A falta que seu toque faz

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Foram dias difíceis desde que a Celeste decidiu não ficar comigo, precisei lidar com muitas reuniões extras que lidavam com o caso que Audrey havia me acusado. Como tinha saído da casa do Conner passei mais tempo do que o costume no hospital, não sentia vontade de ir para casa porque ter tempo livre me levava a pensar nela. Não tinha amigos com quem conversar e muito menos me sentia confortável em falar sobre isso com o Dr. Carlos. Apesar do seu esforço para não falar ou ficar lembrando do que havia feito a Celeste. No final das contas, era como se eu estivesse pagando por tudo que havia feito.

Eu queria entender o porquê dela não querer ficar comigo mesmo gostando de mim, queria ficar irritado e a odiar por isso mas a verdade é que era impossível. Sempre no mesmo horário que ela vinha ao hospital me vir procurando motivos para passar pelo setor ou tocava em um assunto aleatório para que falassem dela.
Todos, inclusive eu sabia que eu não conseguia superá-la.

Quando a minha relação com Carlos e o Conner aos poucos estava se encaixando em um novo normal. Não podíamos voltar ao que éramos antes, mas também não era como se nunca fôssemos próximos. Estava me esforçando para não cometer os mesmos erros e eles haviam me ajudado a me tornar um homem e um profissional melhor.
— Vem almoçar conosco? – perguntou Carlos após sairmos da reunião
— Talvez mais tarde, preciso ir a um lugar. – eles me olharam se segurando para não rir
— Não precisa mais ir no setor que Celeste frequenta a esse horário daqui pra frente. – disse o Conner – Você não contou a ele Carlos? Você é mais rancoroso do que eu pensava.
— Tenho estado tão ocupado que acabei me passando, não era minha intenção esconder que a Celeste volta hoje aos Estados Unidos.
— Hoje? – respondi pesaroso
— Escuta rapaz, já está mais do que na hora de você desistir. – disse Conner
— Ou tentar de uma vez por todas. Minha filha ainda gosta de você, não deveria falar isso, mas é a verdade. – ele me entregou uma passagem – Aqui está.
— É uma passagem.
— A do lado dela, Celeste não gosta de ser incomodada, por isso compra os dois assentos. Ela não vai desistir de viajar nem dos estudos dela, mas talvez vocês consigam se acertar. Só não a machuque de novo.
— O que você está esperando, rapaz? – perguntou Conner ao me ver parado olhando o passagem
— Obrigado. – os abracei e logo após sair correndo o mais rápido que podia

Em pouco tempo consegui chegar no aeroporto, por sorte não havia trânsito. Não sabia exatamente o que iria falar quando encontrasse com a Celeste, mas fui mesmo assim, com meu coração extremamente acelerado fui até ela.

Por sorte consegui chegar a tempo do avião não ter decolado. Sem jeito e apressado seguir até a poltrona que estava reservada para ela. Seus olhos ao me ver estavam tão assustados quanto o meu. Sem ao menos me explicar sentei ao seu lado, era tarde demais para voltar atrás a avião estava decolando.
— O que é isso, Javier? O que está fazendo aqui? – perguntou ela
— Não posso deixar você ir assim.
— Poderia ter me ligado, o avião está decolando.
— Não me importa!
— Você ainda está com o crachá do hospital, como assim não importa? Como veio parar aqui? E o seu trabalho? – a Celeste não parava de fazer perguntas e isso me deixava sem saber como começar então simplesmente a beijei, um beijo longo surpreso e demorado
— Eu ainda não entendo porque mesmo gostando de mim você decidiu permanecer distante e está tudo bem. Nunca fui do tipo que faz coisas compreensivas, não é? Então aqui estou, se tiver que ser rejeitado mais uma vez então serei, mas não posso deixar de tentar. Não posso deixar de querer você, não posso.
— Javier, eu estou voltando aos meus estudos em outro país.
— Isso não é motivo para não ficarmos juntos.
— É mesmo o que você quer?
— Sim, é! Eu sei que se você quiser também podemos fazer isso dar certo mesmo a distância.
— Então está bem. – sorrir para ele – Vamos fazer isso dar certo. – a acolhi em meus braços e beijei a sua testa agradecido

Olhando nosso reflexo através da janela jamais imaginaria que acabasse assim. Ambos havíamos passado por muita coisa. Nós nos conhecemos através de máscaras e olho no olho, muitas perdas e o mínimo contato físico possível. E agora que estávamos abraçamos, me emocionei ao perceber a falta que isso havia me feito. O que para muitos era considerado algo relativamente pouco tinha se tornado algo raro e valioso.
— Parando para pensar já temos uma teoria de como é um relacionamento a distância, todos que passaram pela pandemia tiveram essa aula.
— Não acredito que você tá falando isso. – disse a Celeste ao soltar gargalhadas me trazendo conforto, seu riso era mágico
— Você não tem ideia de quantas vezes eu queria te ter assim comigo e precisei me controlar. Eu queria muito sentir seu toque.
— Por isso foi logo me beijando? – ela sorriu
— Bem, você não parava de falar, eu precisava fazer algo.
— Como é a história? – ela riu mais uma vez
— Você fica muito atraente quando rir sabia? – a beijei de novo e de novo

Através dos seus Olhos (2022)Onde histórias criam vida. Descubra agora