12. Olhares

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O resto da noite seguiu calmo. Todos ficamos ainda mais bêbados — se é que era possível — e eu preferi me manter o mais distante que conseguia da Ludmilla antes que eu tomasse mais atitudes por impulso. Eu lembrava do que tinha feito e não queria agir assim novamente. O que estava acontecendo comigo, afinal? Era carência? Era bebida? Por Deus, ela é minha chefe! Eu só posso ter enlouquecido.

Bibiu já estava mega cansado e nos chamou para ir embora, recebendo uma resposta inusitada.

— Não, vocês vão ficar e vão dormir lá em casa! Quero passar mais tempo com vocês — disse Ludmilla voltando a ter um contato direto comigo, passando o braço pelo meu pescoço.

— Nem inventa, Ludmilla! A gente acabou de dormir lá, eu não trouxe roupa, nem as meninas — Disse Bibiu já terminando de juntar suas coisas para irmos embora.

Ludmilla, como uma cara sapeca, apenas pegou a chave que estava na mão de Bibiu e saiu correndo, nos deixando parados a observando.

— Eu realmente não acredito nessa criançona que é a Ludmilla! — disse passando a mão no rosto e negando com a cabeça.

Terminamos todos por rir enquanto víamos que Ludmilla não parava de correr e dar uma olhadinha pra trás. Nos convencemos de que já estávamos alcoolizados depois para travarmos uma luta com a teimosia da Ludmilla e apenas fomos todos, novamente, pra sua casa — para o meu desespero.

Chegando lá, ficamos todos jogados pelos cantos da piscina, ouvindo música, tomando as cervejas que tinham nas suas geladeiras e conversando. Eu estava sentada na borda da piscina, com os pés na água, enquanto refletia sobre a noite de hoje e o quão confusa eu estava.

Fui despertada dos meus pensamentos quando senti um vulto sentando ao meu lado. Era ela. Com uma roupa confortável e um coque mal feito, ela praticamente se largou do meu lado, demonstrando estar bem bêbada.

— Tá sozinha aí porque, Bru? — dizia ela embolando as palavras e sorrindo com os olhos enquanto me olhava

— Nada, estava só curtindo a brisa da bebedeira mesmo — respondi sorrindo de volta ao ver seus movimentos desengonçados

Ludmilla colocou sua coxa na minha e virou para mim, se inclinando em minha direção

— Bru, você sabia que você é muito linda? Muito linda mesmo? — dizia ela próxima demais do meu rosto, olhando em meus olhos, sorrindo

Tremi por dentro ao tê-la tão perto, o que me desesperou e me fez levantar rapidamente da piscina, demonstrando meu nervosismo. Ludmilla acompanhou cada movimento meu, me observando sem esboçar qualquer expressão. Antes que ela pudesse falar qualquer coisa, sai correndo para dentro de sua casa em direção ao banheiro.

Eu não sabia o que estava acontecendo. Eu não sabia como lidar com a Ludmilla como uma pessoa normal. Não sei mais se foi uma boa ideia aceitar essa proposta.

Estava sentada na privada, com as mãos no rosto, quando ouvi batidas na porta e perguntei quem era, com medo da resposta. Para minha surpresa, não era ninguém que eu imaginava.

— Oi Brunna, aqui é a Silvana, mãe da Ludmilla. Te vi correndo para dentro de casa na hora que estava na cozinha tomando uma água e fiquei preocupada. Você precisa de ajuda? — dizia ela colada atrás da porta.

Levantei de prontidão e abri a porta, me deparando com uma mulher bonita e cheia de cuidado em sua voz. Abri meu sorriso para ela e tentei não demonstrar minha confusão.

— Prazer Silvana, acho que não fomos apresentadas mas vejo que você já sabe meu nome, né?

— Prazer, querida! Bibiu e Lud falaram muito bem sobre você. Se os dois gostam tanto de você, acho que também irei gostar — disse me dando um abraço de mãe, bem aconchegante — Mas me fale, você está passando mal? Precisa de ajuda com algo?

Seu semblante preocupado voltou a surgir e eu apenas dei uma suspirada profunda pensando no que poderia responder pra ela.

— Eu estou bem, Silvana! Só um pouco reflexiva com algumas coisas da minha vida mesmo que estão me deixando confusa — dei um sorriso sem jeito enquanto ela colocava meu cabelo atrás da minha orelha, enquanto prestava atenção em minha resposta

— Primeiro de tudo, pode me chamar de Sil, ok? — assenti com a cabeça em resposta — E sobre suas reflexões, elas me parecem ter cheiro e cara de coisas do coração — engoli seco ouvindo sua resposta certeira — mas vou te dizer a mesma coisa que sempre digo aos meus filhos: sentir é a maior resposta para as nossas dúvidas. Escute seu coração, permita-se sentir as coisas. Isso te trará grandes respostas!

Quando eu ia respondê-la, ouvimos um barulho alto de objetos caindo no chão, o que nos fez dar um pulinho de susto e procurar sobre o que se tratava. A cena era hilária apesar do susto: Marcos estava pendurado nas costas de Ludmilla, que dava pulinhos e fazia movimentos com a mão como se estivesse com um chicote.

— Vocês dois só me dão trabalho, né? Ludmilla, desce seu irmão da corcunda agora antes que vocês se machuquem!

Os dois seguiam rindo e pulando até que Ludmilla virou o pé e o esperado aconteceu: os dois despencaram no tapete, fazendo com que o resto do pessoal entrasse para ver o que estava acontecendo.

Em um movimento automático, corri até Ludmilla para ver seu pé e ajudá-la já que ela estava sentada toda arreganhada tal qual uma criança enquanto esfregada suas mãos no tornozelo e fazia um bico de quem iria chorar.

— Ei, tá doendo muito? Quer ajuda? — dizia enquanto tentava tocar em seu tornozelo

— Eu quero um beijo, serve? — dizia ela em um sussurro com um sorriso sapeca

Apenas neguei com a cabeça sorrindo e olhei para Marcos, que estava jogado no chão, ao lado de Ludmilla, com as mãos no cóccix mas um sorriso malicioso, dando indícios de que tinha escutado nossa conversa.

Morri de vergonha mas esse momento foi cortado depois que Bibiu, Renatinho, Larissa e Paty se agitaram para levá-los para suas camas. Tínhamos pensado em levá-los ao hospital mas não teria como, afinal, eram quase seis horas da manhã, enfrentaríamos um trânsito insuportável e possivelmente agitaríamos o hospital por conta da presença da Ludmilla.

Após ajeitarmos as duas crianças na cama, nos organizamos para irmos embora já que o dia tinha amanhecido e conseguiríamos ir numa boa sem ter Ludmilla para nos ameaçar já que a peça tinha adormecido.

Bibiu nos levou para casa e quando cheguei, só consegui me jogar na minha cama e pensar no quanto eu já não entendia mais nada sobre minha vida ou sobre mim. De uma coisa eu tinha certeza: eu precisava dar uns beijos na boca para voltar a agir como a funcionária que devo ser pra Ludmilla. Isso não tá certo, isso não sou eu.

Mas chega... é hora de dormir.

Seja bem-vinda • Brumilla Onde histórias criam vida. Descubra agora