Capítulo 3 - O Filhinho De Papai

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(Thiago)

Nena, ya no tengas miedo (Garota, já não tenhas medo)

Nena, no digas ''no puedo'' (Garota, não diga ''não posso'')

Nena, te invito a soñar (Garota, te convido a sonhar)

Eu não conseguia parar de olhá-lo, e sem tirar os meus olhos dos dele, peguei em sua mão e o garoto me ajudou a levantar e a sair da fonte. Ficamos um de frente para o outro. Seus olhos pareciam me hipnotizar, e diante dele, eu, que sempre tenho uma palavra na ponta da língua, fiquei completamente muda, sem saber o que dizer.

- Você está bem? - Ele perguntou.

- Hã... Estou. - Respondi ainda olhando para o garoto.

- Aqui não é lugar de tomar banho, sabia? - Deu um sorriso travesso.

- Idiota!

Me afastei do garoto e entrei na minha mais nova casa, enquanto batia os pés de raiva, que garoto otário, pelo jeito era só um rostinho bonito, mas de que adianta isso? Passei por Justina, que estava séria, e ela perguntou o que havia acontecido comigo, porém, eu ignorei e segui em direção ao banheiro para tomar banho e colocar uma roupa seca.

Ao sair do banheiro, eu desci para ir até a cozinha para beber um pouco de água, e ao chegar na cozinha vi o garoto, cujo nome eu ainda não sabia, conversando com Bartolomeu e Justina, e os três estavam rindo, pareciam felizes, e eu fiquei sem entender o que estava havendo.

- Olá, querubim querido. - Disse Bartolomeu.

- Quem é, pai? - Perguntou o garoto.

Pai? Então, o garoto era filho de Bartolomeu? Ah claro, ele só podia ser o tal garoto que Jazmin mencionou que estava nos Estados Unidos, bem que ele poderia ter ficado por lá, não precisava ter voltado, bom, eu mal o conhecia, mas já não fui muito com a cara dele, parecia metido, arrogante e filhinho de papai, e eu odeio gente assim.

- Querido, essa é a Mariana. - Disse Bartolomeu.

- Marianella. - Corrigi.

- Isso mesmo, e esse aqui é o meu filhote, Thiago. - Deu um beijo no rosto do garoto.

- Marianella, então? Prazer. - Falou com um largo sorriso.

Ignorei a fala do garoto e me dirigi até a geladeira, me servi um pouco de água, bebi e depois me retirei, indo em direção ao meu quarto. Ah, era tão chato não ter nada para fazer, e o abrigo estava tão silencioso. Fiquei olhando cada detalhe do quarto, tinha dois roupeiros, várias camas, uma prateleiras com livros, e também tinha uma mesinha com cadeira, frente a um espelho, onde havia algumas maquiagens, certamente eram de Jazmin, sinceramente, eu não sei o que as mulheres veem nessas pinturas.

Abri o roupeiro de Jazmin e dei uma olhada nas roupas dela, eram tão... curtas, mini saias, blusinhas que provavelmente deviam deixar a barriga à mostra, vestidos curtos e justos...

''Que péssimo gosto.'' - Pensei.

- O que tá fazendo? - Uma voz atrás de mim perguntou.

Fechei o roupeiro no susto e me virei, vendo-o com um sorriso sarcástico.

- Acho que a Jazmin não ia gostar de saber que você está mexendo nas coisas dela.

- Eu não estou mexendo em nada, tapado. Eu só... Estava dando uma olhada por curiosidade. - Me sentei na minha cama.

- Sei... - Sentou ao meu lado.

- Então, você é o filho do Bartolomeu...

- Sou, sim.

- E você tem pai, mas mora aqui...

- Sim. Que nem o Cris e a Luz. - Falou se referindo aos filhos do Nico e da Justina, respectivamente.

- Hum... Legal! - Falei com indiferença.

- Hey, quer fazer alguma coisa? Deve ser chato ficar aqui sozinha.

- Não, obrigada. - Respondi. - Estou muito bem aqui.

- Tem certeza? - Me lançou um olhar quase intimidador.

- Aham.

O garoto deu de ombros e saiu do meu quarto. Deitei na cama e respirei aliviada. não posso negar o fato de Thiago ser lindo, mas... ele parecia ser aquele tipo de garoto que todas as garotas são a fim, e por isso se acham a última bolacha do pacote, e para mim, esse tipo são os piores, busco manter distância deles. Sempre que possível.

Pouco depois, o pessoal voltou da escola. Eu estava no quarto, mas percebi quando chegaram pois escutei algumas vozes. Desci as escadas, indo até a sala, onde eles se encontravam. Logo, notei quando Bartô reclamou do barulho que eles (as crianças, principalmente) estavam fazendo, me surpreendi ao vê-lo falar de tal maneira, ele parecia tão amigável antes. Queria estar certa. E quando ele notou minha presença, mudou completamente o tom de voz, falando de forma mais mansa, o que chamou minha atenção.

Almoçamos todos juntos na cozinha, exceto Nico que não estava, e o almoço parecia mais um enterro, ninguém dizia uma palavra sequer e todos comiam de cabeça baixa. As vezes notava Bartolomeu olhar discretamente para todos. E eu fiquei sem entender nada.

- Que silêncio! - Thiago disse.

E ninguém disse uma palavra sequer, Jazmin e Tato apenas olharam rapidamente para o garoto, mas logo voltaram a baixar suas cabeças, e seguiram almoçando.

- Terminei. - Disse Aleli, uma das pequenas. - Permissão para me retirar?

- Claro, querida. - Bartô respondeu.

A criança pegou seu prato e seu copo e os levou até a pia, se retirando, em seguida. E então, um a um foi fazendo o mesmo. Eu fui uma das últimas a terminar, ficou apenas eu, Rama e Bartô à mesa. Quando eu terminei, pedi licença e me levantei, fazendo menção em me retirar.

- Volte imediatamente. - Disse Bartolomeu de forma curta e grossa, fazendo eu me virar para ele. - Você não pediu permissão para sair.

- Eu pedi licença. - Argumentei.

- Não é o mesmo. Tem que pedir para sair.

- Permissão para me retirar, senhor? - Cruzei os braços e revirei os olhos.

- Claro, mas antes leve sua louça até a pia.

O encarei, sentindo-o me fuzilar com o olhar, mas obedeci, e então, me retirei da cozinha. Rama veio atrás de mim.

- Qual é o problema dele? - Perguntei.

- Ah, essa é a melhor versão dele, você não viu nada ainda.

O garoto subiu as escadas enquanto eu tentava assimilar as palavras dele. O que será que ele quis dizer com isso?

(...)

Eu estava no pátio do abrigo quando avisei Rama do outro lado da rua. Nem tinha visto o garoto sair de casa. Ele parecia estar esperando alguém, e olhava para todos os lados como se não quisesse ser visto. Sai do abrigo, pois não éramos proibidos de sair, Nico nos dava essa liberdade, pois confiava na gente. E sem que Rama me visse, cheguei mais perto e fiquei espiando-o. Eis que vi um homem pra lá de estranho indo falar com o garoto, que lhe deu um embrulho muito suspeito. O homem abriu o embrulho, consentiu com a cabeça, e logo deu uma quantia em dinheiro para Rama. Mas pera, o que o garoto estava fazendo?  

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