Capítulo 03

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JOSH BEAUCHAMP

Atrasado. Eu estava atrasado.

E se tinha uma coisa que eu odiava era chegar na empresa em cima da hora para uma reunião. Eu era um pouco metódico. Gostava de chegar, ligar meu ar condicionado da sala bem gelado, acomodar-me, ler as notícias com calma, checar meus e-mails, tomar um café e falar com minha secretária sobre as tarefas do dia. Daquele jeito, eu só iria ter tempo para o café e olhe lá.

Fora culpa de Noah, é claro. Ele tinha esse poder de ser desagradável quando queria. Que ideia de merda mencionar minha viuvez logo de manhã.

Acabou me obrigando a passar mais horas na sala de musculação, puxando ferro para tentar controlar meu mau humor que ele conseguira tornar pior. Em uma reunião com o CEO de uma empresa multinacional, com quem estávamos prestes a fechar um contrato gigante, eu não poderia estar rosnando e resmungando como um velho.

Não funcionou. E o alvo que poderia me causar menos danos foi a garota desastrada em quem esbarrei.

Provavelmente era a tal que morava com D. Márcia. Não fazia ideia de quem era, porque sabia que minha vizinha idosa nunca se casara, muito menos tivera filhos que pudessem lhe dar netos. Mas também não me interessava. Eu estava atrasado para o trabalho, e isso era o importante naquele momento.

Só que minha sorte parecia ter me dado adeus naquele momento, porque a porra da energia caiu, fazendo o elevador parar no meio do caminho.

- O que... o que foi? - a garota perguntou ao meu lado, gaguejando e assustada, logo que as luzes de emergência se acenderam, iluminando porcamente a caixa de aço onde estávamos presos.

- Queda de energia - respondi em um resmungo, apertando o botão de emergência, que fez um estardalhaço insuportável. Começar o dia com uma dor de cabeça também não era algo que me agradasse.

Ao menos a garota ficou calada. Seria péssimo se além de tudo ela começasse a falar pelos cotovelos.

Puxei meu celular de dentro do bolso do paletó, para avisar minha secretária do atraso.

Ok, nem o café eu conseguiria tomar. Mas se resolvessem aquela merda rapidamente, eu poderia, ao menos, chegar a tempo da reunião.

O aparelho estava sem sinal.

Merda!

Dei uma olhada na garota, quase já arrependido do que estava prestes a fazer, mas era uma questão importante.

- Seu celular está com sinal? - perguntei novamente em um resmungo, e ela virou a cabeça na minha direção como um chicote, como se eu a tivesse surpreendido.

Não tinha passado nem três minutos que estávamos ali dentro, presos, mas havia gotas de suor em sua testa. Seus olhos estavam arregalados, como se ela estivesse prestes a ter uma síncope.

- Eu estou sem celular.

- Quem, em sã consciência, sai de casa sem celular? - ouvi a mim mesmo falando, em um rompante, embora não fosse da minha conta.

- Não sou muito fã de celular. Tenho porque preciso por causa da minha avó. Só saí agora, porque esqueci a droga da mandioca para a sopa dela. Que azar! - a moça praticamente choramingou, enfiada em um canto do elevador, segurando-se nas paredes como se ele pudesse cair a qualquer momento.

Não era de celular... que coisa mais absurda! Ninguém era fã de celular. Era um mal necessário.

Impaciente, apertei novamente o botão de emergência, fazendo-o soar como o guinchar de um animal no cio. O que era uma atitude ridícula.
Obviamente os porteiros sabiam que estávamos presos.

O Último Desejo ¡! BEAUANY Onde histórias criam vida. Descubra agora