ANY GABRIELLY
Era como esperar poder conversar com uma porta.
Uma bela porta, sem dúvidas, mas não mudava o conceito.
Só que, de alguma forma, isso não me despertou ranço nem nada parecido. O que me despertou foi compaixão.
Novamente aqueles olhos tristes pareciam um pouco perdidos, como se a ideia de ter alguém por perto, com quem ele precisava dialogar e agir como uma pessoa normal, fosse quase dolorosa. Era como observar um daqueles garotos de Ensino Médio, pronto para fazer um teste decisivo em sua vida, mas para o qual ele não sabia nenhuma das respostas.
Mas como o silêncio era ainda mais desconfortável, optei por tentar.
— E então... minha avó disse que você é dono de uma empresa, mas nunca me explicou qual é o segmento dela — puxei um assunto completamente aleatório, imaginando que se ele era bem sucedido nos negócios, falar sobre sua profissão poderia ser algo seguro.
— Ah, nós terceirizamos pessoal. Somos intermediários na contratação de funcionários para outras empresas.
— Hum. — Eu esperava muito não parecer tão decepcionada com o fato de até o negócio dele ser completamente tedioso. Pobre homem. — E você gosta do que faz?
Josh deu de ombros.
— Dá bastante dinheiro.
— Mas isso não é tudo.
— Muita gente trabalha no que não gosta para ganhar um salário mínimo.
É um trabalho um pouco mecânico e sem grandes emoções, mas eu sou rico.Ao menos ele não era hipócrita.
Começando a me sentir um pouco cansada, remexi-me no sofá e tentei me colocar em uma posição mais confortável, embora não quisesse parecer que estava me sentindo em casa demais.
— Pessoas ricas costumam gostar de morar em mansões. Por mais que este prédio seja luxuoso, não é exatamente um palácio.
— Já morei em uma mansão. Só que ela começou a parecer grande demais.
Oh!
Claro... que idiota, Any! O cara tinha perdido a esposa!
Então eu fiz uma pergunta que simplesmente escapou. Uma que provavelmente eu deveria ter engolido, mas que saiu sem controle, como muitas das coisas que eu fazia ou falava.
— Como ela era? Sua esposa...
O rosto bonito de Josh, que estava voltado para o lado contrário girou na minha direção como um chicote. Seus olhos muito azuis se arregalaram, como se realmente não esperasse que eu fosse fazer uma pergunta daquela natureza.
Josh hesitou. Ficou observando-me por alguns instantes, como se avaliasse se seria mais seguro me mandar catar coquinho e não me intrometer onde não era chamada. Com certeza, em qualquer outra situação, teria feito exatamente isso, mas algum tipo de elo foi criado entre nós ali.
Ele amava o filho. Isso era mais do que notório. Sabina não estava muito errada quando afirmou que a única forma pela qual eu conseguiria escalar o muro que Josh havia construído entre si era através do pequeno Henry. Então, de alguma forma, lá estávamos nós, quebrando o gelo.
Eu não fazia ideia se isso nos levaria a algum lugar. Se isso nos tornaria amigos. Mas se precisava ajudá-lo, não poderia manter nossa conversa apenas no agradável, no social. Por mais complicado que pudesse parecer, eu tinha que acessar o Josh profundo, o que ele não mostrava para ninguém.
Vi seu peito largo subir e descer em uma respiração profunda, como se ele estivesse prestes a se render.
— Ela era linda. Inteligente. Mas não muito carinhosa ou terna. Era muito parecida comigo.
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O Último Desejo ¡! BEAUANY
RandomBEAUANY ¡! Fazia um ano que eu tinha Josh Beauchamp como vizinho, mas não sabia nada sobre ele, apenas que era um homem calado, frio, sisudo e meio rabugento. Mas bonito como o pecado, rico, CEO de uma empresa milionária e pai do bebezinho mais fof...