Nervos a flor da pele

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Durante esses seis dias ver o Javier era algo que a Audrey havia tornado impossível. Sempre que eu tentava alguém me impedia pedindo que ajudasse em algo. Quanto às minhas ligações, Javier estava ocupado demais para atendê-las o que me fez sentir uma idiota por mesmo assim estar preocupada.
— Bom dia querida. – disse Laura
— Bom dia. – respondi pensativa
— Acredito que essa apreensão toda acaba hoje já que o Javier ontem deu negativo para o Covid.
— Negativo? – pergunto surpresa
— Não sabia? – Laura estranhou – Devo ter estragado o plano, ele deve ter planejado te surpreender.
— Está tudo bem, só de saber me sinto aliviada.
— Vai correr pro hospital? Ligar para ele?
— Não, na verdade irei terminar meu café da manhã. – tento não dar tanta importância a quem não estava nem me dando atenção – Esses dias estão sendo muito puxados, quero me certificar de estar bem alimentada.
— Muito bem, confesso não estar indo nada bem no quesito alimentação.
— Tem alguma notícia do Moura e do Miguel?
— Moura está reagindo bem ao tratamento, esperamos ter bons resultados em breve. Quanto ao Miguel, ainda segue na mesma condição.

A verdade era que eu queria sair correndo até o Javier, e mesmo ciente de todos os protocolos de distanciamento o encontrar e o abraçar, dizer que eu estava ali para o ajudar a enfrentar esse momento difícil. Mas como poderia fazer isso sendo que eu estava claramente nutrindo algo que não era recíproco?

Assim que cheguei ao hospital fui direto para o escritório do Javier, onde encontrei a Audrey deixando a sala.
— Juro que acreditei que te veria aqui ontem, fizeram até um café da manhã especial para comemorar que tudo está bem com o Javier, só faltou a suposta namorada. – disse ela – O mais estranho foi ele preferir continuar aqui no hospital ao invés de ir para casa. Vocês são mesmo um casal?
— Estou profundamente tocada que tenha sentido a minha falta, com licença. – passei por ela ao entrar no escritório e dar de cara com o Javier. – Olá. – me dirigir a ele envergonhada
— Você e sua mania de não bater na porta. – ele me respondeu com um olhar indecifrável, não dava para saber o que ele sentiu ao me ver
— Soube do resultado do teste, estava torcendo por você. Poderia ter ido para casa, respirar um ambiente tranquilo.
— Obrigado, mas não conseguiria ir sabendo que o Miguel ainda está na mesma condição.
— Você precisa descansar.
— Está me pedindo algo que é impossível.
— Porque não atendeu as minhas ligações? Fiquei preocupada com você, soube do seu resultado hoje pela manhã através da Laura e agora a Audrey me disse que até teve um café da manhã.
— Preso no escritório o telefone não parava de tocar, estou tendo que lidar com o trabalho do Moura e o meu. Não me restou tempo para cuidar da falsa relação. – as palavras dele surgiram como um golpe
— Me manter a par de como você estava era algo que você só faria se tivéssemos algo de verdade? Você realmente não tem nenhuma consideração por mim?
— Não é isso, eu só estou sobrecarregado.
— E eu só estou tentando tornar essa carga leve. – o respondi decepcionada

Não sabia se estava fazendo o certo, queria me afastar já que ele me considerava um fardo por outro lado, não conseguia evitar me colocar no lugar dele. Em como deve estar sendo difícil para ele ter que gerenciar o hospital, estar longe da família e ter o amigo hospitalizado em estado grave. A pandemia era a segunda crise que o Javier estava enfrentando, e isso querendo ou não o afetava mais do que a qualquer pessoa. Queria dividir um pouco da sua dor. Assim que saí do escritório percebi que comecei a chorar desesperadamente, entrei em uma sala até que me acalmasse.

Através dos seus Olhos (2022)Onde histórias criam vida. Descubra agora