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ઇઉ Março de 2021


Nós não fazemos ideia de como nossa vida pode mudar completamente a partir de um dia absolutamente ordinário.

— Três, dois, um! Pula, um, dois três! E... finaliza. — Bianka, minha professora, melhor amiga, e também dona do Studio, está na frente, de costas para nós e de cara com o grande espelho. Estamos seguindo seus passos.

Ok, na realidade, nem estamos mais seguindo passos.

Todas nós já decoramos a dança – só estamos em formação, observando individualmente nossos próprios reflexos em grupo. Todas com as bochechas vermelhas, estamos bem sincronizadas e secretamente rezando para acabar logo. 

Esse é o nosso último ensaio do dia, o ar condicionado quebrou na segunda-feira, precisamos fazer o upload do vídeo da coreografia até amanhã; resumidamente: estamos quase mortas em meio a um verdadeiro caos. Já nem sei quantas vezes repetimos os mesmos passos. Calor e dor de cabeça nos define.

Finalizamos por hoje, e após isso vamos todas nos dispersando, bebendo suas respectivas águas, conversando, reclamando de dor nas costas, até irmos embora... enfim, nada além da rotina.

Estou ao lado da entrada da sala segurando uma garrafinha de água e pegando um vento vindo da porta, quando Bia, que estava usando o notebook, dá um grito bem agudo e pula da cadeira com velocidade. A cadeira cai fazendo um barulho que não conseguiu ser mais alto do que seu grito. O pulo de susto que todas damos é praticamente sincronizado. Olhamos na mesma direção.

— Meu. Deus! —Bianka leva as mãos até a boca que está aberta em um O, em estado de choque. — Meu Deus, meu Deus, meu Deus...

Vamos em grupo correndo até ela sem entender absolutamente nada. Uma de nós, inclusive, a empurra (em segredo, estou rindo), e estamos todas no local onde ela estava há dois segundos: em frente ao notebook tentando ler o que ela leu que a deixou tão perplexa. Mas como somos doze, não consigo enxergar a tela do aparelho, pois já estão todas bem em cima em um amontoado de mulheres suadas e curiosas.

De certa perspectiva poderia ser o paraíso, mas é o inferno.

— O que é? — diz uma.

— O que foi? — diz outra.

— Para de empurrar, Lílian — resmunga uma.

— Você que tá me empurrando, cara — resmunga outra.

— Diz logo o que é!

— Calma, será que eu posso ler antes?

E vão rolando a tela enquanto Lílian lê baixinho o que, em questão, parece se tratar de um documento. Todas aquelas pessoas falando ao mesmo tempo e achando que vão conseguir entender algo desse jeito... Desisto, optando pelo caminho mais fácil, e simplesmente vou até Bia para descobrir. Ela está com os olhos esbugalhados, afastada, abrindo um sorriso aparentemente incrédulo no rosto. Observação: ainda está repetindo baixinho meu Deus, meu Deus, meu Deus...

— E então? — Assim que me aproximo de fininho, dou de ombros com as mãos nos bolsos e arqueio as sobrancelhas, procurando respostas.

Ela respira fundo, me olhando com lágrimas nos olhos, o que me deixa um pouco apreensiva.

— O Studio foi aprovado na audição para enviar dançarinas para compor uma cena na série Stranger Things — ela fala tudo de uma vez, quase que em um sussurro, como se fosse um segredo, e como se as meninas não estivessem, literalmente, a três metros lendo as mesmas informações no notebook.

efeito borboleta || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora