Memória

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Ikisaki - Capítulo 26

Memória

"A memória é o perfume da alma".

- George Sand

Sesshoumaru se sentiu ainda mais confuso, do que essa mulher falava? Porém sentiu o acalento que lhe cercava toda vez quando se dirigia a Tsukiyomi, o Dai-Youkai teve a certeza de que era ela mesma, sua senhora! Todavia ele não teve tempo de dizer mais nada, da mesma forma que viera, se fora e ele ficou ali, sentado sem saber ao certo sobre o que pensar desse assunto.

XXX

Sentou-se abruptamente quando despertou, o coração disparado parecia que sairia por sua garganta, as mãos trêmulas não paravam quietas. Aquilo ainda era difícil para ela, reviver aquelas lembranças indesejáveis, mesmo que houvessem acontecido há muito, muito tempo. A luz da lua invadia sua varanda de forma usurpadora, era engraçado a forma que uma invadia o domínio da outra, mesmo sem querer, porque cada uma tinha sua designação no espaço-tempo. Amaterasu levou a mão até os cabelos o retirando da frente do rosto e o prendendo atrás da orelha. O coração ainda parecia que iria saltar de seu peito e ela tentava a todo custo acalmá-lo, com a mão acima dele enquanto suspirava levemente.

A fusuma da varanda foi arrastada suavemente, e por ela entrou Takeo. O olhar dele para ela era tão doloroso, amargurado, quanto o dela, e havia aquele medo que sempre surgia quando ela acordava por algum pesadelo, principalmente aquele. O Omikami se aproximou e se sentou ao lado dela, passando o braço por seus ombros, gentilmente ele a puxou para si e ela apoiou a cabeça no ombro dele. Havia gritado novamente supunha, porque Takeo só vinha quando ela gritava.

— Não precisa mais se preocupar com isso... — ele disse docemente contra o cabelo dela, enquanto lhe acariciava o braço, tentava de alguma forma lhe dar algum aconchego e segurança — Já faz muito tempo, talvez ele nem seja mais dessa maneira.

— Kusanagi não me foi dada a toa, — ela comentou de olhos fechados sentindo as caricias de Takeo, respirando aos poucos após a ansiedade lhe abandonar — foi em busca de perdão que ele me deu, porém as lembranças... — ela balançou a cabeça, como se pudesse esquecer aquilo — Elas surgem quando menos se espera.

Takeo assentiu e acalentou sua senhora, ele sabia o quão debilitada ela ficava com aquelas memórias. Terríveis e sangrentas memórias...

***

Estava cuidando das plantações de arroz como de costume, cuidava para que a produção fosse perfeita, era conhecida por seu bom trabalho no cultivo, além de ter mandado suas criadas começarem a produção de novas vestes para os deuses, para que ela pudesse finalizar ela mesma os bordados. Haviam kimonos, hakamas, haoris, shitajis e obis, de várias cores, tamanhos e formas.

Enquanto caminhava pelos campos, um som alto como o brado de um trovão ecoou pelos céus e um forte vento preencheu o ambiente, conhecendo muito bem aquela reação da natureza, quase como um aviso, Amaterasu assumiu uma postura de combate para receber o possível invasor, descobrindo ser seu imprevisível irmão mais novo, Susanoo.

A deusa do Sol se vestiu com sua linda armadura, que passava um ar de temível, mas ao mesmo tempo esplendorosa. Prendeu os longos cabelos e os enfeitou com jóias, usava também seu bracelete de quinhentas pedras preciosas de Yasaka. Sua aljava de mil flechas estava presa a seu ombro direito e em seu ombro esquerdo estava a de quinhentas lanças, e cuidou de proteger os braços com finas e suaves almofadas de couro para que abrandassem o impacto das cordas do arco, para que não machucassem sua pele.

Amaterasu empunhava também duas esplendorosas espadas em ambas as mãos, os cabos eram cravejados de pedras preciosas que reluziam contrastando com os raios lampejantes do Sol. Em conjunto, "Deusa e Armadura", fizeram chover o resplendor no Palácio dos Céus em flores de raios solares como a própria Deusa do Sol. Porém nada daquela preparação lhe valeu, Susanoo não veio para enfrentá-la e sim para lhe pedir desculpas por seu imprudente comportamento, viera em busca de redenção. Era costume dos deuses estarem preparados para eventuais embates, e eles possuíam suas próprias vestes e jóias para tal. Recebê-los dessa forma, deixava claro de que estava preparada para qualquer eventualidade.

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