JOSH BEAUCHAMP
O cheiro era delicioso. Prato simples, macarrão à bolonhesa, mas pela forma carinhosa com que Any cozinhava – e a julgar pelos biscoitos com os quais me presenteou no outro dia –, era impossível acreditar que ficaria ruim.
Aliás, eu tinha a impressão de que ela fazia tudo com amor. Desde ninar um bebê agitado a lidar com um homem que não merecia nem um terço da sua consideração.
Observando-a de longe, enquanto tomava uma cerveja que me ofereceu, não conseguia evitar as mil perguntas que se formavam em minha cabeça.
Por que uma garota como ela, tão jovem, linda e cheia de vida, iria insistir tanto em um cara como eu? Não parecia ter intenções de me seduzir. Se fosse o caso, na noite passada, quando a puxei para o meu colo, poderia ter dado mais sinais. Só que aconteceu exatamente o contrário: ela se afastou muito rápido, como se pudesse pegar uma doença contagiosa se continuasse ali.
Eu, em contrapartida, não sabia o que se passava pela minha própria cabeça.
Gostava de olhá-la – quem não gostaria? Mas mais do que isso, começava a gostar de tê-la por perto. Como era possível que uma única noite tivesse mudado isso? A percepção que eu tinha transformou-se completamente, porque eu simplesmente me deixei, em um primeiro momento, me levar pelas aparências. Considerei-a o oposto do que realmente era, e me envergonhava.
Há muito tempo eu não tinha vontade de ter um amigo – ou amiga, no caso. Sempre jurei que não me faria falta, que poderia sobreviver só com o que eu tinha – meu filho, meu irmão e uma funcionária a quem eu pagava um salário –, mas queria que aquela garota gostasse de verdade de mim. Que me enxergasse além do homem sombrio que me tornei. Queria que visse mais.
Só que eu não sabia como mostrar.
Henry dormia em seu sofá, e eu estava de olho nele, até que Any começou a bater palmas, animada.
— Está pronto, meninos! Ou melhor, maneira de dizer, né? Porque o delicinha aí ainda não pode provar a iguaria maravilhosa da Tia Any.
Há uns quinze minutos, eu tinha voltado no meu apartamento para pegar o carrinho e a papinha de Henry, para podermos deixá-lo mais confortável quando fôssemos jantar, então, alimentei-o e o deitei, levando-o para perto da mesa de jantar, que eu tinha ajudado Any a pôr.
Usando luvas de tecido, ela veio trazendo a travessa, colocando-a ao centro da mesa. Havia queijo derretido sobre o macarrão, e a aparência dele estava incrível. Assim que coloquei a primeira garfada na boca, percebi que estava maravilhoso também.
— Você é boa cozinheira — comentei, ainda de boca cheia.
— Acredita que eu não sabia fazer quase nada? Aprendi com vovó. Ela me ensinou tudo neste ano que passei morando com ela. Mesmo no passado, quando teve funcionárias em casa, tendo condições financeiras para isso, sempre se aventurou na cozinha.
— É como um hobby, não?
— Com certeza. Quase uma terapia. — Ela pousou o garfo no prato e limpou a boca em um guardanapo. — E você, Josh? Tem hobbies?
Terminei de mastigar lentamente a massa, tomando meu tempo, porque aquela era uma pergunta que não me faziam há muito tempo.
— Eu gosto de... desenhar. — Parecia um pouco infantil se dito assim, mas era a verdade. E queria que ela soubesse a verdade sobre mim, por mais tola e simples que fosse.
— Desenhar? — Any pareceu surpresa, erguendo as sobrancelhas.
— Quando criança eu queria trabalhar com quadrinhos, sabe? Super-heróis e essas coisas assim. Só que... — Dei de ombros, enrolando mais um pouco de macarrão no garfo. — A vida nem sempre segue os nossos sonhos, né?
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O Último Desejo ¡! BEAUANY
RandomBEAUANY ¡! Fazia um ano que eu tinha Josh Beauchamp como vizinho, mas não sabia nada sobre ele, apenas que era um homem calado, frio, sisudo e meio rabugento. Mas bonito como o pecado, rico, CEO de uma empresa milionária e pai do bebezinho mais fof...