q u a r e n t a e c i n c o

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                           A imagem de Harry ainda afetava a minha cabeça e os meus olhos sem vida. Muito devagar virei a minha cabeça para a direção da entrada da cantina e lá estava ele. Hirto, musculado e zangado. Tinha os punhos cerrados ao lado do seu enorme corpo, a sua maçã de adão a subir e a descer rapidamente e as veias do pescoço mais salientes do que o normal. Os músculos pareciam sufucados pela t-shirt branca dele de tão tensos que estavam, dando uma visão privilegiada para as suas andorinhas e borboleta que estavam desenhados, para todo o sempre na sua pele.

Pela terceira vez engoli em seco e procurei outro ponto para poder fixar o meu olhar assustado, do zangado e indómito Harry. A razão de ele estar assim era notável. Era por causa do rapaz que me fazia companhia durante o meu 'almoço'.

Harry não gostava de Zayn e Zayn não gostava de Harry.

Não sei qual o motivo da reação do rapaz de cabelos encaracolados em relação a Zayn me fazer companhia. Coitado... ele até nem me dirigiu a palavras durante estes longos 30 minutos.

Bem, mas fui Harry que me abandonou, eu é que havia de estar zangada. Sei que estou a ser egoísta, mas neste momento é todo o que posso ser. Eu também estava raiada de raiva. Um certo ódio ocupava a minha cabeça, mas não podia. Eu sei que o ódio é o sentimento mais próximo do amor.

Então ele anda comigo a manhã toda e depois desaparece á hora do almoço sem dizer nada?

Pronto... OK!

Eu sei que ele não tem obrigação de me dizer para onde vai... mas por favor... é.... pfff... ugh! Porque é que eu o amo tanto!

"Podes vir comigo?" Uma voz rouca fala. Harry.

"E porque eu haveria de ir contigo e andar ao teu lado e olhar-te nos  olhos e respirar o mesmo ar que tu e falar contigo..." OK, porque disse isto. Porra... como ele me baralha. Olho-o e ele sorri-me maliciosamente. "...quando não temos nada para dizer um ao outro." Termino num sussurro.

"Porque sim... e porque temos que falar!"

"E se eu não quiser?" Riposto.

"Porra, podes te levantar da merda da cadeira e vir comigo?" Ele quase grita, fazendo-me arregalar os olhos e tremer, tremer de medo e eu odeio ter medo deste Harry. Imediatamente anuí levantei-me. Agarrei na mala e olhei para Zayn. Ele apenas deu-me um sorriso fraco em afirmação de que arrumaria o meu tabuleiro. Murmurei um 'obrigado' e caminhei atrás de Harry. Um passo dele eram dois meus e eu tive de acelar o passo para o poder acompanhar. Caminhava de cabeça baixa pelo corredor ouvindo os passos ferozes de Harry a bater no chão, fazendo quase estremercer todo á sua passagem. Ao sair do edifício escolar, uma brisa fresca arrepia-me a espinha e encolho-me mais. Harry ainda não tinha parado. Eu sabia que ele queria falar o mais longe possível de ouvidos apurados e pessoas cuscas. Ele não parava e aumentava cada vez mais os passos, quase fazendo-me correr para o apanhar. Nós já estávamos um bocado longe do edifício e eu cada vez ganhava mais medo, mas por outro lado ganhava coragem. Duas palavras horríveis para uma combinação.

A relva seca e por cortar habitava debaixo dos meus pés e havia muitas árvores hirtas e desgastadas pelo passar do tempo á nossa volta. Elas iam ser as nossas confidentes. Eu sabia que algum de nós ia explodir nesta conversa, e que o suor que saia dos puros de Harry vinha carregado de raiva, furor e desespero.

Num piscar de olhos, Harry estava virado para mim, imponente e hirto e sentia a sua respiração rápida e pesada bater no topo da minha cabeça. Tinha os punhos ainda cerrados e os músculos tensos. Instantaneamente dei um passo atrás e elevei os meus olhos para encontrar os seus verdes que se tornavam pretos, transbordando crueldade, de face mais carregada e indómita, de coração mais escuro que a noite.

Nunca tinha visto Harry assim. Ele estava com ódio. Mas, porque é que eu vou odiar alguém quando nunca sei a sua verdadeira razão para esse ódio?

"Porque estavas com ele?" Ele exaspera. A sua voz é como um vento furioso e forte que me obriga a dar alguns passos atrás.

" Eu... ele estava só a fazer-me companhia." Murmuro e por momentos acho a erva mais intersante do que a intensidade dos olhos dele que me queimavam o rosto.

"E porque razão ele tinha de te ir fazer companhia?" Ele ruge.

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio....

"Olha para mim! Responde-me!" Ele grita e com o tamanho dos seu enorme e poderoso rugido todo o meu ser treme, as árvores encolhem-se, as ervas sentem a terra em todo o seu 'corpo' e o vento tinha medo de passar por estas bandas.

E ai... eu não aguentei mais. Encarei-o e explodi.

"Desculpa se não podia almoçar sozinha e vi o Zayn como uma companhia ao contrário de ti. Tu desapareceste Harry e eu tive medo, porque as pessoas á minha volta estam a fazer isso e eu não queria que fosses mais uma." Grito." Mas... eu sinceramente não te percebo. Passas a manhã toda comigo e depois deixo de te ver. A Elene fui para casa, a Stef anda com o Niall e tu... bem tu fugiste de mim. A única pessoa que se importou comigo fui o Zayn. Tu sabes o quanto eu odeio estar sozinha e ... oh meu deus. Eu estou a ser tão egoísta!" Levo as mãos á cara e soluço a escorrer pela minha cara abaixo." Eu não quero ser assim, mas estam-me a obrigar a sê-lo. Estas-me a obrigar a ser assim. E eu não quero."

Silêncio.

"Tu não estavas lá para me fazer companhia. Tu fugiste e tu sabes como eu reajo a isso? Sabes?" Pergunto.

Mais uma vez, silêncio.

"Mal, muito mal. Sinto que as pessoas se estam a afastar de mim e isso é uma sensação horrível." Termino. Não tinha mais palavras. Estava completamente gasta em termos de vocabulário. Tudo o que tinha saído da minha boca já não podia ser parado nem regressar á sua origem e por momentos arrependi-me. Dei uma última olhada ao Harry que se encontrava de olhos arregalados e testa enrugada, e virei costas, começando a caminhar. Não sei o que me aconteceu, mas eu explodi. Explodi com o Harry e deitei tudo cá para fora.

Eu estava mal. Muito mal. O Liam ia embora amanhã, depois a minha mãe... ugh!

Tudo estava em cima de mim como uma nuvem negra que se caísse me esmagava como uma pedra.

"Sky! Skylar!" Harry chama.

Não respondo.

Sinto uma mão rugosa e áspera mas com uma suavidade incomparável a tocar no meu pulso, começando a enviar arrepios por todo o meu corpo. Num movimento rápido, Harry vira-me e puxa-me para o seu peito, onde enrola os seus braços na minha cintura e aperta-me contra si. Poiso as mãos no seu peito e choro. Choro por tudo. Deito tudo cá par fora, enquanto Harry passa as suas mãos nos meus longos cabelos.

"Desculpa." Disse-mos os dois ao mesmo tempo.

Harry's Sky || h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora