Capítulo 1 - Cortina de fumaça

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- Bom dia, Srta. Watson! – Desejou o porteiro do prédio ao ver a jovem passar apressada pela recepção, rumo ao elevador.

Após chamar o elevador, Maggie Watson retornou ofegante para a portaria.

- Perdão pela pressa, Sr. Roberts! Acabei me atrasando demais. Bom dia! Sabe se o Sr. ou a Sra. Anderson levaram a Katherine para a escola?

- Ora, não se preocupe. Não vi nenhum dos dois saindo ainda, muito menos com a filhinha. – Respondeu o Sr. Roberts.

Maggie franziu a testa e conferiu o relógio de pulso: já passavam das oito horas da manhã. Tanto o trabalho dos Anderson quanto a escola de Katherine já deveriam ter iniciado; e não era nada comum a família se atrasar. Brincava com a Sra. Anderson que o termo "pontualidade inglesa" havia sido inspirado em sua família.

- Que estranho... – Murmurou Maggie, mais para si mesma que para o Sr. Roberts.

- Bota estranho nisso... Nunca vi essa portaria tão sem movimento nesse horário como hoje. – Concordou o Sr. Roberts.

Mas Maggie já não prestava atenção. Será que o casal iria dispensá-la e, por isso, resolveu esperar por sua chegada? Se fosse o caso, não seria mais fácil fazer isso ao final do expediente? O som das grades se abrindo ecoou pelo térreo quando o elevador chegou e Maggie despertou de seus pensamentos, agora temendo por seu emprego.

- Ah, finalmente! Bom trabalho, Sr. Roberts! – Exclamou Maggie que, com um sorriso trêmulo e um aceno de cabeça, se despediu do porteiro e rumou rapidamente para o elevador, onde apertou o número sete.

Tirou o chaveiro da bolsa e, quando chegou no sétimo andar e saiu do elevador, se deparou com uma cena curiosa: todas as portas, de todos os apartamentos, estavam escancaradas ao longo do extenso corredor.

Olhou de um lado para o outro, procurando algum sinal de movimento. Se, por uma incrível coincidência, todos os vizinhos de andar estivessem saindo ao mesmo tempo, então com certeza haveria barulho e movimentação. Porém não havia nem um, nem outro: tudo estava no mais perfeito e absoluto silêncio.

Um repentino calafrio em sua nuca lhe causou um tremelique enquanto se aproximava do apartamento dos Anderson. Um cheiro estranho começava a invadir suas narinas a cada passo em que se aproximava, mas ela não tinha certeza de onde exatamente ele vinha, pois parecia mais concentrado em cada uma das portas abertas pelas quais ela passava tensa e lentamente, ainda com o inútil molho de chaves na mão direita.

Muito abaixo, o Sr. Roberts lia atentamente uma matéria em que um respeitado economista alertava sobre a iminência de uma pesada recessão que poderia atingir a Inglaterra durante boa parte da década.

Foi quando um estridente grito de horror invadiu seus tímpanos e o fez arrepiar por inteiro. O som expressou um desespero tão profundo e o susto foi tão grande que ele rasgou o jornal em dois involuntariamente num sobressalto.

Levantou-se apressado de sua poltrona e correu para o elevador: estava no sétimo andar. Teria sido Maggie Watson que gritara daquele jeito? Chamou o elevador e rumou para o andar dos Anderson e de seus vizinhos.

Ao chegar lá, constatou a mesma cena estranha que a jovem havia encontrado: todas as portas abertas e um cheiro ruim. Correu para o apartamento dos Anderson.

- Senhorita Watson? – Chamou o Sr. Roberts assim que entrou na residência. – Senhorita Watson?!

Os passos cautelosos do Sr. Roberts o levaram em direção aos soluços e choro de Maggie Watson, que estava encostada em uma das paredes do quarto do casal.

- Senhorita? – Chamou de novo, dessa vez em voz baixa e olhando para a jovem.

Maggie estava em choque, mas o Sr. Roberts ainda não conseguia saber o motivo. Ele se aproximou, entrou no quarto e olhou para a cama que ela tanto encarava. E foi então que ele compreendeu, levando as mãos à boca incredulamente, o que a fizera dar um grito tão assustador.

A Primeira Guerra Bruxa - Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora