Falcão: Tá indo trabalhar? - ouço atrás de mim e olho por cima do ombro, vendo ele vindo pra perto.
Assinto sem responder. Minha cabeça ainda dói por causa da discussão recente com os meus pais e eu penso que Falcão percebeu pelo jeito que me olha.
Falcão: Sua mãe não pode ficar com ele?
Luana: Miguel provavelmente vai dormir a tarde toda. - respondo meio sem responder.
Não quero falar que minha mãe é uma filha da puta que eu não confio tanto para deixar o Miguel. Não quero que Falcão fique ouvindo eu reclamar igual uma garotinha mimada. Mesmo que os meus problemas não sejam de uma garotinha mimada e sim de uma adolescente que fez a merda de engravidar cedo demais.
Falcão: Tenho o dia de folga hoje, te importa se eu ajudar?
Pela primeira vez desde que chegou, eu o encaro com a testa franzida. Meu primeiro reflexo é negar, dizer que não precisa e que ele não pode me ajudar lá na loja, porque vai que minha chefe vê e fica brava ou sei la.
Mas não faço nada disso.
Luana: É só eu hoje lá, então acho que não tem problema se você ficar. - digo baixo, dando de ombros.
Viro o rosto quando Falcão me da um sorriso enorme, andando todo felizinho do meu lado. Sério, porque ele tem que ser tão lindo e fofo comigo? Seria muito mais fácil se ele fosse um nojento, eu conseguiria dar um fora sem problema nenhum!
Quando chegando na frente da loja, destranco a porta da mesma e nós dois entramos. Ligo o ar-condicionado e coloco o bebê conforto com o Miguel apoiado em uma cadeira atrás do balcão. Dou um chocalho que ele fica balançando todo vidrado.
Luana: Eu tenho que organizar o estoque. - suspiro, pondo as mãos na cintura - Separar por tamanho e modelagem.
Falcão: Tranquilo, pô. - bate as mãos esfregando as mesmas - Mamão com açúcar, faço rapidinho isso daí.
Reviro os olhos e sorrio enquanto puxo ele até o estoque, nós carregamos umas caixas e eu instruo ele onde e como colocar as peças de roupa nas estantes.
Falando sério, achei que ele mais me atrapalharia do qualquer coisa, mas até que está se saindo bem, organizando tudo certinho. Quem não está rendendo nada sou eu, que toda hora me pego olhando Falcão todo concentrado enquanto dobra as roupas como se fosse a coisa mais difícil do mundo.
Desperto de uma das minhas encaradas nada discretas na direção dele ouvindo meu celular vibrar no balcão do caixa. Ando até lá e pego o mesmo, vendo uma mensagem da Ivone me lembrando do jantar na casa da minha tia Carmen, irmã da minha mãe.
Luana: Merda! - xingo quando vejo que já passou das seis da tarde.
Eu ainda preciso passar em casa para tomar um banho e estar na casa da minha tia as sete. Ou pelo menos eu queria fazer isso, mas acho que não vai dar tempo nem para trocar de roupa. Sorte que eu sempre trago uma blusa extra para emergências.
Não é das mais arrumadas que eu tenho, é bem básica, mas pelo menos não vou com o unciforme da loja. Dos grandes males, o menor, né.
Falcão: Tá tudo tranquilo? - olho para ele, que está parando me encarando e eu assinto - Mesmo? Pode me falar se tiver acontecido alguma parada.
Luana: Não quero te encher com os meus problemas. - nego com a cabeça.
Falcão: Mas eu quero, caraí! - fecha a cara, cruzando os braços - Me fala o que tá te incomodando.
Eu suspiro e largo meu celular ali, me encostando no caixa enquanto esfrego as mãos no rosto. Minha vontade é chorar agora mesmo, de pura exaustão! Parece que as coisas constantemente dão errado na minha vida, o tempo todo.
Luana: Briguei com os meus pais mais cedo, como sempre.
Falcão: Eles são difíceis? - pergunta se aproximando e eu rio sem achar graça.
Luana: Difícil é elogio. Eles são ignorantes, sem noção, desrespeitosos e uns filhos da...
Falcão: Olha a boca, garota! - me interrompe rindo e aponta para o Miguel - Teu filho aí ouvindo tudo, pô. Respira.
Luana: Desculpa, é que eles realmente me tiram do sério. - respiro fundo, tentando me acalmar - Tento ser uma pessoa calma, aquela coisa de atrair boas energias, mas é impossível com o baixo astral horroroso na minha casa. Sério, eles passam todo o tempo reclamando de tudo e... E eu to fazendo igual eles. - choramingo, tampando meu rosto com as mãos.
Me viro de costas para Falcão quando sinto meu nariz arder pela vontade de chorar. Ele deve me achar uma maluca sensível, que vergonha. Nem sei porque eu deixei ele vir me ajudar, estou dando abertura para ele conhecer as minhas faces mais humilhantes e isso não é...
Paro de pensar completamente quando sinto seus braços abraçarem a minha cintura e seu corpo grudar no meu. Fico travada no início, sem entender o que Falcão está fazendo e aos poucos eu me permito relaxar.
Respiro fundo diversas vezes, tentando regular as batidas do meu coração e acalmar a dor no peito que eu sinto, além de afastar a vontade devastadora de chorar, o que demora alguns minutos. Mas Falcão não reclama e nem me solta, fica quietinho enquanto me abraça e beija meu ombro.
Quem vê de fora pode até pensar que somos um casal, o que me deixa receosa. Falcão está fazendo um jogo perigoso comigo e, na moral, meu coração não quer tomar uma bolada na cara.
Luana: Minha chefe vai me matar se ver nas câmeras que você me ajudou. - rio de lado, um pouco mais tranquila - Mas eu lido com isso amanhã, preciso ir para casa. - me solto dos seus braços e me afasto um pouco para olhar no seu rosto.
Falcão: Já? - olha para o seu relógio no pulso e arregala os olhos quando vê o horário. Acho que nenhum de nós sentiu o tempo passar.
Luana: Vou jantar na casa da minha tia, minha vó tá de visita.
Falcão: Jantar com a sua família, que barra! - faz careta e eu rio.
Luana: Pseh, é sempre uma briga quando nos reunimos, porque minha tia e minha vó são uns amores, enquanto meus pais são... bom, eles.
Falcão fica em silêncio, me encarando com um olhar estranho pra caralho. Estreito os olhos e cruzo os braços depois de uns segundos, sabendo que esse olhar quer dizer que ele está pensando em alguma das suas ideias malucas e sem noção.
Falcão: Tô ligado que cê vai negar, mas eu posso ir com você se quiser. - fala dando de ombros.
Luana: Tá falando sério? - pergunto de volta, sem acreditar - Você quer ir jantar com a minha família?
Falcão: Você me odeia, mas eu tô completamente na tua, garota! - faz drama e eu reviro os olhos, sorrindo de lado - Janto com a tua família inteira e a minha juntas se for pra ser.
Reprimo o suspiro que quer sair de mim e cruzo mais forte os braços, quase como se fosse um escuto para as coisas que ele diz não chegarem no meu coração. Seria tão mais fácil se essa merda funcionasse de verdade.
Luana: Ivana e Sérgio vão passar o jantar todo me criticando e a minha tia e a minha vó são bem barraqueiras, então... tem certeza, Falcão?
Falcão: Nessas duas semanas que cê me conhece, já me viu dar pra trás? - sorri convencido e eu arqueio uma sobrancelha - Não responde.
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Crime Perfeito
Fiksi Penggemar||+16|| "Ela é o meu crime perfeito, a mulher da minha vida e nem tô falando na emoção não, pô. Nosso amor é muito mais forte do que toda a maldade desse mundo"