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Babi on

Encaro meu celular que acabou de acender com uma mensagem do Victor.

Eu não vejo ele a uma semana, desde o dia que ele invadiu o meu apartamento.

Eu não respondi nenhuma das mensagens, acho que ele se contenta com as vizualizações.

Ou então nem dá bola, só manda por mandar.

Não vou ser processada pela fuga, mas não sei quero voltar cargo   de diretora, me traumatizei.

Eu tenho dois meses pra decidir se quero ou não voltar, estou de licença pelo ocorrido.

Tio Oscar ainda tá no Rio, ele tá determinado a conseguir expulsar todos do conselho e botar novos membros.

Eu não tenho dúvidas do quanto sou importante pra ele, ele é um segundo pai pra mim.

Bruno ainda tá aqui em casa. Ele fica no canto dele eu eu no meu, mas é bom saber que eu não estou sozinha.

Ainda me sinto meio enjoada, evito olhar meu corpo no espelho e sempre que aquela cena vem na minha cabeça eu tento pensar em um momento feliz.

Volto minha atenção pro celular.

" você tá bem?"

Bem ? Acho que não seria a palavra certa.

Eu até fico tentada a responder, mas o Bruno tem razão eu tenho que deixar isso de lado.

Esse "lance" começou de uma forma errada, não tem como terminar bem.

Bloqueio a tela do celular e respiro fundo, viro o rosto vendo o Bruno trabalhando na bancada da cozinha. Ele geralmente fica no escritório, mas na última semana ele tenta ficar o mais visível possível para eu saber que não estou sozinha.

Como eu disse não guardo mágoas pela traição, eu também trai. Mesmo que eu tenha traído depois eu não sabia o que ele tinha feito.

Eu realmente não quero ficar sozinha agora, e não quero atrapalhar a Tainá e a Lara, não ficaria confortável me enfiando no meio delas.

Babi: você não para nunca, né ?

Bruno: eu tô atolado em trabalho, o caso daqueles caras que estavam fabricando cocaína e agora tem a maldita fuga, é muita coisa.

Babi: você ainda tá no caso da fuga ? Mas você não pode fazer nada ? Não tinha que ser com a polícia agora ?

Bruno: de certa forma sim, mas eu não posso deixar outro promotor pegar o caso quando o Coringa for preso, é um caso muito importante.

Babi: entendi.

Realmente é um caso muito importante, não dá pra deixar de lado.

Bruno: você já decidiu se vai voltar pro presídio ou vai advogar ? - nego. Eu não decidi nada, passei os últimos dias só me lamentando- você sabe qual é a minha opinião, agora então.

Acho que até o tio Oscar vai parar de me apoiar nessa história de ser diretora de um presídio.

Babi: eu tenho tempo pra pensar, quero usar ele.

Bruno: tudo bem.  Ele entrou em contato com você ? - sei que ele tá falando do Victor só pelo desgosto no tom de voz.

Babi: não.

Bruno: sabia que ele não ia por a liberdade em risco, o e egoísmo é uma das coisas que mais chama atenção nele. Mas se der certo logo ele vai estar atrás das grades.

Apenas concordo, não tenho nada a comentar sobre o assunto.

Bruno: como você se sente ?

Babi: estranha. A cena  se repete sem que eu queira.

As vezes eu tô fazendo algo normal como escovar os dentes ou pentear o cabelo e do nada um flashback me atinge com tudo.

Ai tudo desanda, eu volto a chorar e vomitar sem parar.

Eu sinceramente não sei como se supera algo assim, eu não cheguei a ser estuprada em si, não teve penetração, mas eu fui violada e isso tá me matando.

Fico mal em pensar que algumas pessoas passam  por uma situação pior ainda.

Bruno: eu não tenho como te ajudar nisso, não posso fazer isso parar. Tudo que eu posso fazer é ficar aqui por você e te dar todo o apoio possível, mas só você mesmo pode lidar com o seu trauma.

Babi: eu sei....

Bruno: eu não sei o que aconteceu entre você e aquele marginal- ele me encara- mas conheço você o suficiente pra saber que você ficou ao menos um pouquinho apegada. Não fica mal por ele nem ter demonstrado que se importa mesmo com tudo que você passou. Ele é um egoísta do caralho.

Concordo.

Meu celular vibra de novo na minha mão.

" docinho , se você não me responder eu vou ser obrigado a aparecer na porta da sua casa"

Respiro fundo, ele não é doido de aparecer aqui. Bruno tá aqui e ele sabe disso.

" me atende por 5 minutos"
" me contento com 2.

Bruno: Tainá não desiste nunca, né ?- ele ri.

Babi: ela só quer saber se estou bem.

Ele concorda e pega o celular que começou a chamar.

Bruno: meu pai.

Babi: diz que eu mandei um beijo pra ele.

Bruno concorda se afastando um pouco pra conversar, tudo que eu ouço é um "oi pai" o resto fica inaudível.

Eu sou idiota, e eu não vou fingir que não sou.

Puxo o notebook do Bruno e dou uma olhada no que ele tá fazendo. Eu sei que é errado, mas sou curiosa e tô acostumada a trabalhar direto.

Dou uma olhada rápida e ponho de volta no lugar.

Droga.

Agora tô me sentindo mal por ter feito isso.

Me levanto pra ir pro meu quarto, para ir pro segundo andar é preciso passar pela sala então vou ter que passar pelo Bruno.

Bruno: não. Você não fez o combinado -ele bufa e eu vou subindo os degraus de leve pra não fazer barulho, não quero atrapalhar-  não importa. O combinado não foi esse e você sabe disso, passaram dos limites e eu não gostei.

Chego no segundo andar e vou pro meu quarto deitar e voltar ao estado sedentário.

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