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Babi on

Paz.

Queria ter ao menos um dia de paz. Será que é pedir muito ?

Tainá acabou de jogar duas petecas de crack na minha mesa.

Crack. Não bastava só a cocaína e a maconha. Se essa porcaria se espalhar no presídio vão ser a chance do conselho foder com a minha carreira.

Babi: tava com quem ?

Tainá: jogaram no chão na hora da revista, não sabemos quem é o dono. Tava no chão do refeitório.

Babi: se tem esses dois com certeza tem mais. Isso não vai terminar bem.

Tainá: Sinistro tá na solitária. O novato ?

Babi: não. Não dá, ele tá aqui a pouco tempo. Não foi ele. Provavelmente o Sinistro deixou tudo organizado antes de ser isolado.

Sinistro é uma pedra no meu sapato. Ele quer mandar mais que eu aqui dentro e isso eu não vou deixar.

Tainá: você acha que isso entrou como ?

Babi: não sei. Eu prometi melhoras pra esse lugar. Todo mundo dúvida de mim, até o Bruno. Eu não posso dar uma mancada dessas e deixar o crack dominar esse lugar.

Tainá: eu tô do seu lado, é só mandar.

Babi: chama a equipe. Quero uma revista completa, com cachorro e tudo. Quem for pego com drogas vai pra solitária.

Tainá: vou resolver isso. Tem outra coisa, uma garota quer visitar o Coringa, precisa da sua aprovação.

Babi: íntima ? Já disse eu ele não vai pegar garota nenhuma aqui dentro.

Tainá: não foi um pedido pra íntima. Visita no pátio .

Babi: cuido disso depois.

Tainá: esse trabalho tá acabando com você. Preciso saber se é isso que você realmente quer.

Babi: eu quero. Mas é complicado fazer isso quando não se tem apoio, não botam um pingo fé em mim.

Verdades sejam ditas, nascer com um pau te faz privilegiado nessa sociedade de merda.

Tainá: foda-se esses escrotos, você tem euzinha - dou um sorriso - vou ver o negócio da revista - concordo.

Ainda não entendi como ela aceitou trabalhar comigo aqui. Tainá odeia esse lugar, e odeia esculachar o sexo masculino.

Da janela do meu escritório eu tenho uma vista e tanto do pátio.

Alguns dos detentos estão jogando basquete.

Esse lugar não é um prisão de segurança máxima, os presos devem ter certas liberdades.

Não julgo se eles estão certos ou errados, na verdade não me interessa. Mas eu não sou uma criminosa, não vou burlar os direitos humanos, não vou tratá-los que nem animais.

Noto que um dos presos em especial está me encarando. Victor....

Tenho a impressão que esse cara vai me causar grandes problemas. Ele parece do tipo manipulador e traiçoeiro. O tipo de homem que acha que pode ter tudo que quer.

Não gosto dele ....

O desgraçado tem a cara de pau de levantar a mão e acenar pra mim enquanto dá um sorrisinho ridículo.

Esse deboche dele me tira do sério, ele parece não dar a mínima pro fato de ser um preso. É como se ele estivesse em uma colônia de férias.

Eu sei que o conselho me odeia, mas porra ... logo esse cara ?

Ignoro ele e volto pro meu trabalho. Tenho muita coisa pra resolver em pouco tempo.

As vezes eu me sinto insegura e penso em largar tudo isso. Mas eu não quero parecer fraca, não quero que esse bando de idiotas estejam certos sobre mim.

Quero mostrar que sou capaz. Mostrar que estão errados.

No fim do dia peguei meu carro e fui pra casa. Só quero tomar um banho de no mínimo meia hora.

Babi: amor ? - chamo assim que chego em casa - cheguei.

Bruno: na cozinha - deixo minha bolsa no sofá e sigo pra nossa cozinha.

Babi: oi - dou um selinho nele- bebendo uma hora dessas ?- encaro a garrafa de whisky na bancada.

Bruno: problemas com uma advogada de defesa. Aquela mulher me irrita - ele respira fundo - devia voltar pro lugar  dela e deixar o trabalho pra alguém mais competente.

Bruno costuma descontar todo o estresse na bebida. O fígado dele deve estar em um estado deplorável.

Babi: vou subir pra tomar um banho. Quer pedir algo pra jantar ? - adoraria um bom sushi.

Bruno: não. Prefiro ir pro banho com você - ele segura o meu rosto e me  beija.

Deixe-me corrigir: desconta na bebida e no sexo.

Ok. Nada de jantar.

Babi: tá bom - murmuro quando ele beija meu pescoço. A mão dele entra por baixo da minha blusa apertando meu peito por cima do meu sutiã.

Pelo menos na hora do sexo a gente se entende. Ultimamente é a única coisa que a gente consegue fazer sem discutir.

Desde que que eu comecei no CPRJ a nossa relação tem ficado um pouco complicada.

Não posso deixar esse trabalho acabar com meu relacionamento. Bruno vem antes daqueles detentos que eu mal conheço.

Meus dedos começam a desabotoar a blusa dele.

Acho que não vamos chegar a subir pro banho, vamos começar por aqui mesmo. E por mim tá ótimo.

Pego a blusa do meu namorado no chão e coloco fechando alguns botões. Desço pro primeiro andar do apartamento, pego uma taça de vinho e vou pra varanda.

Atrás do vaso tem uma carteira de cigarro e um isqueiro. É um vício doentio em sei, mas não consigo evitar. Alivia o estresse.

Bruno não pode nem sonhar que eu ainda fumo, ele odeia isso. Já brigamos feio por conta da nicotina.

Só degenerados são fumantes. Um promotor de sucesso não pode levar uma namorada que fede a nicotina para os eventos.

Porra, tô morta de fome.

Não adianta nem pedir algo, já são 4 da manhã. Em duas horas e meia eu tenho que me arrumar pra ir pro presídio.

Termino o cigarro e  o vinho, subo pro segundo andar escovo os dentes e deito. Mal fecho os olhos e a porcaria do despertador já toca.

Eu nem levantei e já estou exausta e tenho certeza que vou me estressar.

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