Capítulo 12

4K 320 54
                                    

ANY GABRIELLY

Eu estava mais devagar do que de costume. Era o que uma noite mal dormida causava em um ser humano.

Tinha prometido a mim mesma que iria começar a procurar um emprego na semana seguinte, então estava preparando meu currículo. Eu tinha me formado em um colégio normalista, então poderia lecionar para crianças, mas minha vontade mesmo era fazer uma faculdade, mas nunca encontrei a área que se encaixasse comigo. Claro que com o dinheiro que minha tia-avó me deixou eu poderia sobreviver sem me preocupar com o trabalho em si, mas queria uma ocupação. Ficar o dia inteiro em casa, sem companhia, estava começando a se tornar algo muito triste.

E nada pior do que a cabeça vazia para abrir a porta para pensamentos inoportunos.

Pensamentos tipo... o meu vizinho carrancudo – que nem era mais tão carrancudo assim.

E aí estava o problema: enquanto Josh era apenas o cara antipático da porta ao lado, era mais fácil lidar com ele. Só que conhecê-lo um pouco melhor, saber mais sobre o cara por trás da fachada, me fazia pensar demais nele. De formas impróprias.

No quanto era bonito, no quanto deveria ter sofrido e no quanto merecia uma segunda chance. Só que nada disso deveria me dizer respeito.

Enquanto customizava um modelo de currículo que achei na internet, ouvi a campainha tocar. Deixei o notebook sobre a mesinha de centro, levantando-me do sofá e apressando-me para atender. Olhei no olho mágico primeiro e me deparei com Noah do outro lado da porta.

Noah?

O que ele poderia querer comigo?

Ainda assim, abri a porta, encontrando aquele sorriso sacana que poderia molhar a calcinha de qualquer uma. Mas não a minha.

— Pela sua cara, percebo que você está bem surpresa em me ver — ele falou, simpático

— Você é bem observador — respondi no mesmo clima. Não o conhecia direito, mas ele sempre era agradável.

Bem diferente do irmão. Ainda assim, por mais bonitos que os dois fossem, Josh me atraía bem mais, ao menos em relação à aparência, e...

Opa... Espera. Atraía? De onde isso surgiu?

— Posso entrar? Não vou demorar, estou de saída.

— Claro! — Abri passagem para que ele entrasse e fechei a porta.
Quando me virei de volta para Noah, ele estava com as mãos nos bolsos, checando o apartamento ao seu redor.

— Sei que já estive aqui antes, no dia fatídico, mas não me dei conta de que este lugar é bem a cara da D. Márcia. Eu a conheci mais quando era criança, mas que senhorinha adorável ela era.

— Demais.

— Eu não tive oportunidade de dizer que sinto muito por sua perda. Perdi uma mãe também, embora em outras , mas é doloroso.

— Você também perdeu a sua cunhada, né? — tentei, em uma artimanha para sondar mais o terreno.

Se eu tinha que ajudar Josh, precisava estar munida de todas as informações que pudesse conseguir. E Noah poderia ser uma fonte inesgotável delas.

— Não éramos assim tão próximos. Tenho plena certeza de que ela não gostava nem um pouco de mim. — Nossa, ele era sincero. O que era bom para mim.

— Sinto muito.

— Não sinta. Taylor também não era a minha pessoa favorita no mundo. Ela não fazia bem ao meu irmão. Foi ela que o incentivou a sair da terapia.
Josh sofreu bem mais do que eu com o abandono da nossa mãe.
Provavelmente porque era mais velho e entendia mais as coisas. Cada um de nós carregou as consequências disso. Ele entrou em depressão, e eu tenho pavor de compromisso — ele falava como se não fosse grande coisa. Como se não passasse de uma constatação sobre um dia nublado ou um comentário sobre um livro ruim.

O Último Desejo ¡! BEAUANY Onde histórias criam vida. Descubra agora