Ikisaki

Hakushin

Ikisaki - Capítulo 35

Hakushin

"Eu queria ter uma morte admirável como um santo, mas não era para ser... Não queria admitir minha própria fraqueza. Então eu chorei em desespero, pela fraqueza do meu próprio coração".

"Todos os homens, tanto do bem quanto do mal, são dignos de salvação."

- Hakushin.

— Esse é o Monge Hakushin — Kikyou os apresentou, olhando o corpo mumificado — Mas ele não estava nesse altar da última vez que vim... O templo é em homenagem a ele, mas seu corpo ficava em outro lugar...

E enquanto os apresentava ao Buda vivo, algo aconteceu, olhos amarelos foram visíveis, assustando assim os três presentes.

XXX

O silêncio reinou entre os três quando o par de olhos amarelos os esquadrinharam, analisando todo e qualquer movimento. O corpo mumificado continuou imovel e era estranho aquele olhar sobre eles, era quase como se a morte os olhasse de perto, saudando-os com aqueles olhos vidrados e sem brilho. Kikyou dá um passo à frente, e se aproxima do mesmo, de forma segura e mostrando suas reais intenções.

— Monge Hakushin — ela fez uma reverência para o mesmo em respeito, o olhando quando se aprumou. Independente se ajudava Naraku ou não, ele ainda era alguém digno de orgulho — Preciso da sua ajuda, tenho um humilde pedido a fazer... — a mulher se afastou um pouco quando percebeu o olhar dele mudar, parecia levemente raivoso e ofendido.

— Quem não tem um pedido a me fazer? — ele questionou com a voz fraca e rouca, se sentindo incomodado com a situação, mesmo após todos aqueles anos, ainda vinham até ele lhe fazer pedidos — Vocês vem até mim, atrapalhando meu descanso com simples desejos, como todos os outros antes de vocês — às mãos ossudas apertaram levemente o rosário, e os amarelos sumiram novamente quando os fechou — Vou lhes contar uma história, um pouco gozada e triste... De um passado distante.

"Eu era um sacerdote de alto nível, muito respeitado, que usava meus poderes para ajudar a salvar os humanos que viviam ao redor do Monte Hakurei e nas proximidades. Eu era reverenciado pelo povo, quase um deus na terra de tão adorado que os próprios moradores decidiram erguer este templo em minha homenagem — os olhos amarelos se fizeram presente novamente, enquanto o mesmo olhava ao redor, relembrando um passado bem distante, mas que parecia dançar diante de seus olhos — Criminosos, pessoas desiludidas com a vida e o que mais eles achassem necessário, vinham até mim em busca de perdão para suas almas errantes."

"No entanto, anos de fome e doenças se estenderam por aquelas terras e eu, eventualmente, acabei adoecendo enquanto cuidava dos pobres moribundos — um sorriso de escárnio se fez presente em seus lábios — As pessoas passaram a se preocupar quando adoeci, afinal, quem viria ao seu auxílio quando eu morresse? Foi então que eu decidi, sacrificar-me por meu povo para salvá-los daquela peste, um sentimento muito nobre, que me tornaria um Buda vivo, e eu estava convicto disso e aceitava o fardo também."

"Então a tumba subterrânea começou a ser preparada num lugar afastado, enquanto eu ainda tinha forças para falar, havia um pequeno sino e um cano de ar que permitia apenas o ar de adentrar, uma vez que meu sacrifício seria abstenção de água e comida — o monge fechou os olhos e os outros três prestavam atenção em suas palavras — E assim foi feito e eu fui enterrado em posição de lótus, velas estavam queimando ao meu redor para secar meu corpo mais rápido e eu meditava constantemente, enquanto ouvia as orações das pessoas do lado de fora, desejando minha morte, e fazendo oferendas para que ela viesse rápida."