Prédios espelhados, sempre em movimento, luzes piscando acompanhada de um som extremamente alto que indicava urgência. Era um lugar do tipo que as pessoas entravam aflitas, na maioria das vezes chorando com tanta preocupação, e que em alguns momentos saíam aliviadas com um sorriso no rosto.
Eram essas palavras que descreviam para mim o que era um hospital.
Ter como amigos pessoas que atuam em diversas áreas da saúde foi uma motivação extra pra que eu pudesse dedicar minha vida a isso também.
De início achei que conseguiria me formar como uma boa médica sem dificuldades, mas infelizmente apesar de ter boas boas notas uma hora ou outra as coisas davam errado, fazendo com que isso se tornasse um sonho muito distante. Estava prestes a desistir quando meu ex namorado ficou acamado por um mês após um acidente de carro, fazendo com que minha frequência ao hospital fosse maior do que o costume. Aos poucos fui me apaixonando pelo cuidado que os técnicos e enfermeiros demonstravam pelos pacientes. Eles estavam lado a lado e isso me fez valorizá-los muito. Não que eu estivesse diminuindo o trabalho dos médicos, reconheço que eles são a chave fundamental em um hospital, mas a enfermagem me fazia sentir mais próxima, talvez até mais humana. Por isso meu alvo havia mudado, de medicina para enfermagem. O que também não foi nada fácil.
Tive o que chamo de um começo desafiador, comecei atuar na área de enfermagem em plena pandemia do covid-19. Coisa que eu nem imaginava que estaria viva para alcançar. Me sinto segura por poder ajudar as pessoas quando elas mais precisavam e darei a elas o meu melhor.
Assim que coloquei meus pés no Hospital ESP. colecionei olhares por onde passava. Afinal de contas eu era a filha do diretor, e fazia um tempo, exatamente 5 anos após o acidente que havia deixado de frequentá-lo. Muitos fatores contribuíram para que eu me afastasse de um lugar que tanto amava, o que eu não esperava era que iria encontrar justamente o motivo principal.
Ao entrar no elevador encontrei com a Audrey, sempre tivemos muitos atritos, desde a escola até a faculdade de medicina da qual não levei nem 6 meses. Bastava apenas nos encontrarmos para dar início a uma briga, eu simplesmente a detestava. Estava sempre exibindo o quanto era perfeita, e que eu era um pessoa superficial que se aproveitava da fama do meu pai e amigos. Mas dessa vez eu precisava me controlar, afinal de contas esse foi o acordo que tive que fazer para poder trabalhar nesse hospital. Então simplesmente entrei no elevador me esforçando para não fazer nada que colocasse em risco o meu emprego.
— Não vai me cumprimentar? – disse ela ao me olhar o meu reflexo no espelho e me reconhecer por trás da máscara, mas permaneci em silêncio. – Sabe o que é engraçado? Há uns meses atrás o diretor veio tendo algumas conversas comigo, implorando para que eu aceitasse o seu comportamento explosivo. Ele realmente acredita que você mudou, e que é uma mulher profissional e exemplar. Mas a verdade é que eu não acredito e diferente dos lugares que você costuma frequentar aqui eu tenho influência, minha opinião importa e irei tirar você daqui logo, logo. – disse ela ao descer do elevador e rir de mimEu entendo perfeitamente as palavras que meu pai havia me dito, sobre não procurar brigas com ela porque dado a situação que estamos vivendo os pacientes mais do que nunca precisam ser a nossa prioridade. Mas tecnicamente só me tornarei funcionária oficial do Hospital ESP a partir das 8:00 e eu havia chegado 30 minutos adiantado. Por isso ignorei todos os conselhos dados e dei passos largos na direção dela e pegando de surpresa.
— Escuta aqui Audrey, se eu fosse você estaria bem segura dessas ameaças. Sugiro que você dê tudo que tem, se quer mesmo me enfrentar venha com tudo porque eu não irei ficar parada enquanto você se une com pessoas tão patéticas quanto você para me tirar daqui. Entenda bem claro que eu não irei sair querida, eu vim pra ficar. Então, acostume-se.
— O que está acontecendo aqui? – um médico do qual não consegui identificar ao nos interromper
— Me desculpe Dr. é apenas um mal entendido. – disse Audrey em um tom totalmente novo para mim, era como se ela não fosse a pessoa com que sempre tive atritos
— Exatamente, um mal entendido. – afirmo entrando no jogo dela
— Drª. Audrey, vi essa mulher segurar seu braço com força, não há como ser um mal entendido.
— Não quero causar problemas. – ver a Audrey fazendo um papel de inocente, envergonhada estava me deixando cada vez mais furiosa
— Conte-me o que aconteceu.
— Vi essa enfermeira agir de forma inadequada e a corrigir, mas ela não reagiu bem como pode ver.
— Quem é você? Os novos funcionários contratados foram aprovados por mim, porque não lembro de você? – perguntou o médico irritado após acreditar em casa palavra dita pela Audrey, ele era sem dúvidas uma das pessoas da qual a fazia de sentir tão segura de que pode me expulsar do hospital
— Sou a mais recém contratada, hoje é o meu primeiro dia de trabalho. Como minha contratação não passou por você provavelmente estou acima da sua autoridade, então não se meta comigo. – minha paciência já estava esgotada, a vontade que eu tinha era de socar o casal de idiotas
— Por favor doutor, seja paciente com ela. Talvez eu tenha sido rude de alguma forma e a irritei, prometo que vou resolver isso. – o fingimento da Audrey me deixou extremamente surpresa
— Não precisa se preocupar doutora, irei mostrar pra essa “recém contratada” qual é a hierarquia aqui nesse hospital. Muito prazer sou o Dr. Javier Castillo, chefe do departamento médico, também responsável também pela admissão e demissão de médicos e enfermeiros.
— Droga! – ele sim era de fato o cara que eu gostaria de evitar a qualquer custo, se houvesse outra pessoa com quem eu deveria me preocupar caso meu pai decidisse me deserdar seria ele. Nunca havia o conhecido pessoalmente, e muito menos fazia questão disso. Escutar a bajulação constante do meu pai me fez odiar, mesmo assim pensei que poderia me dar bem com ele pelo bem do meu trabalho. Mas agora era tarde demais, ele sem dúvida estava na minha lista negra, logo ao lado da Audrey
— Agora que sabe quem sou, peço que me aguarde no meu escritório juntamente com a sua documentação. Poderia acompanhá-la Drª. Audrey?
— Eu sinto muito. – disse para mim ainda fingindo ser quem ela nunca foi – Irei acompanhá-la.Querendo ou não eu teria que comparecer à sala daquele cretino, por isso segui a Audrey que cantarolava ao caminhar. Eu definitivamente a odiava, mas por hora fingiria derrota. Assim que chegamos na sala do Javier ela recebeu um chamado, mas teve tempo o bastante para dizer que eu havia durado menos do que ela imaginava.
Sozinha, dei uma boa olhada na sala do Javier. Encontrei na mesa dele meus documentos em uma pasta ainda lacrada, ele nem havia se dado ao trabalho de olhar. Me sentir no direito de dar a mim mesma um presente de boas vindas, por isso peguei meus documentos, junto com uma foto minha ao lado do meu pai que guardava na minha bolsa e pendurei próximo a uma pilha de prêmios junto com um bilhete que dizia.
“Redecorei a sala para você, te espero no café.”
Quanto ao resto da sala me certifiquei de causar uma grande e bela bagunça. Estava ansiosa para a conversa que teríamos.
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Através dos seus Olhos (2022)
RomansaApós a crise econômica afetar a vida de muitos na Venezuela um médico ambicioso tem a oportunidade de conquistar a vida que tinha antes quando aceita a ajuda do seu antigo professor para se mudar para o Brasil. Quando tudo parece estar voltando aos...