q u a r e n t a e n o v e

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                               Sabes quando tens aquele pressentimento que vai acontecer algo de errado na tua vida, mas não sabes quando, onde e com quem? Quando pensas que tens tudo, mas afinal nada passa de uma ilusão?
Pois, é esse mesmo sentimento oportuno e egoísta que ando a sentir há dias.

Tudo está contra mim. Todos estam contra mim. O mundo está contra mim. Esta-me a tirar todo o que me faz feliz, realmente feliz.

Se o mundo fosse um livro, nunca iria encontrar uma editora. Demasiadamente longo, detalhado a ponto de distração e, em última instância, sem uma grande resolução. Cheio de pessoas rudes, egoístas, egocêntricas, imponentes, influenciáveis...

E eu sinceramente, não quero viver neste mundo rodeada de maldade, escuridão e egoísmo.

Remexi-me na cama e dei por falta de algo. Algo quente e que cheirava bem. Sentia falta de um presença. De uma pessoa. Liam.

Num movimento digno de um filme de karaté, sentei-me na cama e analisei o quarto. A minha respiração acelarou ao máximo quando não vi nenhuma mala nem pertence de Liam no quarto. Os olhos começavam a ficar cobertos de água e a minha única reacção foi sair do quarto á procura do meu melhor amigo.

"Liam! Liam!" Gritei enquanto tentava não cair das escadas abaixo.

"Sky, pára de gritar!" A minha mãe resmungou aparecendo da cozinha.

Reviro os olhos e bufo. "Mãe, o Liam?" Pergunto e um soluço escapa.

"Estou aqui." Liam aparece das escadas. Olho para trás e atiro-me a ele fazendo-o agarrar-me nas coxas e ficando eu ao colo dele. Com a ajuda dos braços e das pernas puxei-o para mim o máximo que consegui. Tinha medo.

"Pensei que já tinhas ido." Solucei.

"Eu não ia embora sem me despedir de ti, minha pequena." Soprou para o meu ouvido. Permanecemos mais algum tempo agarrados e tive de quebrar o gelo.

"Liam, eu quero ir levar-te ao aeroporto."

"Não Sky. Vai ser pior para ti. A tua mãe leva-me. É melhor." Ele acaricia as minhas bochechas molhadas.

"Por favor. Só te peço isso." Implorei. Eu sei que ia ser pior para mim ir com ele até ao aeroporto, mas eu queria. Queria vê-lo a entrar no avião para poder perceber que isto estava a acontecer e que era assim que devia ser. Eu tinha de ter a consciência. Tinha de ver com os meus olhos.
"Por favor!" Faço beicinho e logo ele assente. Sorriu e pulo do seu colo.

"Dêem-me 5 minutos." Gritei e corri escadas acima entrando no meu quarto.

Depois de um rápido duche, umas calças/jeans pretas deslizavam pelas minhas pernas tal como uma camisola de lã verde tropa pelo meu tronco. Calcei as minhas all star verdes tropa também. O meu casaco grosso de pêlo por dentro estava a proteger o meu pequeno corpo do frio que se fazia lá fora e agarrei no meu iphone metendo-o no bolso do casaco. Saí do quarto e quando cheguei ao andar de baixo reparei na porta de entrada aberta e a minha mãe a entrar nela.

"Vamos Skylar. Não nos podemos atrasar. Não queremos que o Liam perca o avião." Assenti mas no fundo era isso que eu queria. Que o Liam perdesse o avião e ficasse comigo mais tempo.

Caminhei para a porta de entrada e logo um vento frio levantou o meu cabelo e e fez-me arrepiar por completo. Olhei para o carro onde se encontrava Liam encostado.
Um sorriso fraco apareceu no meu rosto ao contrário do dele. O dele era caloroso e divertido.

Quando o pinguim abriu os braços, não pensei duas vezes e corri para ele. A minha cabeça encostada ao seu peito, o seu queixo no topo da minha cabeça, o seu coração a bater a um ritmo calmo, o meu respirar pesado, as suas mãos hágeis no meu cabelo, os seus braços musculados a protegerem-me de todo.

Eu tinha medo de ser abandonada.
Mas todo tem uma razão de ser.

Apenas os nossos corpos juntos fazendo os nossos corações e respirações unirem-se de forma duradoura.

"Vamos meninos." A voz da minha mãe a fazer-se soar.

Liam afastou-se de mim e antes de entrar no carro depositou um beijo na minha testa. Sorri com o seu afeto e entrei no carro.

A viagem era enorme, mas quando avistei o aeroporto ao longe percebi o quão rápido o tempo passou. O quão egoísta é o tempo em nos querer separar tão rapidamente.

Por sorte não fui atropelada por dezenas ou até mesmo centenas de pessoas atarefadas que carregavam as suas enormes malas cheias de pertences e trabalho. As coisas que não dão trabalho também não dão alegrias, não é? Ou ao menos é assim que penso. E parece que toda a gente pensa assim, ou pelo menos metade dela.

Estava agora sentada nas cadeiras á espera de Liam e da minha mãe. Ela tinha ido á casa de banho, enquanto Liam tinha ido fazer o chek-in. Estava nervosa e nenhuma palavra tinha saído da minha boca desde que saímos do carro. Olhei para os demasiados relógios que estava na enorme parede do aeroporto e procurei o que dizia as horas de Londres. 9h e 38 minutos. Tecnicamente tinha perdido a primeira, mas sinceramente agora não me interessa minimamente.

Uma rapariga estava sentada numa cadeira á minha frente. Ela era linda. Loira, olhos cor de avelã e corpo definido. Algo na sua cara não estava bem, e logo olhei para os seus olhos para tentar a decifrar. Lágrimas escorriam pela sua cara abaixo, dando-me a entender o seu estado de dor.
O seu olhar encontrou-se com o meu e dei-lhe um sorriso fraco. Ela apenas retribuiu com um ainda mais frágil sorriso e inclinou a cabeça até parar no ombro de um rapaz.
Provavelmente o seu namorado pela maneira como estavam próximos e as mãos se entrelaçavam cuidadosamente de um forma furiosa.
Uma forma que mostrava o quanto se amavam e não se queriam separar apesar de todo.

Senti uma presença ao meu lado e um braço a passar por cima dos meus braços. Olhei e vi um sorriso da minha mãe. Eu sabia a força que ela estava a fazer para me manter animada. Eu sabia que ela também estava de rastos. Sempre considerou Liam como um filho.

"Olha... o Liam vem ali." Ela disse baixo. Certamente com medo de me assustar o mais que já estou.

"Já está tudo. Agora e só esperar pelo aviso de quando o avião partirá." Ouço a voz forte do meu melhor amigo.

Anuí.

E fechei os olhos.

E respirei fundo.

E sonhei com um Liam sempre presente ao meu lado. Sonho esse que virou pesadelo.

h a r r y

O táxi parecia mais lento que o normal. Eu estava nervoso e em pânico. O trânsito estava a deixar-me louco e a música mexicana que passava na rádio também.

"Olhe desculpe mas pode tirar o som?" Pedi educadamente ao senhor de 40 e picos anos. Ele olhou para mim através do retrovisor e baixou o volume. Não o desligou! Se eu não estivesse neste estado de nervos podia ter a certeza que iria reclamar até o homem desligasse a canção irritante.

"Fique com o troco." Dei uma nota ao homem e saí do carro batendo com força a porta demonstrando a falta de profissionalismo por parte do homem. Onde é que anda a dignidade e 'o cliente têm sempre ração'? Meu deus.

Um mar de gente andava barafustada de um lado para o outro carregando malas grandes e pesadas, cheias de memórias e recordações.

O meu telemóvel ainda estava aberto na mensagem de Liam a pedir para vir para aqui. Ele parti-a hoje e eu sabia como Sky ia ficar ou já estava. Transtornada, triste, sozinha?

Caminhei mais rápido e pedindo desculpas às pessoas que eu ia quase derrubando por causa da minha pressa.

" O voo 341 Londres - Canadá irá partir daqui 5 minutos. Pedimos a todos os passageiros que se dirigiam para a porta número 34 para o embarque. Obrigado." A voz metálica feminina soa por todo o lado atormentando Sky. E lá estava ela enrolada nos braços de Liam e depois é todo tão rápido. Um Liam a afastar-se, uma mãe aflita e uma Sky a gritar nos meus braços.

Harry's Sky || h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora