Foi como uma onda, atingindo-me cérebro, neurônios e coração a dentro. A exata mesma sensação de quando você está na praia e é atingida pela onda da maré alta, forte e pesada, te empurrando; e você cai de joelhos com os olhos fechados, sentindo tudo completamente denso te preenchendo e entrando pelas suas narinas. Você fica sem ar, seus brônquios ardem, a tontura te encontra de frente. Você fica atordoada, rasga. Você é invadida.
Joseph sempre me causou as mais bonitas sensações, desde o início, e com isso eu posso contar, inclusive, com o medo que senti ao vê-lo possuindo a mim e a minha vida. O pavor de vê-lo em cada canto, sentir seu perfume dominando o local, acordar ao seu lado – até isso foi bonito. Ele era a própria beleza, como definição. Joseph Quinn.
Ele me fez não desistir dele, para poder me ter nas mãos e quebrar do jeito que quisesse. Era só o que eu conseguia imaginar. Ele era maquiavélico a esse ponto?
Agora tudo o que sinto é essa confusão ondulada. Perdi o rumo, a porra do controle que eu cheguei a achar – quase que como um suspiro, tão rápido – que encontrei.
Sem saber bem o que estava fazendo, eu apenas juntei minhas coisas em cima do balcão em cores pasteis da clínica e saí correndo. Estava tão enfurecida, mas tão enfurecida, que sequer percebi quando as lágrimas começaram a rolar descontroladamente pelo meu rosto; só notei porque haviam muitos olhares em minha direção – uma manca correndo e chorando pela rua, claro que vai chamar atenção.
Eu estava um pouco fora de mim. É óbvio que eu não o amo, não o amo. Não o amo, repetia para mim mesma. Apenas estava apaixonada. Mas vamos tratar de des-apaixonar, nesse mesmo instante. Como seria ótimo se fosse assim, como num estalar de dedos. Você se levanta e, finalmente saiu da onda, a água partiu de dentro dos seus pulmões, você encontrou o ar fresco, parece que nem ficou à uma linha tênue de se afogar. Todos sabemos que não é assim que funciona. Leva tempo até subir, se equilibrar e a água finalmente ser exportada de seu órgão para respirar.
Eu caminhei como nunca mais havia caminhado. Parecia que nunca chegaria. A clínica não era longe, mas não era perto, e meus pés estavam dormentes quando cheguei à porta do apartamento e percebi que meu machucado doía muito mais que o normal. Eu não deveria estar caminhando, mas naquele exato segundo, eu até preferia que o calcanhar pulsasse de dor profunda, para abafar o aperto do meu peito.
Entrei como um furacão, rápida e em alvoroço, sendo observada em silêncio e com críticas silenciosas pelo porteiro e a recepcionista do apartamento. Não me importava. Só pensava em duas coisas, repetidamente, sem cansar: Eu não o amo; e, preciso chegar em casa.
Agradeci mentalmente ao meu eu do passado por ter escolhido a casa de baixo, sem precisar subir escadas complexas, quando girei a chave na maçaneta e finalmente entrei. Era o meu sofá, mas eu só conseguia lembrar daquele maldito corpo lindo sentado na ponta, acariciando meus pés – até então, sãos –, os cabelos loiros em contraste com a coloração escolhida a dedo da minha sala de estar. Raiva. Muita raiva.
Desbloqueio o celular, ainda em pé, no meio da saleta, dedos trêmulos tentando de verdade funcionar normalmente.
Joseph, às 14h05: Boa consulta. Espero que seja divertido!
Joseph, às 14h10: Ah! E lembre-se me avisar quando sentir dor. Estou preocupado.
Eu gostaria de te dizer que estou sentindo dor, e, nossa, está doendo mesmo. Mas não é o pé. É outro lugar que dói, um lugar que eu teimo em não falar onde é, mas que você saberia. Me odeio por ter abaixado a guarda e permitido que você entrasse nesse lugar, só para que agora tenha a liberdade de fazê-lo doer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
efeito borboleta || joseph quinn
RomanceMaria Júlia é uma jornalista brasileira que atualmente trabalha como editora e criadora de conteúdo para o site midiático Sensation. Há algum tempo sofreu um trauma ao perder seu esposo em um acidente de avião. Ela tem como hobby a dança, onde enco...