— Meu Deus, que porra é essa? — exclamo, ou questiono, chocada, levando as duas mãos à boca.
Joe deixa a expressão alegre e leve e dá lugar a uma confusa e surpresa, ao mesmo tempo. Rindo, ele começa a falar e sua voz tem efeito automático e sagaz em todo o meu corpo. Seu timbre grosso, sua risada gostosa, sua presença, que saudade.
— Tudo bem, primeiramente, você esqueceu de falar em inglês, então não faço ideia do que tenha dito — ri, balançando a cabeça negativamente e gesticulando. — Segundamente, meu Deus, Maria, você cortou o cabelo! — gesticula ainda mais e de forma mais grave, mostrando animação e choque.
Suas bochechas estão coradas, talvez por reação ao calor brasileiro em comparação à temperatura londrina; seus olhos grandes brilham quase como quem está prestes a chorar, mas não há lágrimas; sua boca está igual da última vez que vi, nada mudou, continua bem desenhada, carnuda, avermelhada e muito – muito desejável.
— Desculpe — digo, mais como risada que como palavra, agora em inglês. — Entre — limpo a garganta e dou alguns passos para trás para que ele entre, abrindo mais a porta.
Joseph avança um pouco e depois pausa ligeiramente, a ponto de ser imperceptível, como se desistisse de alguma ação. Depois, volta a caminhar em direção a parte interior de minha casa. Lá está ele de novo. Seu corpo alto, cheiroso e de presença tão significativa dentro do meu lar. Essa casa, cada decoração dela, combina tanto com ele.
Suspiro, completamente encantada e entregue, mal ele chegou. Está tão lindo, parece ainda mais bonito do que quando foi embora; ele combina tanto de preto. Está com uma camiseta de botões com listras sutis em cinza, quase inexistentes; uma calça e um sapato sociais escuros; seus clássicos olhos de sol em estampa discreta e um boné.
— Você está tentando se disfarçar para não te reconhecerem? — questiono, rindo baixinho e fechando a porta, sem tirar os olhos dele um só segundo.
Joe deixa a maleta em cima do sofá, retira os óculos e também os põe lá e vira-se para mim. Fita-me de cima a baixo. Sua barba está por fazer, está usando a colônia que usou em nossa despedida e me traz vontade de arrancar esses botões e...
— Funcionou — levanta os ombros, sorrindo envergonhado. — Mas não mude de assunto. Você cortou o cabelo!
Estende a mão livre, enquanto a outra ainda está segurando o buquê com lindos girassóis bem amarelos, com cabos bem verdes, enrolados em papel lilás. Ele sorri largamente, analisando o visual. Nota que olhei rapidamente para o buquê, que é belíssimo. Fecha os olhos rapidamente como se lembrasse de algo e entrega-me as flores. Agora está bastante perto de mim.
— É para você — e me lança um sorriso.
Esse sorriso é a última gota d'água. Inaceitável. Ele é tão lindo. Seu sorriso me desmancha, transforma-me em um pequeno suco de amores, e eu quero muito me derramar nele. Seu corpo está perto, mas está tão longe, e tudo que eu quero é estar tão perto, mas tão perto que entremos em fusão.
Em apenas um pulo estou em seus braços, com os meus enroscados em seu pescoço e sentindo seu corpo quente tocando o meu. Ele gargalha alto e minha cabeça se encosta em seu ombro, rodeando minhas pernas em seu quadril. Nesse momento, sou apenas uma fã completamente apaixonada que quer dar seu primeiro abraço no ídolo. Vamos, Joseph Quinn, me note. E ele rodeia seus braços fortes em minha cintura, até que sinto a ponta dos girassóis tocarem em meus cabelos. Joe afunda o rosto, risonho, em meu pescoço e deposita beijinhos ali.
— Eu senti saudade — admito, e é quase como abrir uma ferida, porque estive, de verdade, tão magoada com as nossas últimas conversas e tudo o que andou acontecendo, que me dói confessar.
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efeito borboleta || joseph quinn
RomanceMaria Júlia é uma jornalista brasileira que atualmente trabalha como editora e criadora de conteúdo para o site midiático Sensation. Há algum tempo sofreu um trauma ao perder seu esposo em um acidente de avião. Ela tem como hobby a dança, onde enco...