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Babi on

Eu não sou muito religiosa. Nunca pedi tanto força divina desde que esse cara veio pro CPRJ.

Eu tô quase oferecendo pra ele ficar na minha sala, ele tá aqui a pouco tempo e já apareceu pra falar comigo mais que alguns carcereiros.

Babi: sente-se - aponto pra cadeira - em que eu posso te ajudar dessa vez ?

Coringa: quero cancelar essa parada das visitas - ele senta.

Babi: algum problema com a sua última visita ?

Observo ele meter a mão no meu potinho de bala e pegar uma. Abusado.

Coringa: o problema é que não quero a minha irmã ficando pelada pra um monte de marmanjo.

Babi: a revista é feita por outra mulher.

Coringa: câmeras.

Babi: que tipo de mal caráter você acha que eu sou ? Não tem câmeras na sala da revista. O procedimento é feito com muito cuidado e nada é gravado.

Coringa: só não quero, beleza ?

Babi: claro. Vou proibir a entrada de qualquer visita pra você, senhor Camilo.

6 meses sem poder ver ninguém e agora que tem a oportunidade não quer....

Coringa: " senhor Camilo" ? Tá doidona? Tenho a sua idade garota.

Babi: bom, considere seu pedido concedido. Já pode voltar pro pátio.

Coringa: não ... tô de boa aqui no ar-condicionado.

Babi: acho que você tá levando isso longe demais. Essa sua falta de educação tá começando a me irritar.

Tudo bem lidar com um assassino, desde que ele seja educado. Esse joguinho dele é apelativo é chato.

Coringa: tá me expulsando, docinho ?

Babi: estou te expulsando. E vou te dar uma advertência se me chamar assim de novo.Com 5 advertências você vai pra solitária. Acho que você já sabe o quão ruim é ficar trancado naquele quartinho minúsculo sem ver a luz do sol.

Eu sou uma pessoa legal, eu juro. Mas esse meliante tira minha paz de espírito.

Ele reclama de tudo. O arroz, a maçã, as visitas, as revistas...

O que mais me irrita é saber que era exatamente isso que o conselho queria, me abalar colocando esse idiota no meu presídio.

Coringa: você tá estressada demais, docinho.

Pego o bloco na minha gaveta e começo a escrever.

Coringa: o que é isso ? Tá escrevendo o que, aí ?

Babi: sua primeira advertência por desacato.

Coringa: tá falando sério ?- ele tem a cara de pau de parecer ofendido.

Babi: eu falei que você ia ter mais liberdade, mas isso não dá o direito de você ficar tirando sarro da minha cara. Não sou uma colega sua, sou a diretora. Então, por favor, mais respeito.

Ele fica me encarando em silêncio. O rosto estampando indignação.

Nós dois olhamos pra porta quando ela é aberta sem nem mesmo um batida de aviso.

Odeio quando em faz isso, será que o Bruno nunca vai entender que não pode chegar assim ? Isso me incomoda demais, mas parece que as minhas reclamações entram por um ouvido e saem pelo outro.

Babi: você devia se anunciar, estou com um detento- encaro o meu namoro depois o Victor- vou resolver a situação da visita.

Coringa: beleza- ele encara o meu namorado .

Babi: esse é o promotor Goes.

Coringa: eu sei, pô.- o cara idiota que tava roubando minhas balinhas não tá mais presente. A postura dele mudou de um jeito assustador- Foi o promotor no meu caso, o motivo de eu ficar esse tempo todo preso - em se põe de pé- a gente se fala depois, docinho - ele se afasta saindo da sala.

Bruno: docinho ? Que merda é essa Bárbara ? Você tá dando muita intimidade pra esse marginal. Imponha limites.

Babi: você não pode chegar e entrar assim.- vamos ter que repetir essa conversa.

Bruno: certeza que o garoto palhaço não liga - ele abre o botão do paletó e senta - e se ligar que se foda. Ele não tem muito direito de escolha.

Babi: não, ele não liga. Mas eu sim, eu poderia estar em alguma reunião importante. Eu não sou desrespeitosa com seu local de trabalho, não seja com o meu.

Bruno: cheiro de cigarro. Você não andou fumando né, Bárbara ?- ele sempre fugindo do assunto.

Babi: não - sim - deve ser o Victor. Ele fuma.

Bruno: você não devia ficar sozinha com ele. Ele é um criminoso extremamente manipulador e tende a ser agressivo.

Babi: eu li a ficha dele, sei o que estava escrito lá.

Respiro fundo tentando não parecer uma megera.

Babi: eu amo você Bruno. Mas você não pode aparecer aqui a hora que quer sem ter nenhum motivo plausível.

Bruno: é o único lugar em que eu posso ver minha namorada. Ultimamente ela tem adorado brincar de casinha, ela mora em um grande presídio e tem vários bebês marginais.

Babi: ei ficaria muito satisfeita se você respeitasse o meu trabalho. Não gosto dessas suas piadinhas imaturas.

Bruno: eu acho que você devia voltar a atuar no ramo dos advogados ou se não atuar em outra área da administração... administrar um lugar que não está lotado de criminosos.

Babi: eu tenho muita coisa pra fazer. Tenho uma reunião em 30 minutos para discutir sobre a condicional de um dos detentos. Você devia ir, conversamos em casa.

Eu entendo ele não aprovar o meu trabalho, mas podia aí menos respeitar. Seria de grande ajuda.

Bruno: Claro. Isso se você não chegar tarde demais e ir direto dormir. Você tá desgastando o nosso relacionamento- ele fica de pé - só espero que tenha noção da besteira que você fez aceitando esse cargo.

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