7

321 32 48
                                    

Cá estamos nós, de novo.

Respira fundo. Conta até 3. 

Inspira, expira. 1, 2, 3. Inspira, expira. 1, 2, 3.

Já retocaram a minha maquiagem cerca de cinco vezes, me ofereceram água o dobro – e estou com a minha garrafa bem ao meu lado, à minha disposição –, mas minha garganta ainda se encontra seca feito um deserto sem chuva. O ambiente é maravilhosamente bem ventilado, ar condicionado em temperatura confortável, e mesmo assim estou suando loucamente. Não consigo parar as minhas pernas, nem meus dedos. Seguro e solto o microfone diversas vezes em meu colo. Sou incapaz de olhar para eles.

Tomei alguns calmantes antes de vir, o suficiente para não ficar drogada e para não começar a chorar na frente de todo mundo. Ainda ontem à noite, quando Mariana me ligou, falei com Cecília e ela me passou as planilhas com os planejamentos das perguntas e o rumo que a entrevista pretendia tomar, muitíssimo feliz. Treinei sem parar desde então – ou seja, mal dormi. Me informou também que será transmitida ao vivo em nosso site (o que faz com que fique disponível para sempre na internet inteira). Quase nenhuma pressão, né? Suave.

— Você parece ótima! — a diretora de imagem e a maquiadora mentiram. Isso é porque estou conseguindo fingir, eu não estou ótima. Estou mais à beira de um surto psicótico.

Joseph está sentado conversando com Eduardo e algumas pessoas de sua equipe, as pernas cruzadas, mexendo no celular. Sim, nós já trocamos olhares, mas acredito que ele não tenha me reconhecido, pois me cumprimentou como fez com todos no local: normalmente. Um aceno simpático de longe em alguns, um abraço em outros. Um sorriso para mim.

Mas eu queria o quê? Um "quanto tempo, sumida"? Mal nos falamos quando nos conhecemos. Até parece que eu sou alguém de quem Joseph Quinn se recordaria. Tudo o que faz parecer, de alguma forma, que tenha sido especial, é culpa de Bianka; por ter colocado pilha nas minhas paranoias.

E aí, eu o olho meio com medo de ser pega no flagra, ele percebe e me olha por cima dos olhos. Aí eu desvio o olhar como se fosse servir de alguma coisa. É a segunda vez que isso acontece. Argh.

Eduardo está sentado ao seu lado. Joseph está com uma camiseta branca (adoro ele vestido nessa cor, já comentei?), uma jaqueta verde musgo e uma calça jeans preta. A barba por fazer, uma postura leve e despojada, bastante dinâmico ao falar com todo mundo. Sei que sou suspeita a falar, mas ele é um absurdo de homem. O tempo só o ajudou.

Leio e releio os papéis em minhas mãos. Eu sei que já decorei, mas não me confio o suficiente para deixar de lado e aceitar que já sei de cor.

— Ei, Maju — Cecília surge pelas minhas costas, me fazendo dar um pulinho e uma risada sem graça. Ela sorri e me olha numa tentativa estranha de mostrar compaixão.

Sim, Cecília está aqui. Esse é o nível de importância da entrevista que está em minhas mãos. Ela nunca está presente nos eventos. Apoia a mão em meu ombro. Levanto o rosto para olhá-la.

— Sim?

— Vamos começar, já estamos no horário. Você tá pronta?

Engulo em seco, ajeito minha postura e cruzo as pernas, respirando fundo. Fico muito mais nervosa do que já estava.

— Estou.

É mentira.

— Você sempre arrasa. Estou feliz de que é você a nossa entrevistadora hoje.

— Obrigada — me esforço para sorrir verdadeiramente, e ela dá uma piscadela; virando-se e indo até o restante do pessoal para avisar que vamos começar. Sei que quer me passar confiança. O que não entendo é o motivo pelo qual todo mundo confia tanto em mim. Menos eu mesma.

efeito borboleta || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora