c i n q u e n t a

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                            Levantei-me de repente como se a minha vida depende-se disso e corri para a porta branca que me ia levar a Sky. Abri-a e a minha respiração prendeu por milésimos de segundo.

Grandes soluços saiam da sua boca, não deixando-a que respirasse como deve ser. Estava sentada no chão frio e enconstada á banheira branca. Abraçava as sua pernas que tremiam com os braços e tinha a cabeça apoiada nos joelhos. Haviam objetos no chão ao pé do lavatório e percebi que tivera sido isso a fazer o som do enorme estrondo. Depois de termos vindo do aeroporto a Sky ainda não tinha dito um única palavra. Apenas se expressava através das lágrimas e dos soluços. O Liam não devia ter feito o que fez. Depois de ele ter embarcado peguei na Sky e levei-a para o carro. Ela não parava de chorar e isso ainda me assustava. Vai-lhe custar muito estes dias mas eu estou aqui.

Senti uma presença ao meu lado e detetei ser Felicity. Ela estava em choque e não demorou em se colocar ao lado da filha e abraça-la fortemente.

"Shh... filha. Está tudo bem. Eu estou aqui." A mãe tentava acalmar a filha.

Como está tudo bem e de repente parece tão mal.

"Harry, podes ir lá baixo fazer um chá?" Só quando ouvi a voz da mãe da rapariga que amo é que sai do meu transe. Os meus olhos não se desviavam do cor trémulo e frágil da Skylar e desde que tinha entrado na casa de banho ainda não tinha mexido um milímetro.

"Hum... Hm... sim. Eu vou..." E saí do quarto em direção ao andar debaixo. Entrei na cozinha e comecei a procura do que era necessário para fazer um chá.

Comecei a misturar o açúcar na água quente e vi como a vida pode mudar para muito bom ou para muito mau. É como o açúcar, como se fossemos nós, a fundir-se na água quente, que era a vida cruel e rude em que vivemos.

Como a vida pode ser tão cruel ao ponto de destruir parte dela? Como se lhe desse prazer ver pessoas inocentes a sofrer. Como consegue ela se autodestruir como uma bomba?

Segurava com as minhas mãos trémulas a caneca que continha o chá fumegante e subi as escadas em direção ao quarto de Sky. Entrei na casa de banho e os dois seres permaneciam no mesmo lugar. Sky ainda chorava e a cada soluço Felicity apertava-a mais contra si.

"Está aqui." Disse e mostrei a caneca á mãe da mulher que me põe louco. Ele assentiu e voltou a olhar para Sky, para depois se levantar e tentar levar consigo a filha.

Vi como a mãe de Sky não tinha forças e decidi intervir. " Eu posso fazer isso, dona Felicity." Ela olhou para mim e deu-me um sorriso um tanto grande e estendeu a mão e eu olhei-a confuso.

"A caneca, tolo. Queres pegar nela com isso na mão?" Ela disse e eu envergonhado entreguei-lhe a caneca quente. Ela saiu da casa de banho, certamente para não me atrapalhar e eu aproximei-me da rapariga destroçada. Baixei-me para estar ao nível dela e respirei fundo.

"Oh minha Sky." Acariciei os seus cabelos. Ela levantou a sua pequena cabeça e olho-me com um certo medo.

"P-porquê? Porquê que ele se fui embora sem se despedir, Harry? Porquê? Ele não tinha esse direito."
Ela solucou. "Ele não tinha." Ele não se despediu dela.

Eu realmente não tinha nada para dizer. Não tinha um explicação. Uma simples explicação não aparecia na minha cabeça. Não sei o porquê de ele o ter feito. Eu vi que ele estava a falar com Sky e depois encontrou-me no meio da confusão do aeroporto. Olhou-me e depois Sky virou-se para trás.

Sim eu lembrei-me do que ela tinha dito á dias atrás e depois a mensagem de Liam a dizer para eu estar aqui e não demorei a entrar num táxi e seguir para o aeroporto e ai procurei-a no meio do mar de gente que corria apressadamente pelo enorme espaço que havia. E ai vi-a. Ela viu-me. Eu senti isso. Comecei a avançar e só quando estava a poucos metros dela, ela reagiu e veio até mim. Antes da abraçar olhei para Liam e ele ainda se lá encontrava, mas depois... mas depois...desapareceu, sem medir as consequências do seu ato.

"Eu... eu não sei Sky. Mas eu estou aqui pra ti. Ok?" Disse e ela anuiu. Agarrei-a com todo o cuidado como se fosse uma peça de vidro fina e rara e saí do compartimento branco e frio. Caminhei em direção á cama e deitei-a lá. A mãe de Sky tinha saido do quarto, mas não me perguntei por isso.

O meu olhar caiu, mais uma vez, em Sky e reparei que ela encontrava-se só de sutien e calças. Corei. Corei por a ver assim e corei ainda mais por ter corado.

Merda, devo estar um tomate...

Peguei na caneca que estava na mesinha de cabeceira e entreguei a Sky. Ela aceitou e bebeu um gole. Entregou-me a caneca e depois olhou-se. Quando reparou que estava só de sutien da cintura para cima arregalou os olhos e logo tapou-se com os braços. Ri com o seu ato ela corou.

"Não precisas de te tapar. Tu és linda e não podes ter vergonha de o mostrar." Ela olhou para mim e sorriu. E apesar das lágrimas ainda presentes o seu sorriso fui grande e iluminou todo o quarto, fazendo-me derreter por dentro e controlando-me para não a beijar.

Estava desesperado por sentir os seus lábios nos meus, sentir o seu sabor, o seu toque, o seu cheiro. Eram as coisas que eu mais tinha imaginado nos últimos tempos.

Eu cada vez mais necessitava dela. De respirar o mesmo ar que ela. Eu cada vez me sentia mais preso a ela.

É tal e qual como a Lua. Esta acaba por ser prisioneira do Sol, sempre á espera que este a ilumine e a torne no mínimo mais quente.

Foda-se... hoje virei sentimentalista?

"Bem eu vou embora. Vou deixar-te descansar." Disse e aproximei-me vagarosamente dela. "Cuida de ti, minha estrela." E depositei um beijo demorado na sua testa, seguido de um no nariz e um no seu queixo. Acariciei as suas bochechas numa tentativa de limpar as lágrimas salgadas e secas que lá se encontravam. Os meus olhos não se desviavam dos dela, dando-me a sensação se medo e angústia, misturado em alegria e amor. Esta nostalgia de contradições de palavras era todo o que podia pensar antes de abandonar o quarto de Skylar.

Ela não estava bem. Ela não era assim. Ela não é assim. Eu eu vou ajuda-la.

Harry's Sky || h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora