Além da amizade

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Está de volta a casa do Conner me trouxe lembranças de quando havíamos nos mudado pela primeira vez. Foi quando descobri que a aproximação do Javier a mim tratava-se de um plano para que eles conseguissem o cargo que hoje ele ocupa. Naquela época jamais imaginaria o rumo que as nossas vidas tomaria. Por outro lado, nossa relação sempre foi assim, com idas e voltas. Em um instante sentia que gostava dele e em outros o queria o mais longe possível.
— Ficará bem sabendo que ele estará aqui? – perguntou Laura ao me acompanhar até o quarto
— Porque não ficaria? Você mesma disse que ele tem ficado mais tempo na casa da Audrey do que aqui. Não há com o que se preocupar.
— Espero que esteja ciente das condições que seu pai estabeleceu para que você ficasse aqui.
— Condições?
— Sim, você tem um plano de tratamento a seguir assim como terá que ter tudo por escrito. O Javier se ofereceu para prestar cuidados.
— Sem chance.
— Gostaria de poder negar também, mas isso será ótimo para sua recuperação, ele tem conhecimento do seu tratamento diferente de mim que não entendo praticamente de nada.
— Odeio estar nessa situação, assim como odeio ainda mais depender dele. – sem que conseguisse, passei a chorar desesperadamente – Não posso mesmo ficar em um hotel?
— Poder até pode, mas teria que aceitar assistência domiciliar.
— Não preciso de cuidadores, eu sei que consigo.
— Por favor Celeste, não torne isso ainda mais difícil. Logo tudo isso irá passar e você não precisará depender de ninguém mas neste momento precisa aceitar nossa ajuda, queremos ajudar.
— Irei atrapalhar a rotina de vocês no hospital.
— Não se preocupe, eu e o Javier faremos ajustes para que isso não aconteça. – um olhar intrigado leva Laura em direção a janela – Irei deixar você descansar.
— Pensei que ele havia se tornado o tipo  que não vem em casa.
— Eu também pensei. – disse ela antes de sair

Fora do hospital havia muito pouco a se fazer, visto que de agora em diante terei acesso limitado a casa. Aproveitei o tempo para admirar a vista como era costume fazer. Não demorou muito para que meu celular começasse a receber ligações me parabenizando pela alta. Entre elas estava o meu tio Conner. Mesmo na luta contra o covid ele encontrou um tempo para me lembrar que ele estava torcendo por mim assim como eu estava torcendo por ele.

Estava tão cansada para continuar respondendo a todos que acabei dormindo em uma das ligações. Não importa o que digam, o hospital pode ser confortável, luxuoso e bem recepcionado, mas não existe melhor lugar para se dormir do que em uma casa. Havia dormido tão bem que perdi a noção do horário, estava para dar meio dia quando acordei assustada por ter perdido o alarme para tomar o remédio. Antes que tomasse o comprimido notei que havia um a menos na cartela, provavelmente me medicar já estava se tornado um hábito do qual fazia ser perceber. O estranho era o fato de não conseguir lembrar.

Para abrir minha manhã com chave de ouro recebi uma  chamada de vídeo do Alan. Que estava radiante de felicidade, seus olhos castanhos brilhavam ainda mais refletindo o sol que transpassa a janela.
— Ainda hoje recebi uma notícia maravilhosa mas confesso que só agora consigo acreditar que é verdade. Você não tem ideia do quanto estou feliz por você, meus parabéns Celeste.
— Muito obrigada Alan, queria que soubesse por mim.
— Assumo toda culpa por ter descoberto, usei todos os contatos que tenho no hospital para saber  como estava sendo seu progresso. Sou um homem muito ansioso quando se trata da pessoa quem gosto e admiro. – disse ele me deixando corada
— Deixa eu falar com a Celeste, por favor!! – disse uma voz que me esforço em lembrar
— Essa é a voz do Peter? – pergunto empolgada
— Queria fazer surpresa mas ele foi mais rápido.
— Celeste estou tão feliz em te ver. – de repente o Peter mudou de humor e começou a chorar – Eu tive tanto medo quando soube que a senhorita estava doente e que teria que fazer uma cirurgia. — Está tudo bem agora, graças ao seu tio me sinto melhor. – tento acalmá-lo a distância
— Lembra que combinamos de fingir ser forte na frente da Celeste? – sussurrou Alan
— Estou sendo forte, exige muita coragem para chorar na frente de uma mulher.
— Jamais negaria o fato de que vocês são parentes. – os olhei admirada – Sentir muitas saudades de você, Peter.
— Irei contar os segundos para nos encontrarmos, espero que tanto eu como a senhorita esteja em boas condições.  – disse Peter sempre muito educado – Então por favor se cuide.
— Você também!

O Peter era uma criança extremamente adorável, ter falado com ele nesse momento me deu ainda mais forças para continuar. Era incrível como uma criança podia ser tão forte e resiliente.
— Você disse que sentiu saudades do Peter, e de mim você sentiu? – perguntou Alan
— Está falando sério? – questiono surpresa
— Eu tentei aguardar um momento apropriado em que pudesse lhe dizer isso olhando o seu rosto pessoalmente e não através de uma tela do celular, mas confesso que saber que passará um tempo nessa casa me causou uma certa pressão. – Sempre quis acreditar que a relação do Alan comigo se tratava de uma pura amizade, porém àquela altura nem mesmo eu poderia negar o que era óbvio –  Eu te respeito, admiro muito a mulher que você é e acima de tudo ouso a dizer que a amo. Eu não poderia continuar fingindo querer ser apenas seu amigo sendo que a verdade é que em segredo eu desejo ser muito mais, me vir na obrigação de contar. Não estou lhe pedindo em namoro nem espero que você me corresponda, só de saber que você sempre terá em você uma parte de mim já é bastante.
— Não posso fingir que não desconfiava, você sempre foi tão bom comigo.
— Por favor, não pense que foi por isso que me coloquei à disposição para o transplante, como lhe disse naquele dia, eu faria por qualquer pessoa. Mas o fato dessa pessoa ser você me deixa ainda mais satisfeito.
— É um homem muito educado, um líder excepcional temo não estar a sua altura.
— Acho que esse é o momento em que você me enche de elogios para que a rejeição seja suportável.
— Não é isso Alan, você sabe a minha situação tem passado praticamente pelo mesmo que eu. Acontece que sou uma mulher pragmática, e analiso muito bem nossas condições para saber que essa relação seria praticamente impossível. Em 3 meses voltarei para o exterior para continuar meus estudos e ainda por cima terei que conviver com o medo do meu corpo rejeitar o presente que você me deu. Em 3 meses começará as campanhas para eleição da qual você irá concorrer mais uma vez. Quando teremos tempo um para o outro sendo que já era difícil para nós sermos amigos?
— Somos extremamente ocupados, confesso.
— Sabe que sim.
— Mas tem certeza que não valemos o esforço? Que não podemos considerar um ajuste em nossas vidas em prol do que sentimos, ou será que apenas eu sinto? – batidas na porta interrompe a nossa conversa – Irei aguardar seu retorno, se bem me lembro a primeira semana fora do hospital foi a mais agitada para mim. Por favor, cuide!
— Você também.

Através dos seus Olhos (2022)Onde histórias criam vida. Descubra agora