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Dizem que um raio não atinge duas vezes o mesmo lugar.

Isso não explica como eu tive mais uma noite de sexo maravilhosa com Joseph, ou mesmo a sorte maluca de mais uma vez acordar em seus braços. Usando da mesma lógica, é claro que eu não iria me safar de mais um pesadelo.

Ao menos o de hoje não me fez acordar chorando – só mais desesperada que da outra vez. Que bom?

Eu estava em frente a um mar que parecia ser... muitas coisas. Parecia ser infinito. Parecia ser raso. Ele também parecia bastante azul e tinha poucas ondas. Demorou para que eu tomasse coragem de entrar, mas quando o fiz, o meu primeiro passo foi em falso e me fez cair fundo. Ele era mesmo infinito, mas não era raso, e de repente, também não era azul, mas barroso. Toda aquela água infindável me engoliu de corpo a dentro. Eu me afogava e empurrava meu corpo todo para cima com a pouca força que tinha em comparação ao mar. Nada surtia efeito.

Então vi Isaque, quase como um vulto, fora da água, na área da superfície. Ele esticava seu braço para me pegar pela mão e puxar de volta à costa, mas não me alcançava e nem eu a ele.

Quando acordei, minha respiração estava extremamente ofegante, quase como se houvesse, realmente, água em meus pulmões. Ao abrir os olhos, me deparei com um Joe apreensivo, segurando meus braços e chamando meu nome na tentativa de me acordar. Meu estômago revirava.

Me recuperei e ele buscou um copo com água para mim – maldita água – e deitou-se mais uma vez ao meu lado. Me explicou que eu me mexia muito e parecia estar tendo um pesadelo terrível. Foi difícil engolir a água, por conta do pesadelo e por conta das náuseas, que eu suspeitava também ser devido ao álcool ingerido durante a noite.

— Parece que os pesadelos pioram quando estou com você. É algo que me lembra de que preciso voltar à terapia — suspiro, e ficamos em silêncio enquanto ele puxa o edredom e nos enrola. Ainda está escuro lá fora e toda a casa está um breu. — Desculpe. Juro que não é sempre assim.

— Fique tranquila — Joe estala a língua no céu da boca e sinto seus braços rodeando minha cintura. Então recebo um carinhoso beijo no topo da cabeça que me faz sorrir. Ele fica parado ali, inspirando o cheiro de meu shampoo e pensando até dizer: — Será que estou te fazendo mal?

Seu tom de voz é preocupado, apesar de ter acabado de me dizer para ficar tranquila. Ele quer me apaziguar sem estar em paz. Apoio meu queixo em seu peito e o olho. Está com a cabeça virada para cima, e dessa posição consigo enxergar seu queixo com a barba clara, seu nariz apontando para o teto e seus cílios curvados na mesma direção.

— Não. É mais a questão do meu próprio medo, mesmo.

Procuro justificar antes que ele se culpe mais. Não sei o que passa na cabeça dele. Joseph não costuma falar muito sobre seus sentimentos, tanto por não saber onde se situar na nossa recém-nascida relação, como para não me encabular. Eu suponho. Ele não responde no mesmo minuto. Fica respirando calmamente e minha cabeça apoiada nele se move na mesma velocidade. Está com o cheiro de seu perfume ainda distante, misturado com os lençóis da minha cama – é uma fragrância divina. Seu corpo está quente e é gostoso de abraçar. Como um ursinho de pelúcia.

Ele abre a boca e puxa o ar, antes de falar. 

— Do que você tem medo?

Fui pega totalmente desprevenida. Seus olhos agora estão em mim, a cabeça forçada para frente formando uma pequena protuberância de pele no pescoço.

Eu não esperava que teríamos essa conversa agora, em plena madrugada pós festa, reencontro, sushi, sexo e pesadelo – respectivamente. Mas de qualquer forma, sabia que ela chegaria. Novamente, me sinto enjoada.

efeito borboleta || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora