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Babi on

Nem vi o Victor antes de sair do Complexo, ele não se deu ao trabalho nem de me dar um tchau.

É bizarro ver como toda a relação que tínhamos desabou em um único final de semana.

Arrumei minha coisas e o Gilson estava me esperando na porta. Ele foi super atencioso e me trouxe até em casa.

Assim que cheguei na cozinha do apartamento me deparei com a cena do Bruno sentado falando com alguém por vídeo chamada.

Vamos ter que entrar em um acordo hoje mesmo, ou ele sai de vez ou saio eu. Pensei que ele j tinha voltado pra casa.

Dividir o lugar com ele eu não divido.

Bruno: ele vai aceitar o acordo. Ou ele entrega o comparsa ou ele vai preso em uma cela comum, Igor sabe como é o tratamento com estupradores.

Ele nota a minha presença e me encara confuso.

Bruno: te ligo depois, tenho uma coisa pra resolver- ele abaixa a tela do notebook.- o que você tá fazendo aqui ?

Babi: resolvi voltar. Pensei que ia estar na sua casa- cruzo os braços.

Bruno: resolvi ficar.

Babi: quero que você saia. Se não eu mesma vou sair, não quero ficar no mesmo ambiente que você.

Bruno: eu tenho uma reunião virtual em 30 minutos e vai ser longa, mas assim que terminar eu arrumo minhas coisas e vou.

Babi: ótimo.

Bruno: por que você voltou ? Você ficou só uma semana.

Babi: isso não é da sua conta.- vou até o armário pegando uma garrafa de vinho.

Viro as costa e subo pro segundo andar com a minha mala.

Assim que entro no quarto tranco a porta e respiro fundo.

Por que eu me sinto tão mal ? Eu não fiz nada errado, mas me sinto tão agoniada.

Em momento algum fiquei puta por ele ter dito que quer sexo e vai atrás disso . Foi a forma como ele falou, o jeito que ele sugeriu que eu só sirvo pra satisfazer o desejo sexual dele.

Foi insensível.

Eu quase fui estuprada. Ele não teve nada haver com os criminosos que invadiram a minha sala, mas tava com a chave que poderia me manter segura.

Então ele ficar puro com isso é ridículo, ofensivo.

Vou até a banheira e coloco pra encher.

Tiro a roupa e entro segurando a maldita garrafa.

Hora de parar de pensar no Victor e pensar em mim. O que eu vou fazer agora ? Voltar pro presídio ? Ser uma advogada independente? Ir trabalhar com o Tio Oscar? Ficar de molho em casa e viver com a minha herança ?

Bom, tudo que eu sei é que vou ficar aqui e virar essa garrafa.

Eu seria muito tola se chorasse né ?

Bom, eu tô chorando.

Não só pelo Victor, pelo contexto inteiro. Eu quase fui estuprada, Bruno quebrou minha confiança, estou sendo investigada, um traficante me deu um pé na bunda...

Que vida de merda.

Depois de sei lá quanto tempo escuto batidas na porta do quarto, como eu não tranquei a do banheiro consigo ouvir tudo com clareza.

Bruno: você tá bem? Eu conheço você, Babi - escuto ele falar- você tava determinada quando foi pro Complexo, se voltou foi porque aconteceu alguma coisa. Você não muda de ideia facilmente. Tem algo errado.

Ignoro ele.

Bruno: tudo bem não querer falar comigo, mas vou chamar a Tainá.

Dito e feito, em cerca de 40 minutos Tainá tava na minha casa xingando o Victor de tudo quanto é nome.

Tainá: ele foi insensível e isso é indiscutível. Obrigado a ficar com você ele não é, mas a te respeitar sim. Você passou por um trauma enorme, um que deixou marcas físicas e psicológicas e isso deve ser respeitado.

Ela senta do meu lado.

Tainá: se  no mês que vem você estiver pronta pra transar tudo bem, mas se precisar de seis meses vai estar tudo bem também e se você abdicar do sexo também vai estar tudo bem.  Ninguém pode te apressar quanto a isso.

Eu sei  disso, mas não muda o fato de eu sentiu que uma parte de mim tá quebrada.

Tainá: você vai ficar aqui ?

Babi: sim, eu gosto do lugar.

Tainá: o Bruno ?

Babi: vai embora. Ele tem uma reunião depois vai arrumar as coisas e ir.

Tainá: ótimo, quero ele bem longe de você.

                                      ⛓

Babi: você é o gerente ? Quero fazer uma reclamação- ele direciona o olhar na minha direção.

Dacruz:  Babi- ele sorri, mas não tenta me abraçar. Então ele sabe o que aconteceu- você é a única ligação que eu quero ter com o presídio. A única de quem eu senti falta.

Babi: como tá o emprego?

Eu falei com a agente da condicional e consegui o endereço do local de trabalho do Leandro.

Dacruz: eu tô me dando bem - ele dá de ombros - qualquer coisa é melhor que o CPRJ- e você ?

Babi: tô levando a vida.

Dacruz: você tem falado com o Victor?  Ainda tá rolando aquele lance estranho entre vocês ?

Babi: não.

Dacruz: desse um pé na bunda dele - sou obrigada a rir.

Babi: na verdade o contrário- ele me encara confuso - Victor que chutou a minha bunda.

Dacruz: o que ? Ele tava drogado ?

Babi: não. Muito consciente.

Dacruz: que porra aconteceu?

Babi: não é a mesma coisa, tudo mudou e o brilho acabou

Dacruz: nossa, nem sei o que dizer.

Nem eu, mas pelo menos Victor não ficou adiando.

Babi: tô muito feliz por você, de verdade. Você merece toda a felicidade do mundo.

Dacruz: se eu estivesse lá ia te ajudar. Eu sinto muito.

Babi: eu sei que ia.

Dacruz: e agora? O que você vai fazer ?

Babi: no momento esperar meu tio pra almoçar. Pensar no resto me deixa enjoada .

Nem vou contar pro meu tio o que aconteceu, muita humilhação.

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