JOSH BEAUCHAMP
Dormir não era uma opção. Não naquela noite. Não depois de tantos pesadelos consecutivos. O único motivo pelo qual eu gostava das sextas-feiras era esse: ter a opção de nem tentar pegar no sono. Durante o dia, se eu precisasse – e se Noah estivesse em casa para olhar Henry para mim –, poderia tirar um cochilo.
Eu julgava meu irmão, mas se tivesse a opção de trocar a noite pelo dia, eu também o faria.
O quarto de Henry era uma opção muito melhor do que o meu também, porque, de vez em quando, podia olhar para o meu bebê e usá-lo para me acalmar. Ouvir seus sons delicados e deliciosos enquanto lia era quase terapia para mim.
O silêncio me assustava às vezes. Naquela noite, no entanto, Noah estava em casa. O que era um milagre. Estava na sala, com seu notebook no colo, assistindo a algum filme de ação, onde só se ouviam tiros e explosões.
Ao menos alguém estava se divertindo.
Eu nem lembrava qual era a sensação... Não tinha esse direito.
Tentava afastar a auto-piedade quando ouvi um grito. Assustou-me de início, mas lembrei que provavelmente deveria vir do filme que Noah assistia. Não dei muita atenção até meu irmão surgir correndo, como um tornado, e parar diante da minha porta.
— Veio da casa da D. Márcia — ele falou, parecendo assustado.
Demorei um pouco para entender, mas logo um estalo me fez arregalar os olhos.
— O grito? Não foi do filme?
— Não, porra! — Noah nem me deu tempo de falar mais nada, apenas saiu da minha frente, desesperado.
Eu poderia muito bem deixá-lo resolver o que quer que tinha acontecido.
Era um grito de mulher jovem, provavelmente da moça do elevador. Talvez ela tivesse uma tendência ao drama, fosse um grito por uma barata, um rato, e meu irmão tinha bem mais o perfil do herói de donzelas indefesas do que eu.
Ainda assim...
Levantei-me, pegando a babá eletrônica, dando uma olhada em Henry, e segui para o corredor do andar, deixando a porta do meu apartamento aberta, para o caso de o bebê chorar, deparando-me com Noah ainda esperando diante da porta. Ele batia mais uma vez, com força.
— Ei, está tudo bem aí? — falou com autoridade, mas não ouvimos nada.
Então ele se voltou para mim: — Você acha que deveríamos arrombar?— Claro! Ótima ideia. Dois homens arrombando a porta da casa de duas mulheres, sendo uma idosa — meu tom de escárnio não poderia ilustrar melhor as coisas do que minhas palavras. — Você está sem camisa, pelo amor de Deus!
— Não é como se eu tivesse pensado muito antes de sair. Eu acho que...
Antes que Noah pudesse terminar de falar, a garota abriu a porta. Assim que olhei para ela, dei-me conta de que claramente não se tratava de algo exagerado. Não era o chilique de uma garota sem noção.
Seus olhos amendoados estavam vermelhos, ela parecia pálida – quase prestes a desmaiar novamente – e cansada.
— Nós ouvimos um grito. O que aconteceu? — Noah era muito melhor do que eu naquele tipo de coisa. Para ser sincero, eu nem sabia o que estava fazendo ali.
— Minha avó... ela... ela...
A garota mal conseguia falar. Fosse o que fosse que tinha acontecido com ela, era melhor agir, porque estava em choque.
Simplesmente empurrei a porta que ela segurava e entrei no apartamento sem nem ser convidado. Ninguém protestou contra, então adiantei-me e logo vi D. Márcia sentada em uma poltrona, com a cabeça tombada para trás, olhos abertos e vítreos.
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O Último Desejo ¡! BEAUANY
RandomBEAUANY ¡! Fazia um ano que eu tinha Josh Beauchamp como vizinho, mas não sabia nada sobre ele, apenas que era um homem calado, frio, sisudo e meio rabugento. Mas bonito como o pecado, rico, CEO de uma empresa milionária e pai do bebezinho mais fof...