Capítulo 4 - A Verdade Sobre Justina e Bartô

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(Mar)

Ya me cansé (Já cansei)

Ya no va más (Já não dá mais)

Quiero ser libre y volar (Quero ser livre e voar)

Poder sentirme en libertad (Poder me sentir em liberdade)

Busco otro juego, otro mundo probar (Busco outro jogo, outro mundo provar)

Rama se virou e me viu ali parada diante dele. Pude notar sua cara de espanto.

- Rama, aquilo era droga?

- Quê? Do que você está falando? - Perguntou se fazendo de desentendido.

- Eu vi... Aquilo era droga, sim. - Sem perceber, acabei alterando o meu tom de voz.

- Fala baixo, Mar. Vamos pra outro lugar.

Eu não conseguia acreditar que Rama realmente vendia drogas, por quê? Se ele fosse pego estaria ferrado, e sinceramente, se ele queria acabar com a vida dele, um tiro seria bem mais eficiente.

Rama e eu fomos até o abrigo, adentramos o local e nos dirigimos para o quarto dos garotos.

- Por que você vende drogas? Está maluco? Quer ser preso? Quer acabar com a sua vida?

- Não Mar, eu não tenho nada a ver com isso, você não está entendendo. Eu não faço isso porque quero. - Falou o loiro.

- Como assim? - Perguntei. - Eu vi...

- Sim, eu sei o que você viu. Mas não é como você está pensando. Ah, droga! - Ficou uns segundos em silêncio. - Mar, eu sou obrigado a fazer isso.

- Obrigado? - Perguntei sem entender nada. - Por quem?

- Pela Justina e pelo Bartolomeu. - Ele disse.

- Quê? Mas... Eles obrigam você a vender drogas pra ele? - Perguntei confusa.

- Não só eu, mas o Tato, a Jazmin e o Zeca também. Também somos obrigados a roubar pra eles, Mar, inclusive, a Aleli e o Murilo, que são pequenos.

Quê? Não, eu não podia crer, mas como? Como eles podiam fazer isso? Como alguém podia ser tão cruel assim? Obrigar crianças e jovens a roubar e a entregar drogas? Isso é muita loucura. E a Aleli tinha só 7 anos e o Murilo 8, eram só crianças, eles deviam estar brincando e estudando, e não roubando pra dois filhos da puta sem noção. Ai, que raiva!

- E o Nico sabe disso? - Perguntei.

- Claro que não, né? Ninguém sabe, Mar. E nem podem. - Rama disse.

- Mas temos que contar, precisamos denunciar esses infelizes, eles não podem fazer isso.

- Ah, Mark, em que mundo você vive? Nós não temos voz, ou em quem você acha que eles vão acreditar? Na gente que não vai ser, né? Eu estou só esperando completar 18 anos pra pegar a minha irmã e ir embora daqui. - Falou se referindo a Aleli.

Eu não estava conseguindo acreditar no que o garoto estava me contando, e... ai, que raiva! Eu queria sair daquele quarto e ir correndo contar pro Nico, ele parecia ser boa gente, e aposto que daria um basta nisso, duvido que ele permitiria tais absurdos, quer dizer, eu não o conhecia há tanto tempo para ter certeza disso, mas ele parecia um homem direito e íntegro, e deu pra perceber que todos gostam dele, uma vez Murilo falou que Nico era tipo um pai pra eles, achei fofo ele falando isso. E... ah, se eu pudesse fazer algo... Aqueles dois que não inventem de mexer comigo, eu me nego a roubar ou fazer o que for para aqueles dois.

(...)

Jazmin, Tato, Rama, Zeca, Aleli, Murilo e eu estávamos no porão do abrigo, juntamente de Bartolomeu e Justina.

- Mar, hoje você vai aprender a tática de pegar emprestado, claro, sem ser preciso devolver depois, que não é o mesmo que... - Se aproximou de Aleli.

- Roubar. - Completou a garota.

- Porque nós somos bons, e isso é ruim. E você precisa saber que o principal segredo é... - Se aproximou de Zeca.

- A tática e a estratégia. - Falou o menino.

- E para que tudo saia perfeito, devemos preparar... - Se aproximou de Tato.

- Uma boa cena. - Completou.

- Perfeito! Essa aula está cada vez melhor. - Disse Bartolomeu. - Bom, vamos à prática.

(...)

Bartô e Justina me levaram para uma rua, um pouco afastada do abrigo, e ficamos escondidos, eles não queriam levantar suspeita.

De longe, eu avistei, a pequena Aleli se aproximando de uma moça que estava sentada à mesa em uma lancheria, a criança conversou algo com a mulher, enquanto Zeca discretamente, roubava a carteira, que estava em cima da mesa. O garoto colocou o objeto no bolso de sua calça e saiu sem que ninguém o visse. Logo, Aleli se despediu da mulher, e foi para o lado oposto ao do garoto. Eu não conseguia crer naquilo que meus olhos estavam vendo. Quando Rama me contou, eu torci tanto para ser mentira, antes fosse.

- Agora vá lá, e mostre que aprendeu a lição. - Falou Justina.

Olhei para a megera com fúria, e fui até um rapaz, que estava passeando com seu cachorrinho. Me aproximei dele e pedi uma informação sobre uma rua qualquer, e assim que o homem se distraiu, me dando a tal informação, eu peguei levemente sua carteira, que estava no bolso traseiro de sua calça. Coloquei o objeto por dentro de minha calça, por trás, para ele não ver.

- Entendeu onde é essa rua? - Ele perguntou.

- Ah, entendi, sim. Muito obrigada.

- De nada. - Sorriu.

Fui na direção que o homem havia me dito, para ele não suspeitar de nada, e assim que ele saiu do meu campo de visão, eu fui até onde estavam Bartô e Justina.

- Tá aqui essa merda. - Joguei a carteira com raiva no chão.

- Tá maluca? - Justina me puxou pelo cabelo. - Não jogamos esse tipo de pertence dessa forma. Junta!

- Não. - Falei com tamanha raiva.

- Eu mandei você juntar. - Puxou meu cabelo com mais força, fazendo minha cabeça ir quase até o chão.

Estava doendo muito, eu não queria ter que obedecê-la, mas doía demais. Então, com muito ódio, eu juntei aquela porcaria e entreguei na mão de Bartô, que estava esticada esperando pelo objeto roubado. Justina me soltou, e eu me aproximei de Jazmin, que estava no local e havia visto tudo. A garota me puxou levemente pelo braço, fazendo eu me aproximar mais dela e me abraçou, enquanto eu chorava de dor.

- Por hoje é só, meus pequenos querubins. - Bartô disse com um enorme sorriso. - Estão dispensados. Amanhã nos vemos novamente.

Ele e Justina saíram, indo em direção ao abrigo.

- Por que eles fazem isso? - Perguntei.

- Porque são cruéis e nos odeiam. - Disse Zeca.

- É... Se prepara, Mar, isso é só o começo. - Falou Tato.

Por quê? Não era justo. Eu não queria roubar. Eu não era uma criminosa. Eu nunca tinha roubado nada. Pô, eu já tinha até morado nas ruas (quando fugia dos abrigos), passava mal de tanta fome, e mesmo assim não roubava um pão sequer, eu não queria ter que fazer isso. 

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