Durante o caminho para casa tive tempo o suficiente para pensar na conversa que escutei o Javier ter com a Audrey. Em momento algum ele me defendeu, suas respostas mostram que de uma certa forma ele apoiava o que Audrey dizia. Fiquei ainda mais irritada quando o barulho do meu carro ficou mais alto até que ele por fim parasse.Levei mais de uma hora aguardando o reboque chegar e nem ao menos recebi uma ligação do Javier perguntando o porquê do atraso. Nossa relação sempre foi inconstante, fui uma boba em acreditar que em algum momento ela estava se tornando real.
Ao chegar em casa encontrei com ele em uma ligação com os pais do Miguel e a Laura aprontando o jantar.
— Está de volta. – disse Laura – Não escutei seu carro estacionando.
— Tive um imprevisto, o carro deu defeito há dois quarteirões.
— Sério? Porquê não ligou para a gente? – perguntou Laura
— Não era preciso, não queria incomodar.
— Incomodar a sua amiga e ao seu namorado? – ela notou que algo estava estranho
— Irei para o quarto tenho que atender uma ligação importante. – disse Javier sem ao menos me cumprimentar
— Tudo bem, conversamos depois. – respondeu LauraCom passos pesados seguir para o meu quarto, tentando evitar pensar no rumo que as coisas estavam tomando. Sempre que acredito estar no controle, tudo a minha volta começa a desmoronar. Mas uma vez em frente ao espelho comecei a remover os Epis e também a minha roupa. De frente ao espelho, os hematomas causados pela máscara estavam como calejados, menos doloridos. Haviam se adaptado à pressão feita diariamente. Já os meus olhos não só estavam pesados, como também menos brilhantes. Nitidamente não era só meu corpo que estava cansado, meu emocional estava terrivelmente abalado.
Dessa vez não acreditei que seria capaz de lidar com tudo o que acontecia, que superaria. Sentei no chão e permiti que as águas que tocavam o meu corpo fossem pesadas. Lágrimas e mais lágrimas, lembranças dolorosas de vidas que se foram, de expectativas destruídas e de relações rompidas. Nada, exatamente nada naquele momento poderia me fazer sentir melhor. Estava vivendo uma vida de merda.
Algumas horas se passaram e comecei a me sentir sonolenta, havia chegado o momento de aceitar as coisas como elas são. Coloquei uma roupa leve e aconchegante, não queria sentir que as coisas ainda continuavam pesadas. Segui até o quarto do Javier e o aguardei me atender, algo que levou alguns minutos. Como se não fosse difícil encerrar o ciclo, Javier havia me atendido com cabelos úmidos, e um roupão branco. Ele estava tão sereno que não parecia estar acabando com a minha tranquilidade.
— Podemos conversar? – sugerir
— Claro. – ele abriu caminho para que eu entrasseInsegura e temerosa o seguir e o vi sentar na cama enquanto secava seu cabelo com uma toalha.
— Quer beber alguma coisa? – perguntou ele
— Não, estou bem.
— Você está com uma cara suspeita. – ele puxou uma cadeira para que sentasse – Se você não tem certeza do que quer me dizer não precisa falar.
— Não há certeza nessa vida, até porque conosco sempre foi assim, nunca houve garantias.
— Hmm.. Foi o que aconteceu agora com Audrey? Não tenho a intenção de te pedir desculpas, você não agiu certo. – ele parou por um pouco e me olhou fixamente – Você não está cansada? Eu sei que aceitei seu acordo de ferrar com os sentimentos da Audrey por causa do cargo do diretor, mas mesmo depois de tudo ainda quer continuar com isso? O Moura está se esforçando para se recuperar das sequelas, seu pai não quer nem saber de você e o Miguel morreu. Agir assim é normal pra você ou é realmente uma pessoa insensível? – ele me fez desviar o olhar
— Eu vim aqui com um texto enorme para te dizer mas cansei. – passei repetidamente as mãos pelo meu joelho em busca de apoio – Sinto muito por ter te arrastado para essa bagunça, reconheço que está na hora de parar.
— Que bom ouvir isso, ambos temos muito com o que se ocupar nesse momento, mas do que nunca iremos precisar de espaço para trabalhar.
— Sim, eu imagino.
— Não iremos ficar em um clima estranho por causa disso, ou vamos? – por um momento olhei nos olhos do Javier na esperança que fosse encontrar algum sentimento expresso, a verdade era que eu havia me enganado
— Não precisamos nos manter amigos, vamos ser apenas colegas de trabalho. Em condições reais é natural que com o término não tenhamos uma boa relação, isso será bom para nós dois.
— Irei fazer do seu jeito. – ele levantou a mão para que eu o cumprimentasse, algo como o fim do acordo
— Nos vemos. – sair do quarto sem que o cumprimentasse
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Através dos seus Olhos (2022)
RomanceApós a crise econômica afetar a vida de muitos na Venezuela um médico ambicioso tem a oportunidade de conquistar a vida que tinha antes quando aceita a ajuda do seu antigo professor para se mudar para o Brasil. Quando tudo parece estar voltando aos...