JOSH BEAUCHAMP
Era o mesmo pesadelo todas as vezes. Um que espelhava a realidade. A minha realidade. Que evidenciava toda a minha vergonha por não tê-la protegido. Por não ter cuidado dela como prometi que faria.
O sonho era assustadoramente vívido. Cores, cheiros, sons.
Lá estava ela novamente, caída no chão do quarto, da forma como a encontrei. Tudo parecia acontecer em câmera lenta, como se eu não conseguisse chegar a ela rápido o suficiente.
Então eu a pegava nos braços, mas a sentia morta
Enquanto minhas lágrimas caíam, eu despertava. Sempre da mesma forma: assustado, sentando-me na cama e sentindo as gotas de suor na minha testa, embora o quarto estivesse frio por conta do ar condicionado ligado.
Ainda sentindo o coração acelerado no peito, passei minhas mãos por meus cabelos, jogando-os para trás e sentindo-os um pouco mais compridos do que deveriam estar. Mas eu não tinha o menor ânimo para cortá-los. Ou para a maioria das coisas.
Apenas uma ainda me mantinha levemente a salvo do limite da sanidade.
Meu bebê.
Levantei-me da cama, sem nem me importar em colocar uma camisa, e fui direto ao quarto de Henry, meu garotinho
Aproximei-me de seu berço, vendo-o dormir sereno e profundamente. Em meio à mais terrível tragédia da minha vida, meu filho era uma bênção. Um menino perfeito, lindo, que quase parecia compreender que seu papai tinha um coração partido, de tão bonzinho que era.
Eu deveria deixá-lo dormir seu sono dos justos, enquanto o mundo ainda não o corrompera e não havia nada em sua cabecinha que o impedisse de relaxar o suficiente. Mas, mesmo assim; mesmo sabendo que não deveria, peguei-o no colo com cuidado, esperando não acordá-lo.
Henry tinha pouco mais de um ano, mas eu gostaria que ele ficasse daquele tamanhinho para sempre. Que coubesse nos meus braços e no meu peito, que encontrasse neles seu porto seguro.
Queria poder protegê-lo de tudo. Privá-lo do quão sombria a vida podia se tornar em um piscar de olhos.
Sentei-me na poltrona de amamentação, que Taylor nunca usou, levando-o comigo. Henrique se remexeu um pouquinho, mas continuou a dormir pesado. Sorri ao pensar que ele era como eu antes de tudo acontecer.
Reclinei a poltrona para trás, deixando-a como uma cama, deitando o bebê no meu peito. Não era a primeira noite que eu fazia isso. Na verdade, aquela cena era uma constante em minha vida, e eu sabia que tinha a ver com o fato de que tinha feito um ano da morte de Taylor há pouco tempo.
Ainda era uma ferida dolorosa. Não apenas pelo fato de eu ter perdido uma esposa e ficado sozinho para cuidar do meu filho, mas pela forma como tudo aconteceu.
Aquela era a única maneira que me permitia cochilar. Às vezes eu levava Heny para a cama e dormia com ele ao meu lado, sentindo sua presença.
Tão pequeno, aquele bebezinho era o meu herói, meu salvador. Naquela noite, porém, peguei no sono ali mesmo.
Acordei já de manhã, com Jenny, minha funcionária, tirando Henrique de mim. O bebê ainda estava dormindo, mas despertou quando foi remexido.
Movimentei-me na poltrona, levando-a à posição original, sentindo as costas reclamarem. Não era exatamente uma boa ideia um cara de um metro e noventa e dois tentar ficar confortável em um lugar como aquele.
Levantei-me, esticando-me e fiquei observando meu bebê interagir com Jenny. Ele a adorava. Ela fora a melhor aquisição que fiz depois que Taylor faleceu. Tínhamos algumas pessoas para cuidar da casa onde morávamos antes, mas desde que decidi me mudar para um apartamento menor – embora ainda fosse uma cobertura considerável, duplex, em um prédio num bairro nobre do Rio de Janeiro, com apenas dois apartamentos por andar –, apenas uma pessoa seria necessária. O local fora indicado por uma conhecida do meu pai, que era minha atual vizinha, que me conhecia desde pequeno, e era perfeito para que eu saísse daquela casa cheia de lembranças. Com isso, decidi, então, escolher alguém novo, que gostasse de crianças, e lá estava ela.
Quase uma avó para Henry, carinhosa, atenta e cuidava de tudo para mim, menos da limpeza, porque eu não permitia, então tínhamos uma diarista duas vezes na semana.
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O Último Desejo ¡! BEAUANY
RandomBEAUANY ¡! Fazia um ano que eu tinha Josh Beauchamp como vizinho, mas não sabia nada sobre ele, apenas que era um homem calado, frio, sisudo e meio rabugento. Mas bonito como o pecado, rico, CEO de uma empresa milionária e pai do bebezinho mais fof...