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Babi on

Na segunda eu acordei meio mal.

Tô morrendo de cólica e ainda tenho que lidar com o chato do Victor reclamando das frutas do presídio.

Minha cabeça já tá latejando, ele é uma criança gigante.

Quando eu fico menstruada eu fico parecendo doente no primeiro dia, dor de cabeça, enjoo, dor corpo ....

Coringa: pô, eu tô aqui abrindo meu coração e dizendo o trauma que a comida desse lugar vai deixar e você tá nem aí-  bufo.

Babi: tem como não encher o meu saco hoje ? A gente volta pra programação normal manhã.

Digo sentada no sofá. Acabei de resolver um problema relacionado ao tratamento dos presos no fim de semana e agora quero uns 20 minutinhos de silêncio.

Coringa: que foi? Tá doente ?

Babi: não- murmuro de olhos fechados- só cólica e dor de cabeça, logo passa.

Coringa: hmm...

De repente sinto a mão tocando meu cabelo, ele é muito desajeitado pra isso, mas eu acho que tá tentando fazer cafuné em mim.

Só que ele tá meio travado como fosse algo muito difícil de se fazer.

Esse criminoso já chupou os meus peitos, não vai ser o fim do mundo se eu deitar a cabeça no colo dele.

Então eu faço. Deito a cabeça no colo dele e mantenho o olhar fechado, aos poucos o cafuné fica mais agradável.

Babi: você nunca fez carinho em alguém antes ?

Coringa: na minha irmã, quando a gente era criança.

Babi: em mais ninguém ?

Coringa: não.

Me sentiria importante se não soubesse que ele não tá fazendo com boas intenções.

Coringa: tá tão na cara assim ?

Babi: você tá meio travado, mas não tá ruim.

Eu não devia falar essas coisas pra ele, mas eu duas semana vai ser " tchau tchau, Victor".

Babi: eu gosto de todo toque possível. Não só na hora do sexo, eu gosto de carinho, me deixa feliz.

Coringa: você é muito diferente de mim, não curto que fiquem tocando mais do que o necessário em mim.

Babi: todo mundo gosta de carinho, só tem que vir de alguém que você goste. Ou ao menos você tem que aceitar o carinho sem ficar na defensiva.

Coringa: cê tu diz.

Eu tô morrendo de dor mas tenho que provar o meu ponto de vista.

Me sento no sofá e respiro fundo.

Babi: deita no meu colo - ele me olha confuso - anda Victor- ele bufa irritado e deita - fecha os olhos - ele faz que eu mando.

Minha mão vai até o cabelo dele fazendo carinho nos fios curtos.

Babi: finge que eu sou alguém de quem você gosta. Sei lá finge que eu sou a sua irmã - acho que é a única pessoa de quem ele gosta de verdade.

Fixo o olhar no rosto do Victor, ele não diz nada só fica deitado.

Meu Deus, o que eu tô fazendo da minha vida ?

Cafuné em um presidiário considerado altamente perigoso.

Ele abre os olhos e me encara, o silêncio do mano chega a ser reconfortante.

Victor pode ter mil e um defeitos, mas não dá pra negar que ele é muito bonito.

Já devem ter notado que eu não sou muito certa das ideias. Trai meu namorado, transei com um bandido...

E agora? Agora eu inclinei o rosto e dei a merda de um selinho no Victor.

Na mesma hora o arrependimento bateu, na hora que fui voltar a posição inicial, Victor segurou meu rosto e me beijou.

Eu nunca gostei de balas de cereja, mas esse é o gosto padrão da boca dele, eu tô começando a gostar demais desse sabor.

Babi: você precisa ir. Logo vou ter uma reunião.

Coringa: sobre ?

Babi: não vou te dar nenhuma informação.

Coringa: certo. Você é um pé no saco.

Babi: olha quem fala.

Babi: ninguém atrás dessas grades é inocente. Temos traficantes, ladrões, assassinos, agressores, falsificadores, estupradores .... Todos que estão aqui cometeram um crime.

Aqui no CPRJ temos um pouquinho de tudo.

Babi: a função de um carcereiro é manter a ordem do presídio. Vocês não precisam gostar deles, eu pessoalmente detesto 97% deles. Mas se vocês querem trabalhar nessa área, vão trabalhar direito, pelo menos enquanto eu for a chefe.

Essa a segunda vez que digo isso. A reunião teve que ser dividida em dois, não dá pra trazer todos os carcereiros pra sala de reunião ao mesmo tempo.

Babi: vocês são pagos para fazer um trabalho, então façam. Não importa se eu não estou aqui no fim de semana, quero que os detentos sigam a rotina de sempre. E isso não está aberto pra discussão

Depois de um dia cansativo no trabalho vim direto pra casa.

É tão estranho estar aqui sozinha. Eu era acostumada com a presença do Bruno.

Eu vou acabar trocando de apartamento, ele é muito grande pra mim.

É tão estranho deitar na cama que eu costuma dividir com o namorado.

E é tão estranho que todo o amor que eu sentia pra ele se reduziu a discussões entre a gente.

Não me arrependo de nada que vivemos, nunca vou me arrepender. Durante muito tempo eu fui realmente feliz, mas desgastou.

Eu sou muito ansiosa, não me dou bem com mudanças,  vai demorar um pouquinho pra eu me acostumar com tudo que tá acontecendo na minha vida.

Bom, melhor eu não me acostumar agora. Em menos de duas semanas Victor não vai ser mais uma constante na minha vida e eu posso perder o emprego.

Minha ansiedade tá a mil.

Odeio me sentir impotente, não saber o que vai acontecer.

Lance Criminoso Onde histórias criam vida. Descubra agora