(Mar)
Siento lo mismo, me pasan cosas (Sinto o mesmo, me passam coisas)
Que son tan tontas, que son tan locas (Que são tão bobas, que são tão loucas)
Siento un vacío que no se llena (Sinto um vazio que não se preenche)
Y siento frío y mucha pena (E sinto frio e muita pena)
Era um sábado para minha alegria, pois assim a gente não precisaria ficar horas trancadas em um sótão fedido, em um tédio absurdo, quer dizer, a gente até tentava se distrair, mas nem sempre a gente conseguia.
Eu estava em meu quarto terminando de me arrumar, pois recém havia saído do banho. Estava amarrando meus calçados quando Luz entrou correndo em meu quarto.
- Mar, Mar, me socorre. Eu não quero morrer. - Se escondeu atrás de mim.
- O que houve? - Perguntei apavorada.
Confesso que fiquei assustada, pois pensei que Bartô podia estar querendo machucá-la, o que seria meio estranho por ela ser filha da Justina, e eu sabia que se o homem machucasse aquela criança, a mulher faria picadinho dele, o que não seria nada mal, acho que eu a agradeceria por isso.
- Ele quer me matar. - A menina apontou na direção da porta.
E então, eu olhei para a direção que a garota havia apontado, e o vi. Era Murilo. Confesso que fiquei bem aliviada por isso. O menino parecia bem nervoso e estava ofegante, parecia ter corrido uma maratona, já a menina, estava bem assustada e ficou escondida atrás de mim e me agarrava pela blusa.
- Luz, eu vou te matar. - O pequeno disse.
- Não vai, não senhor. - Falei. - Me conta, o que aconteceu?
- Ela quebrou o meu boneco do Homem Aranha, que o Nico me deu. - Me mostrou o boneco decapitado.
- Foi sem querer. - A loirinha disse.
- Então, vou quebrar suas bonecas sem querer também.
- Hey! Foi um acidente. Desculpa.
Murilo parecia bem chateado, já Luz parecia estar sendo sincera, deu pra ver que ela realmente não teve intenção de quebrar o brinquedo do menino, e eu estava conversando com os dois, quando Cristiano e Aleli entraram correndo. A menina abraçou Luz, ai, achava essas duas tão fofas, era tão bonitinho ver a amizade delas.
- Se você encostar um dedo nela, eu vou contar pro meu pai, e ele diz que um homem não deve jamais encostar um dedo em uma dama. - Disse Cristiano para Murilo. Logo se dirigiu para Luz. - Vem, vamos brincar em outro lugar. - Pegou na mão da menina e saíram do meu quarto, sendo seguidos por Aleli.
Eu olhei para Murilo, que estava cabisbaixo, parecia triste. Conversei um pouco com o garoto, que parecia arrependido por ter ficado bravo com a amiga, então, consegui fazer ele ir se desculpar com ela para voltar a brincar com os demais.
Nisso, Thiago apareceu em meu quarto. Não disse nada em um primeiro momento. Lembrei das palavras de Jazmin sobre o garoto, e fiquei me perguntando se ele era realmente diferente do pai, eu queria crer que sim, mas não tinha como ter certeza.
- Oi. - Falou com um leve sorriso.
- Oi.
- Hã... Eu... Eu preciso arrumar umas coisas no porão, o Nico ia fazer isso, mas como eu sou muito legal, me ofereci para fazer.
- Muito legal e muito convencido, né? - Ele riu.
- Estou zoando. Mas... Quer me ajudar?
- Por que eu?
- Porque... Ah, você chegou aqui e a gente mal conversa, achei que... que seria uma boa pra gente poder se conhecer melhor. - Falou timidamente.
- Você quer me conhecer melhor? - Perguntei meio surpresa.
- Ah... - Deu de ombros meio sem graça. - Você quer me ajudar?
- Hã... Eu... - Lembrei do que Bartô me disse sobre eu não ficar amiga de Thiago. - Quero.
Ok, eu sabia que podia ser meio arriscado, mas eu já estava tacando o ''foda-se'', eu odiava o Bartô e odiava tudo o que ele me fazia sentir, raiva, medo, ódio... E acho que essa seria uma boa ideia para afrontá-lo, pois eu estava cansada de fazer tudo o que ele manda por medo, e talvez se ele me fizesse algo, alguém poderia notar e ele poderia se ferrar, e era tudo o que eu mais queria, e acredito que isso faria a alegria de muita gente.
- Legal! - Falou com um singelo sorriso. - Vem...
Nós dois fomos até o porão, que estava bem bagunçado, cheio de caixas e coisas jogadas no chão, prateleiras bagunçadas, muita poeira, parecia que ninguém limpava e organizava aquele lugar desde os tempos da cavernas, não sei como ninguém havia dado um jeito naquele lugar antes.
- Bem que o Nico falou que isso estava precisando de uma boa limpeza. - Falou ao adentrarmos o lugar.
Eu fiz menção em fechar a porta quando rapidamente Thiago disse:
- Não fecha, essa porta está com problema, só abre por fora.
-Ah, ok. - A deixei aberta.
Thiago e eu começamos a organizar algumas coisas enquanto conversávamos um pouco. Eu contei sobre a minha vida, e ele também me falou sobre a sua vida, me disse que ele nunca chegou a conhecer a mãe, pois ela havia o abandonado pouco depois que ele nasceu, e que tinha vontade de conhecê-la só para saber o que a levou a não querer saber dele, e admito que fiquei um pouco mal ao vê-lo falar, dava para ver que isso ainda mexia bastante com ele, ficou com o olhar triste ao falar da falta da presença materna em sua vida, me senti mal por vê-lo triste, acho que ninguém merecia crescer sem pai ou mãe, isso faz tanta falta na vida de uma criança, e bom, eu até tive, mas foi a mesma coisa que não ter, e confesso que não sinto falta deles.
E então, eu me abaixei para pegar uma caixa que estava no chão, e Thiago rapidamente fez o meu, no mesmo instante que eu, e sem perceber, acabamos tentando pegar a caixa ao mesmo tempo, e nisso, nossas mãos se tocaram. Eu olhei para ele e ele olhou para mim, nossos olhares ficaram se cruzando e eu não conseguia parar de olhá-lo, era como se o seu olhar me hipnotizasse, e fiquei um pouco fascinada com isso.
E então, escutamos um barulho de porta, olhamos ao mesmo tempo para a porta do porão e ela estava fechada. Corremos até a porta e tentamos abrir, mas não abria, estávamos trancados. Ai, meu Deus, e agora? Como iríamos sair daquele lugar?
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Entre Dois Mundos
RomanceMarianella é uma jovem de 16 anos, que foi tirada da guarda dos pais ainda muito criança, e passou a viver em abrigos. De gênio difícil e bastante rebelde, acabava sempre se metendo em confusão, e por isso era sempre transferida para outro abrigo. A...