• Capítulo 20 •

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• Luana •

maratona 1/4

Encolho minhas pernas no sofá, as abraçando contra o peito e pisco os olhos, os sentindo assados em volta pelo tanto que já chorei. Nem um banho quente me fez relaxar e esquecer tudo que aconteceu essa noite.

Assim que viemos para a casa do Falcão, ele praticamente me obrigou a ir tomar um banho enquanto fazia o Miguel dormir. Não fui contra porque não tinha forças nem para falar, imagina brigar. Então obedeci e tentei tomar um banho bem quente e relaxante.

Claro, na teoria, porque na prática eu sai do mesmo estado de quando entrei, com um aperto fodido no peito e uma sensação forte de desamparo.

Luana: Eu não acredito que eles realmente me expulsaram... - sussurro para mim, mesmo sentindo o olhar do Falcão me queimando.

Estamos na sala da casa dele, já que Miguel está dormindo no seu quarto e e não queríamos ficar para lá não correr risco do bebê acordar. Eu estou vestindo uma camiseta preta bem velha e desgastada que ele me deu, além de um short folgado de moletom.

E mesmo com o meu cabelo todo molhado e despenteado, a cara acabada e essa roupas que me deixam horrível, não consigo ligar para a minha aparência no momento. Dentro de mim está bagunçado demais para eu ligar para o exterior.

Falcão: Sinto muito, garota. - fala suspirando e sinto o sofá se mexer quando ele se senta do meu lado.

Luana: Eles sempre foram assim, mas... mas se a minha vó não me acolhesse, eles me deixariam ficar na rua.

A dimensão da coisa está me atingindo desde que chegamos na casa do Falcão. Meus pais me expulsaram, me deixariam ficar na rua com o neto bebê deles, passando frio, fome e perigo. Não consigo nem medir a dor que estou sentindo, muito menos a traição que rasga o meu peito de uma forma agonizante.

Falcão: Mas eu não, pô! - fala mais alto, fazendo meu olhar se arrastar na sua direção - Acha mesmo que eu ia deixar cê e o Miguel ficar na rua ou em um pensão suja?

Mesmo ele cruzando os braços e perguntando isso de um jeito nada fofo e parecendo puto pra caralho comigo nesse momento, acabo sorrindo fraco e suspirando.

Falcão tem sido uma luz na minha vida, mesmo parecendo um tornado de vez em quando. Ele torna a minha vida mais fácil só pelo jeito leve de falar, como se nenhum problema fosse o bastante para o fazer surtar.

Luana: Obrigada de verdade, Henrique. Por tudo que anda fazendo por mim. - explico mais baixo e ele suaviza um pouco a expressão - Obrigada.

Alguns segundos depois ele suspira e puxa minha mão, beijando a mesma enquanto me puxa para me abraçar. Não reluto porque eu quero estar nos seus braços, quero sentir conforto em algum lugar. Preciso disso.

Falcão: Não tem que agradecer, pô. Cê merece isso e muito mais, Luana.

Engulo as lágrimas que queimam meus olhos, me encolhendo mais em seus braços e respirando seu cheiro.

Luana: Por favor, me conta alguma coisa sobre você pra me distrair. - imploro com a voz rouca. Eu preciso de algo para a minha mente focar sem ser a tragédia que a minha vida se tornou.

Falcão: Tá, ahm... Eu não nasci aqui, nasci lá no Bairro 13, pô, minha família toda mora lá ainda. Minha mãe, meu pai, minhas irmãs, meus tios, primos, a parada toda, ta ligado.

Luana: Sua família é muito grande? - pergunto levantando a cabeça para o olhar.

Falcão: Pra caralho, aquela gente adora fazer filho. Cê é louco!

Crime PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora