Capítulo 23

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JOSH BEAUCHAMP

Ainda estava sentado no sofá, com a carta na mão, depois de lê-la, sem reação. Como era possível que uma pessoa que negligenciei por um bom tempo tivesse tamanha consideração por mim? A forma como contou minha história, com tanto respeito e cuidado, como foi carinhosa, como pensou em cada detalhe.

E ela estava certa. Não poderia haver melhor pessoa para me tirar do abismo onde eu vivia além de Any.

A garota preciosa que eu magoei. Que estava machucada por minha culpa.

Queria ter coragem de me levantar e ir atrás dela, de dizer tudo o que estava sentindo, mas precisava de alguns minutos. Odiava pensar que estava lá em cima sozinha, talvez pegando no sono quando não poderia, mas temia minhas próprias reações. Precisava cuidar das emoções dela também, depois de um baque como o que sofrera.

As palavras dela ficaram brincando na minha cabeça. Nós éramos duas almas solitárias. Cada um ao seu modo. Cada um lidava com isso de formas diferentes.

Any soubera pegar sua tristeza e mascará-la com esperança. Eu peguei a minha e permiti que me destruísse. Quando ela surgiu, um pouco de sua luz me inundou, porque era isso que fazia: ela iluminava tudo.

Só que se eu também era parte daquela missão, mesmo que indiretamente, precisava fazer a minha parte. Any começara, e eu tinha que continuar.
Aquela garota doce e inocente me salvara. Era hora de eu fazer o mesmo por ela.

Coloquei a carta cuidadosamente de volta na caixinha, dobrada como antes, e me levantei. Subi as escadas degrau por degrau, controlando minha vontade de correr como um louco, irromper porta adentro e me ajoelhar na frente dela pedindo perdão. Só que quando cheguei, Any estava deitada na cama, encolhida, e eu temi que tivesse adormecido.

Sentei-me ao seu lado, mas antes que pudesse tocá-la, ela anunciou:

— Estou acordada.

Eu não disse nada em princípio, apenas me deitei ao lado dela, enlaçando-a com um braço e puxando-a contra mim.

Any não resistiu, mas eu a senti respirar fundo, sem saber interpretar o que estava pensando.

Ok, eu não podia ler seus pensamentos, mas podia expressar os meus. E eu precisava que ela soubesse que o que eu sentia não era leviano. Que ela era mais para mim do que jamais poderia imaginar.

— Eu te amo — sussurrei no ouvido dela, sentindo toda a sofreguidão da minha voz. Porque queria que acreditasse. — Nunca disse isso para ninguém, Any. Só para o meu filho.

— Nem para sua esposa? — a voz meiga soou um pouco embargada.

— Não. Nunca dissemos que nos amávamos. Mas estou dizendo para você. Porque é verdade.

Ela se remexeu devagar, virando-se na minha direção, colocando-nos olhos nos olhos. Estava escuro, e eu só conseguia enxergá-la por causa da iluminação de fora da janela, que basicamente vinha da lua, o que tornava a silhueta de Any como algo prateado e muito lindo.

— Não importa o que nos juntou, Josh. Importa é aonde chegamos. O que somos um para o outro — ela falou bem baixinho, suave, fazendo-me suspirar.

— E o que eu sou para você? — a pergunta saiu no susto, quase sem controle.

Any hesitou. Fiquei com medo de que sua resposta fosse algo que eu não queria ouvir; algo que iria colocar um ponto final ou uma barreira entre nós.

Ou talvez eu estivesse desesperado demais – coisa de quem tinha culpa no cartório.

— Você é perfeito para mim.

Abri um sorriso sem nem perceber.

— Mesmo sendo ranzinza, sisudo e mal humorado?

— Você também é terno, gentil, atencioso e sexy.

O sorriso tornou-se uma risada contida.

— Sexy?

— Bastante. Mas mais do que tudo... você cuida de mim. Sempre cuidei dos outros, mas não sabia que precisava de alguém que retribuísse.

— Vou continuar cuidando, amor. De todas as formas. — Levei a mão ao rosto dela, acariciando-o com ternura. — Me desculpe por ter te machucado.
Eu não queria...

— Sei que não. Mas sabe como você pode cuidar de mim agora?

— Hum?

— Estou ficando com sono, mas acho que se você me beijar, eu posso despertar. Não funciona com as princesas?

Ela realmente era adorável.

— Posso tentar, mas não sou um príncipe — disse, em tom de brincadeira.

— Você sabe ser quando quer.

— Então vamos fazer uma coisa? Eu vou ficar te beijando a noite inteira para você não dormir.

— A noite inteira?

Puxei-a mais para perto, com cuidado, começando a roçar minha boca na dela, devagar, sentindo sua respiração se embolar com a minha.

— A vida inteira — falei em um sussurro rouco, já cheio de desejo, antes de assaltar seus lábios em um beijo que eu precisava tanto quanto ela.

E eu a beijei, beijei e beijei. Conversamos também, e ela me contou coisas principalmente da época do orfanato, sempre falando com carinho do lugar, mas também com um pouco de melancolia, porque eles precisavam de verba. Ela mesma fazia doações constantes, desde que a avó faleceu e lhe deixou a herança, mas isso começou a criar ideias na minha cabeça.

Talvez eu pudesse pensar em algo...

Deixei-a na cama, dormindo, quando já passava de dez e meia, mais do que o horário estipulado pela médica. Eu estava exausto também, mas não iria conseguir dormir. A campainha tocando foi a deixa que eu precisava para me levantar.

Desci e atendi a porta para meu irmão e Henry, em seu colo.

Porra, que saudade que eu estava do meu bebê.

Papá! — ele exclamou, feliz em me ver, praticamente jogando-se no meu colo. Peguei-o, beijando sua cabecinha e acomodando-o nos braços.

— Ele estava chorando e pedindo por você. Decidi trazê-lo para que não precise sair do lado de Any.

Coloquei uma mão no ombro de Noah.

— Obrigado por tudo. Por ter me ajudado ontem. Se não fosse você na praia... eu não sei o que deu em mim — confessei.

— Você teria dado conta sozinho. Só estava assustado, Josh. É normal.
Era a sua mulher ali, machucada...

Minha mulher.

Gostei muito do som disso.

Mais do que esperei gostar.

Eram pensamentos grandiosos demais para aquele momento. Talvez a perspectiva de perder Any tivesse me afetado demais, mas não poderia negar que pouco antes do acidente pensei no conceito de família ao vê-la com meu filho.

Fosse como fosse, era cedo demais para esse tipo de coisa.

— Mesmo assim — continuei —, você cuidou de Henry, se preocupou, resolveu as coisas. Agiu quando precisava agir. — Abri um sorriso constrangido. — Talvez eu venha sendo injusto quando ainda penso em você como aquele garoto inconsequente.

— Também não coloque muita fé em mim. Nem tudo mudou. Estou te trazendo seu guri, porque vou aproveitar que dormi cedo ontem para ir à praia de novo com a Sina. Hoje, provavelmente, não volto mais para casa, ok? — ele foi dizendo, enquanto colocava os óculos escuros. — Jenny está em casa.

Eu não ia dizer nada, mas antes de cruzar a porta, ele ainda se voltou para mim.

— Mas estarei com o celular, se você precisar de alguma coisa.

Assenti, e ele finalmente saiu.

É, meu irmãozinho tinha crescido. Ao menos um pouco.

Continua....

Gente agora eu vou postar um capítulo um dia sim e um dia não

O Último Desejo ¡! BEAUANY Onde histórias criam vida. Descubra agora