s e s s e n t a

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                                  O céu não mostrava qualquer tom de azul ou branco, apenas cinza e mais cinza. Estava nublado e o vento era um tanto forte fazendo o meu cabelo chicotear fortemente a minha cara.
Com a ajuda das minhas mãos fiz um coque desajeitado resolvendo esse problema. O fato preto e amarelo estava colado ao meu corpo como uma segunda pele e protegia-me do vento frio e iria me proteger da água fria do mar.

Na praia só se avistavam um meia dúzia de pessoas, todas elas também praticantes de surf e outras tantas estavam já no seu habitat. O mar.

As ondas não alcançavam os três metros de altura e, pelo que contei, o tempo entre cada um delas era perfeito para me preparar para a melhor sensação do mundo. A de domar uma onda.

A prancha branca e rosa com vários símbolos de marcas ou de vários sítios por onde tinha já surfado protegida pela capa cinza repousava ao meu lado esquerdo enquanto que no meu direito estava esquecida a mochila onde trazia a toalha e uma sandes. Bem como o protetor solar e as chaves de casa e carteira.

Respiro fundo e olho mais uma vez para o mar. Estava perfeito, apesar de não estar a gostar muito do tempo. Espero que não mude tão rapidamente.

Depois de acabar de vestir o fato, espalhar um pouco de protetor solar na minha cara e de ter feito um curto aquecimento, retiro a prancha da sua bolsa e começo uma corrida até ao mar. 

Prendo-a ao meu tornozelo e caminho em direção às rochas, onde é mais fácil entrar porque não tem tanta rebentação.

A água estava fria, mas nada que o meu corpo não aguentasse. As ondas embalavam-me enquanto eu, com a ajuda dos braços, remava para o mais distante possível da rebentação.
Hoje era só eu e o mar.

"Vem aí uma brutal mudança de tempo." Disse um rapaz de tronco nu em cima de uma prancha preta. Olhei para ele e encolho os ombros.

Eu sei ver quando vem ou não uma tempestade maior do que a que vem agora.

Remei mais um pouco porque não estava tão confortável ao lado do rapaz que me quer estragar o resto do dia. Ugh...

A prancha era balançada pelas ondas e eu quase adormecia ali mesmo. No meu mar de memórias, medos, felicidades e tormentos. Em cima da minha bóia que me impedia de algo.
O vento era tão suavemente frio e brutal que um arrepio subiu-me a espinha erriçando os meus pelos todos pelo me corpo fora. Mas eu não queria ir.

Eu queria sentir-me livre. Leve. Solitária. Às vezes faz falta.

Quero dominar o mar e o vento. Sentir os ventos competirem comigo empurrando-me pelo mar fora. Quero sentir a água gelada relaxar os meus dedos dos pés e areia a fazer cócegas nos mesmo.

Um estrondo soou. Seguida de uma luz demasiada bonita para deixar escapar com o olhar. Eu sabia que seria e havia de ser uma enorme tempestade, mas estava longe. Ainda podia surfar, nem que seja uma onda.

Olhei em redor e só via a imensidão do ma e a praia ao fundo que era para onde se dirigiam todos praticantes do desporto que temos em comum e que adoramos praticar. E que hoje não era um bom dia para tal.

OK, tenho de admitir que a tempestade estava a ser mais rápida que o meu pensamento e decidi deixar o mar, pelo menos tentar, quando avistei a bandeira vermelha a tirar o lugar á amarela.

O esforço que eu dava aos braços era o meu máximo visto que o mar estava a puxar demasiado. A água que ateimava a molhar-me tapava-me a vista e eu estava a desistir. Estava quase sem forças. Eu sentia que estava a andar para o lado, mas eu não podia desistir e continuei a remar. O porão estava cada vez mais próxima o que significava que as rochas também e eu amaldiçoei-me mentalmente. A mim e aos deuses que se decidiram divertir hoje.

"Calma Skylar..." Resperei fundo e descansei um pouco os braços, para desatar a remar logo mais uma vez. E dava aos braços, e mais, e mais...
Outro estrondo foi ouvido e desta vez não era um trovão seguida da luz magnífica. Olhei para trás e não tive tempo de reagir. Foi embrulhada na onda de uma maneira que até a prancha estava ao meu lado. Não conseguia me mexer. Estava sem reação. Tentei vir ao cima á procura de um puco de oxigénio mas mais uma onda não me permitiu.

O oxigénio começava a escassear nos meus pulmões e o pânico começava a instalar- se quando já não avistava a minha prancha. A água chicoteava-me de uma forma brutal.

Fechei os olhos e rezei. Rezei todo o que me passou na cabeça. Eu sinceramente não sabia o que pensava. Mas fi-lo.

E de repente vi a minha prancha. Estava tão próxima e depois uma forte dor na parte lateral do meu corpo e da cabeça.

Abri a boca provocada pela dor e a água invade todo o meu ser. E as rochas estavam próximas e eram pontiagudas e tão... tão belas.              E eram...

Nada. Era nada.

h a r r y

"Harry o teu pai está aqui." Foi a fala da minha mãe quando entrou de repente no meu quarto. Sem bater. Coisa que odeio. Pai?

"O pai?" O que raio ele faz aqui. Levantei-me da cama e saí a par com a minha mãe. O silêncio pairava no ar enquanto eu descia as escadas com a minha mãe.

"O que faz aqui?" Perguntei rudemente enquanto colocava-me um pouco á frente de minha mãe. Não que ele fosse fazer alguma coisa, era só um ato de proteção.

"Eu vim-te avisar que amanhã partimos para New York!" Ele estava num seu fato extremamente caro e a cara parecia cansada, mas sem nunca perder a sua autoridade e estatuto. Tinha as mãos nos bolsos em modo de autoritário e invencível. Este era o meu pai. Des Styles. Um dos maiores investidores e empresários da área de marketing e entre outras coisas.

"Desculpe?" Não. Não. Não e não. Dei um passo em frente.

"Você ouviu." Ele falou roucamente. O meu maxilar logo ficou tenso e com raiva tentei dar um passo em frente, mas a mão delicada de minha mãe não permitiu quando a pousou nas minhas costas o murmurou o meu nome.

"Tu já sabias que isto ia acontecer filho." Sim eu sabia, mas eu não posso. Não agora. Eu não posso abandonar todo. A Sky, a escola, os meus amigos, a minha vida. Não posso.

"Eu não posso!" Abanei freneticamente a cabeça e levei as minhas mãos ao cabelo puxando-o violentamente. Deixei de sentir o toque da minha mãe quando avancei perigosamente para o meu pai. A minha altura a sobrepôr-se á sua. Eram só os medíocres fatos caros que ele usava e a conta bancária que o faziam parecer um homem poderoso, porque de resto ele era podre.

"Eu não vou. Não podes simplesmente chegar aqui mandar essa bomba e depois voltar a abandonar-nos!" Meio que gritei para ele batendo o meu dedo no seu peito.
"Bomba essa que tu sabias que iria explodir filho!" Ele afastou-se de mim caminhando para fora.

"Oh tu não me chames de filho, porque isso já deixei de o ser á muito tempo. És medíocre!" Rosnei.

"Ha-"Interrompi minha mãe.

"Eu odeio-te com todas as minhas forças." Cuspi para o homem que se encontrava de costas para mim. Cobarde de um raio.

"Partimos às 10 horas de manhã. Estarei aqui às 8 horas." E saiu.

Harry's Sky || h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora