OUTRA DIMENSÃO • MC CABELINHO

é um sinal?

MALU

- Você e sua mãe são duas ingratas. - gritou - Você devia me agradecer por ter aceitado te criar.

- Aceitar me criar? Você fala como se não fosse sua obrigação - indaguei - É seu papel de pai.

- Papel de pai? Eu não sou teu pai, garota.

- Piada hora dessa? Eu sei que a gente não se dá muito bem mas é muito esculacho tu falar isso. - ri desacreditada

- Eu não estou brincando, Maria Luiza. - me encarou mais sério que antes - Conheci tua mãe grávida de 3 meses, te assumi como filha pra depois tua mãe voltar pra vidinha que ela tanto gostava, aí eu vi a merda que tava me metendo. Meu nome tá na tua certidão mas teu pai é outro, um favelado aí.

Acordei assustada, tava suada pra cacete e ofegante. Que porra de sonho foi esse?

- Meu Deus, que angústia - passei a mão no peito

Olhei pro lado e Vanessa tava babando, resolvi não acordar ela só pra contar isso. Eu sei que as vezes nossos sonhos não querem dizer nada mas esse, especificamente, eu achei estranho demais.

Nunca sonhei com nada do tipo e isso me fez indagar ainda mais sobre. Por que eu sonhei isso? Pensei que poderia ser algum tipo de sinal mas acho que deve ser preocupação mesmo já que não conversei nada com meu pai sobre o pedido de casamento.

Fiquei rolando na cama na esperança de dormir de novo, o que foi falho. Olhei no relógio e marcava 5h30 da manhã, bufei irritada e fiquei mexendo no celular.

- Não sabia que tu era galinha - falou me assustando - Caiu da cama, filha?

- Tá maluca, cara. Susto da porra - empurrei ela - Tive um sonho muito estranho, aí não consegui dormir mais.

Olhei pra ela demonstrando preocupação e a mesma só balançou a cabeça como se estivesse pedindo pra eu continuar.

- Tu acredita que eu sonhei com meu pai falando que não é meu pai? Dizendo que quando se envolveu com minha mãe ela já estava grávida e ele resolveu assumir mas depois ela voltou pro meu pai biológico
- bufei - Um b.o da porra, fiquei muito angustiada. Tu acha que é um sinal?

Comecei a chorar, aquele sonho realmente mexeu comigo. E eu odiava me sentir assim, não sabia explicar a sensação só sei que era ruim.

- Oh amiga. - me abraçou - Foi só um pesadelo, relaxa. Sei que tu é a noiada dos sinais mas vai ver que não é nada.

- Pensei a mesma coisa, mas e se for? Se eu perguntar pra ele será que consigo descobrir alguma coisa?

- Não sei - disse pensativa - Mas tenta, seu Jorge é um porre mas as vezes tá mais sociável.

- Vou tentar.

Ficamos na cama enrolando mais um pouco até decidirmos tomar café, como meu pai sai cedo pro trabalho, só tinha eu e a Vanessa em casa.

- Amiga, vai ter outro show no PPG tu viu? - concordou mordendo seu pão - Não sei porque mas algo me diz que eu devia ir.

- Algo ou alguém? - riu - Pelo que vi é o Cabelinho que vai tocar lá.

- Não viaja, cara. Tô falando sério.

- Desculpa aí - levantou as mãos em redenção - Tu quiser a gente vai, não nego fogo pra nada. Agora tu vai dormir lá em casa, teu pai embaça muito.

- Pronto, fechou.

...

Vanessa já tinha ido embora porque tinha uma entrevista de emprego. Tava na sala esperando meu pai chegar pra tentar conversar com ele, espero que tudo conspire ao meu favor.

Desviei minha atenção da TV quando ouvi a porta ser aberta, é agora ou nunca.

- Boa noite, Maria Luiza. - colocou suas coisas na mesa

- Boa, pai. A gente pode conversar? - bufou concordando - Como você e minha mãe se conheceram?

- Na praia, por que?

- Hum, nada. E quando vocês descobriam que iam ser pais? Como foi? - não sabia nem pra onde ir com essa conversa

- Maria Luiza, o que é isso? - me olhou desconfiado - Umas perguntas estranhas do nada.

- É que quando minha mãe me contou, eu era muito pequena. Não consigo lembrar tudo. - tentei enrolar ele que pareceu acreditar

- Sei. Tua mãe só me contou que tava grávida. - disse simples e saiu da sala

Já vi que não iria passar disso e que provavelmente eu to quebrando cabeça com algo sem fundamentos. Acho que se fosse pra eu saber de algo, uma hora eu ia saber.