maratona 2/3
MALU
- Tu quer fazer esse bagulho, mermo? - segurou meu braço
- Não, mas eu preciso. - encarei o Coroa que estava um pouco mais acima parado me olhando
- Jae, vê se tu não fica com teus deboche pro cara. - olhei pra ele com tédio - Tô falando disso mermo, o cara tá nem aí pra tu. Mete bala mermo.
- Para, Victor - me benzi - Eu sou vou esclarecer os fatos.
Ele concordou e voltou a andar comigo, era um percurso de mais ou menos 10 metros, mas tava parecendo uma eternidade.
- Qual foi, Coroa. - cumprimentou o velho
- É segurança da garota, é? - falou serinho mas depois deu uma risadinha - Qual foi de tu? Manda o papo.
Percebi que Victor ia falar alguma coisa, então me adiantei logo.
- Eu vim por que vi um vapor teu rondando minha casa. - tentei manter a calma - Seja lá o que tu acha que eu sou, não sou.
Ele me olhou de cima a baixo e ficou me encarando por uns segundos.
- O lero vai ser lá dentro, bora entrar. - virou as costas e saiu andando
Olhei nervosa pro Victor e ele só concordou me incentivando a ir.
- Senta aí. - neguei abraçando meu corpo - Vai crescer mais não, garota.
Continuei em pé olhando séria pra ele, que por incrível que pareça estava com uma feição melhor do que a última vez.
- Como eu estava dizendo, eu não sou X9 e nem nada que tenha correlação com esse termo. - ele me olhou com uma cara estranha
- Que porra é essa? - os dois perguntaram
- Gente, é sério? - ri e eles concordaram - Algo parecido, tipo isso.
- Tô na intenção contigo por causa disso não. - gesticulou com as mãos - A parada é que eu descobri um negócio e fiquei investigando esses tempo.
- Que negócio? Seja lá o que você descobriu, se tem haver com o tráfico, não é sobre mim. - olhei rapidamente pro Victor que estava prestando atenção em tudo.
- Tu tá muito noiada com bagulho de tráfico, relaxa aí carai. - concordei - É o seguinte, tu nasceu quando?
Que isso agora? Entrevista de emprego e eu não tô sabendo?
- Pra que você quer saber? Eu vim esclarecer fatos e não falar sobre a minha vida.
Arregalei os olhos depois de perceber o meu tom de deboche e senti Victor me dar um toquinho.
- Responde, caralho. - disse grosso - Vem com teus deboche não parceira, tá achando que é quem pra falar assim comigo? Tu tá dentro da minha favela.
- Novembro de noventa e nove.
- Como é o nome da tua mãe? - olhei impaciente pra ele - Tô brincando contigo não, fala o nome.
Mas que caralhos esse homem quer comigo? Olhei pro Victor e juro que não sabia o que ele estava pensando, estava nervosa demais pra focar nisso.
- É Daniela. - falei baixo - Olhei seja lá o que for, deixa minha mãe fora disso. Por favor.
Nessa hora eu senti ele me olhar com pena. Fiquei esperando longos segundos até ele resolver falar alguma coisa.
- De fora ela vai ficar de todo jeito. - o olhei sem entender - Melhor tu sentar.
Ia negar mas Victor me deu um puxão no braço que foi impossível recuar. Olhei pra ele estressada e o mesmo só alisou o local.
- Você poderia falar tudo de vez? E por que disse isso da minha mãe? Tu sabe que é ela? - disparei
- Calma, carai. Parece papagaio essa porra. - negou - O negócio é o seguinte, sou teu pai. Tenho paciência pra ficar enrolando com esses bagulho não.
Olhei pra ele me segurando pra não dar risada. Meu pai? Agora foi que deu.
- Pai? - soltei um riso frouxo - Que caô é esse?
- Pega a visão parceira, tô mandando a real.
- Coe, Coroa. Que porra é essa? Meteu essa mermo - Victor se manifestou e o homem o encarou mais sério do que antes fazendo ele ficar quietinho
Fiquei com vontade de ri do meu bebê mas agora não é o momento.
- Por que tu tá falando isso? - encarei o homem
Encarei ele e sabe quando você vê nos olhos de uma pessoa que ela tá na pureza contigo? Foi isso que eu senti, só não queria acreditar em suas palavras.
Minha vida já era bagunçada o bastante pra ele vim com essa agora.
- Papo claro, contigo. Sou teu pai, descobri depois que tu caiu dura no chão no meu baile. - acendeu um baseado - Fiquei desconfiado e puxei teu fundamento.
- Eu não entendo, minha mãe nunca me falou nada sobre. - disse pensativa
- Tua mãe é uma ingrata. - tragou e soltou a fumaça - Papo reto, sorte dela que não vai se bater comigo. Ela tava fudida.
- Como assim?
- Daniela morreu. - disse na maior tranquilidade - Tentei entrar em contato com ela e os cara de lá passaram a visão.
Agora foi que deu. Olhei pro Victor nervosa querendo chorar, como assim minha mãe morta?
- Olha moço, não sei o que tu sabe sobre a minha pessoa, mas acho que deve estar havendo algum equívoco. - eu não queria acreditar em suas palavras
Victor apertou a minha coxa levemente e enquanto eu tentava processar toda aquela informação.
Um outro pai e uma mãe morta. Que porra que tava acontecendo com a minha vida?
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OUTRA DIMENSÃO • MC CABELINHO
RomanceMC Cabelinho | "Não esperava que nossos caminhos iam se cruzar logo na nossa favela." Autoral Plágio é crime.