• Capítulo 14 •

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• Luana •

Na moral, eu me arrependo muito de ter vindo! Aquele ideia de que eu não posso abandonar os estudos já está quase indo embora.

Me olho do espelho do banheiro e tenho vontade de me dar um chute pela cara inchada de choro. Odeio ser tão sentimental.

Assim que eu entrei na escola, meio mundo já me encarou, a maioria ficou sussurrando na cara dura enquanto apontava pra mim, mas teve algumas pessoas que tiveram o mínimo senso e fizeram pelas costas.

Agora ja está no último período de aula e eu só quero ir embora. Não aguento mais os olhares de pena ou de nojo pra cima de mim.

Pensei em ligar para o Falcão e pedir para ele vir me buscar, mas não sei em que fase estamos para eu fazer isso. Ele já tá me dando carona, não preciso ficar incomodando mais.

Coloco o bebê conforto do Miguel em cima da pia e sorrio fraco, sentindo meus olhos se encherem se lágrimas.

Luana: Eu só não desisti de tudo, por sua causa. - sussurro passando o dedo pelas suas bochechas gordinhas.

Ele balança o chocalho babado e o coitadinho toma um susto quando o sinal da escola toca, indicando que essa merda finalmente acabou.

Me olho no espelho, vendo meu nariz vermelho por chorar e embaixo dos meus olhos um pouco inchado. Preciso passar água gelada para suavizar um pouco, pra não ficar tão na cara que eu tava chorando.

Pego o bebê conforto e saio do banheiro mantendo a minha cabeça erguida, mesmo que a minha vontade seja de sair correndo daqui. Entro na sala de aula, já vendo que a maioria das pessoas foram embora e vou até o lugar onde sentei, recolhendo as minhas coisas e pondo na mochila o mais rápido possível.

Sara: Olha quem voltou... - ouço atrás de mim e fecho os olhos com força - Eai, como foi dar pra traficante?

Sara ri igual a vadia que é, me fazendo respirar fundo antes de virar de frente pra ela.

Luana: Vai ver se eu tô na casa no caralho. Não me enche que eu to sem saco pra piadinha hoje!

Elas riem, porque a Sara nunca anda sozinha, sempre tá com alguma cobra do lado e dessa vez é a Joana, uma corna mansa. 

Joana: Engordou uns quilinhos. Não que antes você fosse muito magra, mas agora...

: Pelo menos a cabeça dela tá intacta, e a tua? - ouço uma voz do meu lado e olho pra uma garota que eu nem sabia que tava ali - Esse teu chifre cresce todo o dia mais um pouco, me poupe né.

Joana: Vai se foder, Fernanda! Você não sabe de porra nenhuma.

Reviro os olhos. Todo mundo sabe que ela é corna pra caralho e sai pra arrumar caô com as amantes do namorado igual uma tonta.

Sara: Veio aqui defender essazinha? - pergunta olhando com nojo pra nós duas.

Fernanda: Não, mas eu acho que tá na hora de retocar esse cabelo, seu loiro oxigenado tá desbotando.

Sara faz careta de nojo e vai andando e jogando o cabelo enquanto Joana só falta querer pular em cima da Fernanda. Quando as duas saem, olho para ela, vendo a garota me encarando com um pequeno sorriso sem graça.

Fernanda: Tá tudo bem? Eu não sou tão barraqueira, mas aquelas duas me tiram do sério.

Luana: Tá sim! E nem se preocupa, obrigada pelo o que fez. - agradeço, fechando a minha mochila e a colocando nas costas.

Fernanda: Tranquilo, tava louca pra falar umas verdades na cara daquelas duas faz tempo! - ri e eu sorrio lado.

Pego o bebê conforto do Miguel e começo a andar para fora da sala, só percebendo que Fernanda está atrás de mim chegamos no pátio.

Ela parece ser uma pessoa legal e também deve ser nova na escola, porque não lembro de ter visto ela antes pelos corredores. Ou ela já era daqui, só que por conta da aula em horário diferentes, nunca nos trombamos.

Fernanda: Eu sei que não é da minha conta, mas eu vi você chorando mais cedo. Sinto muito por tudo que está passando. - diz baixo, dando um sorriso fraco.

Retribuo, sentindo um pouco de vergonha por ela ter ouvido minha pequena crise existencial no banheiro, mas ignoro esse sentimento.

Luana: Tá tudo tão difícil e eu tento suportar e não abaixar a cabeça, mas as vezes é inevitável. - dou de ombros, suspirando.

Fernanda: Ninguém é forte 100% do tempo, nem se estressa. - nega com a cabeça - Não tem nada melhor do que chorar até tirar tudo de ruim que tava dentro de nós.

Concordo com a cabeça. Mesmo sendo uma merda chorar, depois eu sempre me sinto melhor, como se tivesse tirado uma parte do peso das minhas costas.

Fernanda: Ele é muito fofo. Qual o nome? - aponta para o Miguel e eu olho para ele também.

Luana: Miguel. - digo sorrindo fraco.

Fernanda: Parabéns, você pariu um anjo. - eu rio - Sério, esses olhos claros com esse cabelo escuro... Jesus amado, que bebê lindo!

Luana: Acho que eu sou suspeita pra falar, mas ele é mesmo lindo.

Falcão: Quem é lindo?

Eu sinto meu coração errar as batidas, juro que minha alma sai do corpo e volta. Tudo por esse desgraçado não saber falar sem dar susto nas pessoas.

Luana: Que susto, porra! - digo puta, me virando para Falcão - Não chega assim igual um fantasma.

Falcão: Desculpa, garota. - ri de lado e olha para Fernanda - Colfoi, sou o Falcão, pô.

Fernanda: Prazer, me chama de Fernanda. - sorri simpática e olha pra mim - Vou indo pra casa, a gente se vê amanhã, Luana.

Aceno quando ela se afasta de nós e sinto um apertozinho bom no peito. As pessoas normalmente me tratam tão mal, que quando me tratam bem eu nem sei como reagir.

Falcão: Que fofa, fez uma amiguinha. - diz, acabando completamente com o clima bom e eu olho feio pra ele - Tá pronta pra ir?

Suspiro e assinto com a cabeça, deixando Falcão puxar o bebê conforto da minha mão, apenas por eu estar com ela dolorida de tanto segurar.

Nós caminhamos em direção ao seu carro em silêncio e eu não faço questão nenhuma de preencher o silêncio.

Hoje foi um dia de merda, estou exausta, tanto mentalmente, quando fisicamente. Não aguento mais nada, só preciso dormir ou ficar vegetando enquanto vejo televisão.

Crime PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora