Capítulo 26 - Confissões

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(Mar)

Con la llave de la vida (Com a chave da vida)

En mi alma yo abriria (Na minha alma eu abriria)

Tus ventanas y tus puertas (Tuas janelas e tuas portas)

Y tus miedos con caricias (E teus medos com carinhos)


Era um sábado. Me acordei e logo avistei que Jaz ainda estava dormindo. Senti uma imensa dor no braço que Bartô havia apertado na noite passada, levantei a manga da minha camisa, estava muito roxo, um hematoma horrível, e doía muito ao encostar ou ao mexê-lo. Tentei ignorar a dor para não chorar. E nisso, Jaz se mexeu, acordando, em seguida.

- Bom dia! - Falou ao ver que eu já estava acordada.

- Bom dia!

- Os outros já acordaram?

- Não sei! Recém acordei.

- Vou tomar banho. Você me espera para ir tomar café?

- Claro!

A garota se retirou em direção ao banheiro que tinha em nosso quarto, e eu fiquei esperando-a enquanto massageava o meu braço machucado.

E nisto, bateram à porta.

- Quem é?

- Thiago!

- Não tem ninguém. Favor tentar novamente mais tarde!

- Engraçadinha! - Falou o garoto ao entrar em meu quarto.

Thiago se sentou ao meu lado, e ficou um pouco em silêncio. Eu ainda estava com muita raiva dele.

- Eu fiquei preocupado. Senti tua falta. Não sabia se você estava bem, se corria perigo, se tinha o que comer, se estava passando frio. Eu não fiquei chateado por você fugir e querer ser livre, fiquei chateado por eu não estar lá para te proteger.

- Por quê? - Perguntei surpresa com a fala do garoto.

- Porque... Eu... Eu me importo com você. Muito. Mesmo.

- Mas... Nós nem somos amigos. E eu te trato mal.

- Não tem problema, eu sei que você faz isso pra não assumir que eu mexo com você. - Falou ao me fazer rir. - Vai tomar café?

- Tô esperando a Jaz.

- Ok, nos vemos lá embaixo. - Fez menção em sair, mas logo voltou e se virou para mim. - Ah, fico feliz que esteja de volta, espero que não fuja mais, mas se fugir me avisa, eu vou junto. Pra onde você quiser.

Fiquei pasma com a fala do Thiago, e o garoto deu um meio sorriso e saiu do meu quarto. Será que ele estava falando sério? Por que ele fugiria? E o Bartô? Como ficaria nisso?

Esperei Jazmin sair do banho, e quando isso aconteceu, descemos para tomar café. Todos já estavam postos à mesa, faltava só a gente. E assim que Nico nos viu, ele disse:

- Até que enfim as Belas Adormecidas acordaram.

Jaz e eu nos sentamos à mesa, e estava um clima de velório. As vezes, eu via Bartô me encarando, e eu o encarava de volta. Estava com tanto ódio. Como Cielo e Nico não percebiam os monstros que eram Bartô e Justina?

- Amor, me passa a margarina? - Pediu Malvina para Nico.

O homem atendeu o pedido da irmã de Bartô, e a mulher deu um selinho no namorado, notei quando Cielo olhou para os dois, acho que ela gostava de Nico, era uma pena que ele namorava a pessoa errada, e os dois viviam brigando, terminavam e voltavam, terminavam e voltavam, tomara que algum dia eles terminassem e não voltassem mais, pois Nico era uma boa pessoa, e merecia alguém como Cielo, espero que algum dia ele perceba que Malvina não é a pessoa ideal para ele.

Assim que terminamos nosso café, eu fiz sinal para Zeca e para meus amigos (não incluo Thiago nisso, até porque não somos amigos), e então, fomos para o quarto dos meninos.

- Queria falar com a gente? - Tato perguntou.

- O Bartô foi ao meu quarto essa noite. - Falei.

- Quando? - Jaz perguntou.

- Quando você estava dormindo.

- E o que ele queria? - Rama perguntou.

- Ele disse que só não vai castigar a gente porque o Thiago pediu.

- Sério? - Jaz perguntou surpresa. - Eu te disse que ele é um cara bacana, bem diferente do pai.

- Eu não acho. - Disse Tato enciumado.

- Eu também não. - Falou Rama.

- E tem mais. - Falei. - Ele... - Levantei a manga da minha camisa, mostrando o hematoma do meu braço.

- Aquele desgraçado fez isso? - Rama perguntou. Acenei positivamente com a cabeça. - Filho da puta! Como ele teve coragem? Eu vou pegar aquele animal e enfiar a cabeça nele na privada até ele morrer por falta de ar.

- Não Rama, você não vai fazer nada, porque você é do bem, não é igual a ele. - Disse Jaz tentando conter o amigo.

- Mas... - Respirou fundo. - Ele não pode fazer isso. Já é demais!

- Como se ele tivesse limites. - Disse Tato indignado.

Ah, eu estava com tanta raiva! Preferia mil vezes estar na rua e não passando por isso. E para piorar, à tarde, tivemos que voltar a roubar, e Justina ainda disse que sentiu falta do nosso trabalho. Que infeliz! Cara de pau! Eu odiava esses dois e odiava ter que roubar. Eu me sentia a pior pessoa do mundo por isso, eu roubava dinheiro, celulares, jóias, relógios, de pessoas inocentes, e eu me sentia tão mal, eles deram duro para obter tudo isso para depois vir uma ladra de quinta (eu) e roubar isso deles. Não era justo! Não era certo! Ah, como queria poder mudar isso, como queria que isso acabasse de uma vez por todas.


                                                                                (...)


À noite, Jaz e eu estávamos em nosso quarto, e assim que terminamos de nos trocar para dormir, a loura disse:

- Amiga, preciso te contar algo, se eu não falar, acho que vou explodir.

- Fala logo! - Falei. - Já estou curiosa.

- Hoje o Tato e eu estávamos conversando. Sozinhos. - Frisou essa última parte. - E falamos sobre a nossa fuga e tal, e ele disse o quanto eu fui corajosa e tal, começou a me elogiar, e... E a gente quase se beijou.

- Não acredito! - Falei boquiaberta. - Mas por que "quase"?

- Ah, é que depois as crianças surgiram correndo e estragaram o clima. - Revirou os olhos.

- Ah, mas já é um ótimo avanço, porque até agora vocês não passaram de troca de olhares.

- Ai amiga! - Deitou em minha cama, colocando os pés na cabeceira da cama, perto de mim. - Eu gosto tanto dele! Na verdade, nunca gostei de ninguém assim.

- Eu torço tanto por vocês. Quero ser madrinha, viu?

- E será!

Eu ri e fiz cócegas na garota, que riu também. Ah, era tão bom ter uma amiga, e eu torcia tanto por ela e pelo Tato, dava para ver que se gostam muito, e eles são tão fofos juntos, tomara que dê namoro logo.

Entre Dois MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora