• Capítulo 16 •

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• Luana •

Ivana: Você vai se atrasar para o trabalho, deixa que eu termino de dar comida para ele.

Encaro ela surpresa, sem nem entender porque minha mãe está se oferecendo para me ajudar assim do nada. Eu estou mesmo atrasada, mas precisava dar a comida do Miguel antes de sair para ele não ficar manhando de fome depois.

Então se fosse outro dia, eu recusaria, já que estou cansada da minha mãe me fazer um favor para depois jogar na minha cara como eu sou ingrata. Mas hoje aceito a ajuda só por conta do horário. Eu nem me vesti pro trabalho ainda!

Luana: Obrigada, mãe. - sorrio fraco, passando o pratinho de banana amaçada para ela.

Saio andando devagar, olhando toda a hora por cima do ombro, um tanto desconfiada. Mas Miguel come bem bonitinho na cadeirinha de comida que eu comprei faz alguns dias.

Com o dinheiro que sobra do WJ, compro tudo de mais caro para o meu filho, como bebê conforto, essa cadeirinha de comida e frauda, muita frauda. O resto, como roupas, brinquedos, mamadeira e chupeta eu compro com o dinheiro que eu ganho na loja.

Ja disse, o dinheiro que WJ da seria mais que o suficiente para dar uma vida de rei para o Miguel, mas como meus pais tomam conta da maioria e eu não tenho como nem reclamar, porque dependo de continuar morando na casa, preciso ter um emprego.

Tentando ficar tranquila de deixar Miguel sozinho com os meus pais, subo para me arrumar um pouco correndo, sabendo que eu estou muito atrasada já.

Coloco a camiseta da loja, junto com uma calça legging preta simples, além do meu Vans de guerra que tenho desde dos quatorze anos. Meu pé, e nem eu, crescemos desde que eu tinha essa idade.

Faço minhas higienes no banheiro também, colocando perfume e prendendo meu cabelo em uma rabo de cavalo alto, o que ainda deixa ele na minha cintura.

Meu cabelo é uma das coisas que eu mais amo em mim e cuido dele com a minha vida. Não corto além das pontinhas desde de pequena, amo ele assim grandão na cor natural.

Já tentei ficar loira em uma época, mas fodeu todo a saúde do meu cabelo, além de combinar zero comigo. Voltei pra cor normal e desde daí nunca mais maltratei ele com química e nem nada.

E ele apesar dele ser bem fino e liso, fica ondulado nas pontas se eu não seco com secador depois do banho, ou durmo com ele amarrado. Gosto dos dois jeitos, então nem me incomodo com isso.

Desço as escadas revisando tudo dentro da minha bolsa e quando eu escuto um chorinho baixinho, juro que meu coração dói. Ando rápido até a cozinha pra encontrar Ivone socando uma colher de comida na boca do meu filho, mesmo ele virando a cabeça e chorando.

Luana: O que você tá fazendo? - pergunto quase gritando, a puxando para longe dele.

Ivana: Esse moleque não quer mais comer! - bufa, jogando o pratinho e a colher na pia.

Luana: Exatamente! Ele não quer mais, então é só não dar mais.

Ivana: Ele mal comeu, vai acabar passando fome.

Luana: Se ele tiver fome, eu vou dar leite ou mais uma banana depois, mas não socar um monte de comida no meu filho em apenas uma refeição!

Mal percebo que falei tudo isso gritando, mas foda-se, estou puta da vida comigo por ter confiado em Ivone mais uma vez.

Pego Miguel, que está mordendo a mãozinha com o rostinho todo molhado de choro e uso seu babador para limpar o restinho de banana da sua boca. Beijo sua bochecha, sabendo que estou sendo observada pelos meus pais.

Luana: O que foi? - pergunto sem paciência nenhuma.

Sérgio: Você fala como se soubesse o que está fazendo. - nega com a cabeça, rindo de lado - Vamos ser sinceros, essa criança estaria muito melhor em um orfanato do que com você.

Engulo seco, sentindo minha alma doer pelo impacto das suas palavras. Nem consigo cogitar deixar Miguel em um orfanato!

Luana: Não estaria não, porque Deus me escolheu para gerar o Miguel por algum motivo. - digo firme, vendo meu pai rir de novo e minha mãe bufar.

Ivana: Deus não castigaria uma criança para nascer filha de uma vagabunda irresponsável igual você. Isso é obra do Diabo!

Vagabunda irresponsável. Uma vagabunda irresponsável que estuda e trabalha, porque os pais são uns filhos da puta que roubam o dinheiro que deveria ser usado para o neto deles.

Mas eu sou uma vagabunda irresponsável, né. Na visão deles, sempre vou ser.

Sérgio: Vamos jantar na casa da sua tia, sua vó está de visita, então esteja aqui antes das 19h. - diz como se não tivesse me ofendido a poucos minutos.

Respiro fundo e puxo o máximo de calma que eu consigo dentro de mim, balançando a cabeça sem dizer nada. Minha vontade é gritar com eles, mas agora é melhor eu apenas evitar brigas para proteger o meu filho.

Logo mais estaremos longe dessa casa e longe dos meus pais, o máximo que eu conseguir! Miguel, se Deus quiser, nunca mais vai ter contato com esses avós de merda.

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Sem revisão, então ignorem se tiver erros

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