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Meus olhos estavam turvos e minha respiração acelerada. Não conseguia ver muito bem ao meu redor, só conseguia prestar atenção nos meus batimentos cardíacos descompensados, e em puxar a respiração com toda a força que eu tinha.

— Ei, tudo bem. Está tudo bem. Fica calma, estou aqui, está tudo bem — ouvi, então, sua voz muito mais como um zumbido distante.

Aos poucos fui voltando à realidade e recobrando a consciência. O embaraço da minha visão, descobri, era por conta de lágrimas que brotaram ali, e eu já não estava mais na atmosfera vívida do pesadelo. Não estava mais vivendo aquilo. Não estava mais ao lado de Isaque. Quem estava ao meu lado?

Olho naquela direção e enxergo Joseph. Com o peito nu, os claros cabelos castanhos, quase loiros – bagunçados, o edredom fora do seu corpo, a linguagem corporal de uma pessoa exasperada. As mãos bem abertas segurando meu ombro e apoiando minhas costas, as sobrancelhas juntas e rugas aparentes na testa. Seus olhos indicavam preocupação, vontade de poder ajudar de alguma forma, secar aquelas lágrimas, entender o que aconteceu.

Me sinto envergonhada em sentir alívio, porque é ele quem está ao meu lado. Ultimamente esses pesadelos só me trazem medo da lembrança de Isaque.

Estou respirando fundo e seu toque vai me acalmando ao passo que vou entendendo que era apenas um sonho. Nada daquilo era real.

Sinto um nó se formar em minha garganta e sei que vou chorar, tenho certeza. Não vou conseguir conter nem mais um minuto. Tenho contido demais. Então viro meu corpo de frente para Joseph e me jogo em seus braços, que me acolhem perfeitamente bem. Ele me abraça com carinho e cuidado, passando as mãos em meus cabelos e me segurando pela nuca. Sussurra várias vezes que está tudo bem e beija o topo de minha cabeça, mesmo sem entender.

Lágrimas quietas e silenciosas escorregam pela minha bochecha. Ele vai se deitando devagar, suas costas indo de encontro com a cabeceira da cama, me levando junto. Ficamos ali por um tempo até que a primeira palavra se torne, de fato, uma conversa.

Em nenhum momento cogitei ter vergonha de chorar em sua presença, pois ele tinha o dom de fazer tudo tornar-se confortável mesmo que só tenhamos interagido há cerca de três dias. Não parecia ser apenas isso. Estar deitada em seu peito molhando-o não me incomoda, e eu acredito que nem mesmo a ele. Inspiro entre as lágrimas libertas e sinto o cheiro de Joseph misturado com o do meu sabonete. É uma mistura boa. O calor do seu corpo grudado ao meu desde a hora em que encostou em mim ainda está me aquecendo.

Mesmo assim, estou sendo consumida gradativamente por uma culpa ocupacional, como se a ficha estivesse caindo. É como se eu não devesse estar ali. Eu já senti, sim, o cheiro do meu próprio sabonete em outro peito que não era o seu. Já fui acolhida no meio da noite por crises, com outros motivos, por outra pessoa. Já senti o topo da minha cabeça sendo beijado por outro alguém.

Já naquele momento, percebo diferenças entre eles dois.

Nunca foi minha intenção comparar Isaque a qualquer outra pessoa que passasse pela minha vida, mas nesse momento, de olhos fechados e alma dolorida, não consigo controlar os pensamentos indevidos, por mais que me machuque pensa-los. Por mais que tente desviá-los.

Isaque não me deixava chorar. Ele levantava, acendia as luzes, retirava o edredom de cima do meu corpo, conversava por horas até conseguir me fazer rir – se precisasse, até colocaria um filme de comédia no celular em minha frente. Não importava como fosse, contanto que eu não estivesse chorando. Ele tinha pavor ao meu pranto. Era essa a sua forma de reagir.

Porém, às vezes eu só não queria ser enxergada na luz com lágrimas nos olhos. Às vezes eu não queria que ele insistisse em saber o motivo, às vezes eu queria que ele não estivesse tão desesperado quanto eu – precisava de calma. Às vezes eu só não queria rir.

efeito borboleta || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora