smythe Smith, e ela já havia frequentado para saber que aquilo estava longe de ser aquelas duas coisas.

Estava aguardando silenciosamente no saguão com alguns convidados quando Lily a abordou.

- Estou animada.

Charlotte olhou para a pobre debutante que também fora e sorriu amigavelmente.

- Eu diria para que você não crie muitas expectativas de que os boatos são exagerados demais.

Lily a olhou apreensiva e Lottie deu de ombros. Afastaram-se da multidão e seguiram até as cadeiras dispostas para a apresentação do quarteto. Charlotte sentia como se estivesse caminhando para uma sessão de tortura.

Caspian estava curioso e um pouco ansioso para esse concerto, afinal, amava música. Sua tia tinha pedido para que ele tocasse o piano da mansão para ela umas cinco vezes e fazia com prazer.

Chegou um pouco em cima da hora após uma reunião no parlamento e avistou sua prima sentada ao lado dela.

Desde a última vez que se viram, Caspian não tirava Charlotte da cabeça e ainda não entendia aonde queria chegar, mas queria estar perto. Sentia que a resposta estava em Charlotte e ele gostaria de descobrir.

- Boa noite, senhoritas.

Cumprimentou e sentou ao lado de Charlotte. Mais uma vez sentiu o cheiro do seu perfume, parecia atraí-lo para mais perto dela.

- Soube que esse recital é o mais famoso de Londres.

Comentou após um tempo, na verdade, queria chamar a atenção dela para si pois depois que ele chegou o máximo que ganhou de Charlotte foi um "boa noite."

Charlotte apertou os lábios em protesto a proximidade de Caspian. Lily havia saído de seu lado há pouco e não havia voltado.

- Bem, o mais famoso com toda certeza - ela se vira, tentando esconder uma risada - Mas logo verá que certamente não é o mais agradável.

Charlotte o analisa, estava lindo como sempre. Seus olhos escuros, o cabelo castanho perfeitamente arrumado.

Suspirou e virou-se para frente, concentrou-se em manter seus olhos longe dele até o final do recital.

Caspian se assustou ao vê-la colocar algodões nos ouvidos. Seria tão ruim assim?

Se concentrou no palco a sua frente onde havia mulheres com os instrumentos. De início não estava achando ruim, mas depois de uma nota mal executada, franziu a testa estranhando. Aquilo era bem ruim. Estreitou os olhos e percebeu vários erros de postura, comunicação e ritmo musical.

- Agora entendi. - Murmurou para si mesmo, mas viu Charlotte tirar os algodões e rir da cara que ele estava fazendo. - Oras, vejamos, elas só precisam de uma ajudinha. Se não tivesse tanto trabalho, não me negaria a ajudá-las no piano.

Comentou baixinho para Charlotte que agora o encarava com interesse.

- Bem, eu não posso culpá-las ou julgar. Se acaso eu fizesse alguma apresentação musical, soaria exatamente assim - ela inclinou a cabeça ao ouvir um acorde extremamente desafinado - Ou nem tão pior.

Seus olhos agora estavam presos ao dele. Ela estava curiosa pela maneira que Caspian falava com propriedade sobre música.

- Oh, o Senhor toca... - ela sussurra, balançando a cabeça e estreitando os olhos para ele - Jamais poderia imaginar isso.

Charlotte ignorava totalmente os acordes mal executados do quarteto enquanto o olhava curiosa.

- Não tenho cara de musicista?

Ela balançou a cabeça dizendo que não e ele sorriu.

- Estou chateado, senhorita - Brincou. - Mas, sim. Eu adoro a música e toco desde meus treze anos. O piano é meu favorito.

- Não estou questionando o seu dom, acho que apenas tenho uma idéia romântica e sentimental de músicos.

Charlotte morde os lábios apreensiva, estava curiosa.

- Adoraria vê-lo tocar um dia - ela comenta, pensativa - Imagino que seja melhor do que isso.

Ela brinca, indicando o desastre que acontecia a frente.

Ele soltou uma risada um pouco alta atraindo olhares, mas logo se recompôs. Se sua mãe o visse tão solto perto de alguém, ela certamente perguntaria a pessoa qual seu poder. Seu filho nunca foi social e muito menos ria a vontade no meio de pessoas.

- Quando aparecer novamente na casa Clarke, tocarei com prazer para a senhorita.

Charlotte deixa escapar uma risada abafada com a visão de Caspian rindo de maneira tão espontânea.

Ela sente seu coração dar um pulo, ele ficava ainda mais bonito assim sem aquele olhar distante e o rosto sério de sempre.

- Sabe que irei te atormentar todos os dias a partir de agora, não sabe? - ela lhe lança o olhar mais desafiador que conseguia fazer, o fitando seriamente - E eu posso ser bem irritante quando eu quero.

- Oh, eu sei disso. - Sorriu ao ver a cara de indignação dela. - Já vi o tanto que pode ser.

Brincou e olhou nos olhos dela, percebeu que poderia ficar um bom tempo perdido ali. A beleza dela era única e diferente das londrinas, pele morena, olhos claros...

- Está belíssima, senhorita.

Sua voz saiu baixa e pôde ver o rosto dela ruborizar.

Charlotte não desvia o olhar dele. Seu olhar cai para os lábios dele e ela relembra o beijo. Ela se empertiga em seu assento, olhando para frente e sentindo seu rosto queimar.

- Agradeço, Senhor.

Ela iria responder algo sobre ela ser irritante apenas com ele porque ele a irritava, mas se deteve.

- Estou sempre visitando Lily de qualquer forma - ela fala, querendo mudar de assunto.

- Sim, você vive na casa Clarke.

Provoca e sorri de lado quando avista de longe sua tia e sua prima, ambos percebendo que haviam conversado e ignorado o Recital.

- Bem, estarei me retirando antes que minha tia vá embora sozinha.

Segura a mão enluvada de Charlotte e deixa um beijo.

- Até a próxima, Lottie.

A chamou pelo apelido que sua prima e tia a chamavam e a viu abrir a boca um pouco surpresa.

Levantou-se e acompanhou sua família para fora do local. Nunca tinha sido tão informal com uma dama, mas com Charlotte ele se sentia como se estivesse em casa.

Charlotte apenas o observou se afastar, desejando apagar os toques e palavras de Caspian.

Estava fugindo totalmente de seu plano... Ela estava fugindo totalmente do que pensara e ele era o principal culpado.

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