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Coringa on

Eu quero saber quem esse merdinha do meu companheiro de cela matou. Não vou conseguir dormir direito até saber.

Coringa: por que isso ? - encaro o cachorro.

Dacruz: acharam crack ontem no refeitório. Querem saber quem tá distribuindo.

Coringa: essas revistas acontecem com frequência?

Dacruz: desde que a nova diretoria assumiu aconteceu duas vezes. A primeira quando ela assumiu e a outra agora.

Coringa: hmm...- observo o agente penitenciário revirar o meu lado da cela - cê vai arrumar isso depois ? Tinha acabado de forrar a cama, sacanagem  toda essa bagunça. Tenho cara de traficante? Por favor não responda.

X: cala boca filha da puta.

Dacruz: eu até apostaria que em menos de um mês você vai levar uma surra de algum agente, mas ou pobre demais.

Coringa: palhaçada. Vou é virar amigos deles.- encaro o agente saindo da nossa cela- né cara.

X: vai a merda - ele sai andando com o cachorro.

Coringa: ele tá se fazendo de difícil.

Dacruz: qual o seu problema?

Coringa: gosto de levar os outros ao limite. É prazeroso ver os outros perdendo o controle.

Dacruz: o que você acha que vai acontecer quando você fizer um carcereiro perder o controle ? Isso não é a tua quebrada não, nenhum deles te respeitar aqui. Você não é dono de nada aqui dentro. É só mais um marginal.

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As pessoas que convivem comigo tendem a garantir que eu sou muito chato e irritante.

Coringa: por que ?- a diretora que estava observando os outros presos direciona o olhar pra mim.

Babi: o que ?

Coringa: por que ser diretora de um lugar cheio de homens ?

Babi: desculpa, acho que perdi a parte onde viramos confidentes um do outro ?

Pego um cigarro e acendo. Pelo menos o cigarro essa mulher não proibiu.

Coringa: sei lá, me parece burrice. Coisa de gente idiota.

Babi: pra mim burrice é você achar que tem alguma moral pra falar sobre a minha vida profissional.

Coringa: ui, tá estressada. Quer um cigarro ?

Babi: eu não fumo. E para de agir como se eu fosse um dos seus colegas criminosos.

Coringa: fuma sim. Um não fumante teria torcido o nariz pro cheiro do cigarro ou até mesmo estaria tossindo. E para de ser nariz empinado, tô tentando criar uma amizade aqui.

Babi: deixa eu adivinhar. Você saiu da máxima veio pra um lugar onde a segurança é menos rigorosa e acha que pode me usar de alguma forma pra conseguir sair daqui.- ela pega o cigarro da minha não e joga no chão pisando em cima- não fuma perto de mim, vou ficar fedendo.

Coringa: ué ? Cadê a diretora legal que disseram que tem aqui ? Meu cigarro tava nem na metade, docinho.

Babi: eu sou legal. Você vai receber sua primeira visita desde que foi preso. Devia me agradecer.

Coringa: visita ? Que visita ?- ela me ignora e vira as costas se afastando- tá de TPM, docinho ? - ela continua me ignorando, mas tenho quase certeza que ela tremeu de raiva..

Coringa: você não devia estar aqui.

Carol: Arthur disse o mesmo. Mas você é meu irmão, não podia perder a oportunidade.

Coringa: tá certo. Não quero você aqui, já deixei isso bem claro.

Carol: Victor- ela diz em um tom exausto- eu não gosto de estar aqui também, mas prometemos estar um com outro. Trouxe aquela bala de cereja que você adora.

Coringa: eu não quero esse bando de filho da puta tocando em você.

Carol: é uma mulher que faz a revista. Não tem nenhum homem perto. Deixa de ser maluco .

Coringa: as câmeras...

Carol: que merda. Você pode parar de reclamar e pelo menos fingir que está feliz em me ver ? Poxa, a gente não se vê a seis meses. Nem um abraço você me deu, já começou logo a reclamar.- ela desvia o olhar e eu sei que fez isso pra não chorar.

Sempre foi nós dois. Tivemos uma infância muito difícil, dei duro pra criar ela. Carol não é muito mais nova que eu. Ela tem 22 e eu 25. Mas fui eu que criou ela desde os meus 11 anos.

É óbvio que eu senti falta dessa surtada. Mas é humilhante pra caralho vim fazer visita , tocam em você te tratam como uma criminosa, não gosto disso. Não quero que ela passe por isso.

Coringa: como tá o Complexo?

Carol: Arthur tá com tudo sobre controle. Mas você faz falta lá, não é a mesma coisa sem você.

Coringa: eu vou voltar - abraço ela - tu acha mesmo que vão conseguir me manter aqui por mais de 50 anos ? Sou bicho solto, pô.

Quando volto pra minha cela tem uma sacola com as coisas que minha irmã trouxe, produtos de higiene, comida, cueca, chinelo e outras coisas. Carol é do tipo mãezona que quer cuidar de você o tempo todo.

Mas o que me chama atenção é a carteira de cigarro em cima da cama com um bilhete.

" não devia ter pisado no seu cigarro, foi um ato muito grosseiro. Mas é que você me irrita, é meu nêmesis"

Cara, vai ser tão fácil ter essa mulher na palma da minha mão.

Tão ingênua... chega a ser burra.

Ficaria com pena se não desse a mínima.

Vai ser tão fácil dar o golpe nela ....

Coringa: o meu camarada.

Dacruz: o que foi, agora ?- tô achando que meu colega não gosta nem um pouco de mim.

Coringa: que porra é um nêmesis? - ele tá sempre lendo parece inteligente.

Dacruz: uma deusa grega.

Coringa: a diretora acha que eu sou uma deusa ? Que porra é essa ? - Dacruz bufa e puxa o papel da minha mão.

Dacruz: ela não acha que você é uma deusa, seu tapado. Acha que você é um inimigo, um rival.

Coringa: faz mais sentido.

Dacruz: tem certeza que você é só um castigo pra, superintendente? Tô achando que é um castigo pra mim também.

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