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— Maria, por favor! Você não sabe nem raspar um limão? — Joe revira os olhos, se fazendo de bravo; solta o celular em cima do balcão e me empurra com o quadril, tomando o ralador e a fruta de minhas mãos. — Observe e aprenda — ele faz um movimento de reverência enquanto me olha com superioridade.

Joseph começa a ralar o limão como se estivesse pintando uma obra de arte e eu não consigo sustentar meu olhar e pose de deboche, só consigo rir muito.

Eis o que está acontecendo.

Depois de se negar a permitir que qualquer outra pessoa me deixasse em casa, na madrugada anterior, Joe me trouxe. Ele até tinha deixado os vidros das janelas abaixados e eu fiz questão que ele subisse para não correr o risco de qualquer pessoa nos ver e especular algo – por mais que fosse cerca de 4h da madrugada. Claro que ele zoou a minha paranoia.

Quando parou em frente ao meu apartamento, que não era nada comparado ao hotel em que ele estava hospedado, não se importou com a simplicidade do local onde eu morava. Não ligou nem um pouco. Ele só olhava para mim.

Fiquei tão nervosa achando que Joe me beijaria, mas não aconteceu. Felizmente, eu acho, pois quanto mais apressado é para começar, o mesmo é para acabar – frase da minha mãe. Mas não vou negar que quebrou algumas expectativas minhas.

Depois de nos despedirmos com um aceno tímido e eu entrar e tirar toda a minha roupa, tomei um banho quente sorrindo embaixo do chuveiro, lembrando de cada cena daquela noite. Cada toque sútil dele em meu braço ao conversar comigo, cada gargalhada quando dividimos um cigarro no fumódromo, e de quando matamos tempo no sofá. Lembrei-me de como ele ficou ainda mais lindo ao retirar os sapatos junto comigo, bagunçar o cabelo e explicar sobre quase todos os personagens que ele já atuou, com animosidade. Lembrei-me que o papel de parede do celular dele era uma fanart do Eddie e pensei em como seu coração era precioso. Lembrei-me das piadas que ele fazia com qualquer situação e como aquilo me lembrava de mim mesma; de como ele foi cuidadoso ao abrir e fechar a porta do carro para mim, perguntando se eu queria com ou sem ar-condicionado. Lembrei-me dele segurando meu sobretudo e meu salto até chegar ao carro, me mandando mensagem alertando para tomar aspirina assim que pudesse.

Quando deitei na cama, quis poder sentir seu cheiro em vez do cheiro dos meus próprios lençóis. Me perguntei qual seria o perfume dos lençóis de sua cama. De sua cama mesmo, e não da do hotel. Fui vagarosamente sentindo o álcool sair de mim, olhando fixamente para o teto e passando a ponta de meus próprios dedos pelo meu corpo, desejando que fosse ele. Naquela hora eu me permiti não pensar em nenhum medo; nada além de Joseph.

Só que, infelizmente, não foi o que o meu subconsciente também fez quando peguei no sono. Naquela noite sonhei com Isaque.

Foi um sonho bem vago, mas que perfurou minha consciência como um parafuso. Martelando, martelando, martelando. Eu não lembro do sonho, mas lembro de que ele estava lá.

Quando acordei na manhã seguinte, quase ao meio-dia, minha cabeça latejou afiada. Uma dor aguda e chata. Acostumei com a luminosidade do dia, peguei o celular e enviei para Joe: Esqueci da aspirina. Ele respondeu com algumas risadas que me fizeram sorrir junto.

Só que eu passei o restante do dia pairando mau humor. Um estresse me consumindo, pensamentos obsessivos, uma preguiça, uma raiva da vida. Tomei remédio e organizei somente o que baguncei, ficando jogada no sofá, tentando ler um livro. Mas meus pensamentos não me permitiram fazer nada que fosse produtivo.

Eu nem sabia explicar exatamente no que eu estava pensando. Os devaneios variavam entre a noite passada, todo o meu passado, todo o meu presente e todo o meu futuro – seja ele qual for.

efeito borboleta || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora