Capítulo 6 - E As Surpresas Não Param

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(Mar e Rama)

Me fui sintiendo un gran dolor (Fui sentindo uma grande dor)

Me fui llorando por este amor (Fui chorando por este amor)

Me fui buscando algo mejor (Fui procurando algo melhor)

Volví a mi mundo, volvi a vos (Voltei para meu mundo, voltei para você)

- Isso aqui não é uma escola nem a pau. - Falei.

Nós estávamos no sótão. Eu quase não acreditei quando vi. Eu pensei que íamos pra uma escola de verdade. Tato me explicou que todos os dias eles fingiam que iam pra uma escola que nem sequer existe e que ficavam por horas naquele lugar até dar a hora de ''voltarem para o abrigo'', e ninguém nunca desconfiou, pois Bartô e Justina eram os encarregados de levarem e buscarem todos ao colégio, e Jaz me contou que eles eram tão espertos, que as vezes fingiam que iam à escola para alguma reunião pedagógica, ou para falar com professores, e até mentiam que alguém havia se metido em confusão e tal, eles pareciam pensar em tudo.

- Eu queria ir pra escola de verdade que nem a Luz e os Cristiano, aqui é chato. - Resmungou Aleli.

- Não fica assim, irmãzinha. - Disse Rama. - Nós ainda iremos para uma escola de verdade, você vai ver. Te prometo, viu?

- E o que vocês ficam fazendo aqui? - Perguntei.

- Conversamos, fazemos alguns jogos, cantamos... - Disse Rama. - Só assim pro tempo passar mais rápido.

Ah, Justina e Bartô não ficavam o tempo todo conosco no sótão, ficavam apenas uma meia hora com a gente, que para nós era uma eternidade e depois desciam para o abrigo novamente. Ah, e por falar nisso, o alçapão que levava até o sótão ficava no escritório do Bartolomeu, por isso ninguém via a gente subindo ou descendo, pois se ficasse no meio dos corredores, por exemplo, alguém poderia ver, o que eu adoraria que acontecesse, mas infelizmente eles pareciam ser tão inteligentes, pensavam em tudo, em cada detalhe... Justina e Bartô eram as pessoas mais perversas e repugnantes de todos o mundo, e podiam ser o que fosse, mas com certeza, se tinha uma coisa que eles não eram, era: burros.

Ficamos horas brincando, fizemos vários jogos como 1 letra, 1 música, 2 verdades e uma mentira, e também jogamos um pouco de stop, porém, sem folhas e canetas, pois não tínhamos isso no local, então, tivemos que brincar só falando. E também conversamos bastante, pude saber um pouco mais sobre cada um.

- E como era lá no abrigo de onde você veio? - Perguntou Rama.

- Qual deles? Eu já passei por tantos... Se eu falar de todos vou ficar falando até 2050.

- Hã... Pode ser só o último mesmo, acho que não temos tanto tempo assim. - Falou me fazendo rir.

- Ah, era chato, sabe? Tipo, lá eu não precisava roubar, nem nada. E tinha a diretora que era legal, quer dizer, quase sempre, porque as vezes eu me metia em problemas e ela me dava bronca.

- Você aprontava? - Murilo perguntou.

- Sim. Ou melhor, aprontavam comigo. Lá ninguém gostava de mim, sabe? Eu não tinha amigos e todos viviam implicando comigo.

- Eu não sei como podiam implicar com uma garota tão linda. - Disse Rama me deixando envergonhada.

- Ui... - Falaram os pequenos.

- Rama, você deixou a Mar sem palavras. A Mar. Logo a Mar. - Disse Jazmin.

Antes que um de nós pudesse pensar em responder à garota, Bartô e Justina surgiram das trevas para ''nos buscar na escola'', eles ficaram um tempo ali e depois voltamos para o abrigo. Ah, o escritório do Bartô tinha uma passagem secreta, onde dava para a rua, sendo assim, a gente podia sair pela porta principal, e entrar no escritório dele por essa passagem secreta sem precisar entrarmos novamente no abrigo. Do lado de fora, a porta era aberta ao puxar uma pequena estátua, que ficava na lateral do abrigo, onde era a tal passagem. E por dentro, a porta era aberta quando movíamos um quadro da parede de lugar, tipo, era só colocá-lo para a direita, que a porta já abria. Ai, como eu fui ingênua. Quando eu vi a gente entrando no escritório dele por essa passagem secreta, eu o questionei sobre o que estava havendo, ele deu uma desculpa qualquer, e eu como patinha cai na dele, só fui começar a entender o que estava havendo quando chegar no sótão de fato. Foi aí que eu percebi que não tinha escola nenhuma. Ok, que eu não me dava muito bem no colégio, e que achava perda de tempo e tal, até pela minha dificuldade de aprendizado, mas ainda achava que era melhor do que ficar em um sótão presa enquanto Thiago, Luz e Cristiano estavam em uma escola de verdade aprendendo coisas novas, e também não era justo com a gente, principalmente com os pequenos, pois lugar de criança é brincando e estudando.

Saimos pela passagem secreta, indo parar no quintal do abrigo, e entramos pela porta principal. Eu mal tinha entrado, quando Thiago se aproximou de mim, fazendo eu revirar os olhos, e então, ele perguntou:

- E aí, como foi no seu primeiro dia de aula?

- Nossa, foi incrível, super maneiro. - Falei de forma irônica. - Melhor primeiro dia de aula. - Dei um sorriso falso.

- Ah, que legal. Se quiser me contar mais como foi lá. - O garoto disse.

- Não, obrigado.

Dei as costas para ele, e fui atrás de Jazmin até o nosso quarto. Larguei a mochila em cima da minha cama.

Ah, por que Thiago tinha que viver pegando no meu pé? Que saco! Parecia que ele não se tocava que eu não queria ser amiga dele, ficava forçando uma amizade que não existia da minha parte, até porque eu não era e nunca seria amiga do filho do Bartolomeu, pois aquele homem é tão... perverso. Com certeza, aquele rostinho bonito devia ser igual ou pior que o pai, se bem que acho difícil achar ser pior que ele.

Nós todos almoçamos, e assim que o almoço terminou, eu estava indo em direção à porta principal, para ficar um pouco no pátio, porém, antes que eu chegasse na porta, Bartô me chamou para um canto, e mesmo bufando de raiva, eu fui até ele.

- O que você quer?

- Um favorzinho! Você vai entregar essa sacola para esse homem. - Me entregou uma sacola com um embrulho dentro, e me mostrou a foto de um homem, que eu não conhecia e nem queria. - Ele estará te esperando nesse endereço. - Me deu um papel com um endereço, que ficava perto do abrigo.

- Isso é droga! Eu não vou fazer isso.

- Ah, vai sim. - Começou a mexer em meu cabelo. - Ou será que você já se imaginou careca? Acho que não ia ficar muito bonita.

- Se você fizer isso todo mundo saberá que você é um louco que explora adolescentes e criancinhas.

- Não me provoque, garota. - Falou. - Você não sabe do que eu sou capaz. Agora vai de uma vez antes que alguém apareça.

Olhei com ódio para ele, mas sai em direção ao endereço que aquele ser asqueroso havia me dado. Um homem já aguardava por mim, entreguei a sacola para ele, que saiu rapidamente, parecia que já estava drogado, me deu até medo. Rapidamente, voltei para o abrigo.

(...)

Eu estava na sala deitada no sofá vendo TV com Jazmin, quando a campainha do abrigo tocou.

- Vou abrir. - Falei.

Eu estava indo em direção à porta, quando Nico passou e mais rápido que eu, abriu a porta. Era uma mulher. Eu não a conhecia, mas era linda, uma loira, de olhos claros. A mulher e Nico ficaram sem palavras. Ninguém dizia nada. Apenas ficavam se olhando feito dois tontos.

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