Hoje mais cedo – umas 6h e alguma coisa – quando acordei, havia uma mensagem de texto de um contato que eu não tinha salvo e não sabia de quem era.
Oi. Me desculpa se te assustei. Responda quando receber essa mensagem, assim saberei que não me passou o contato errado de propósito.
Estava em inglês.
Tinha acabado de levantar, ainda com um mau hálito grotesco e cabelo bagunçado, cheirando à cama; olhava confusa para a tela do celular. Mal sabia identificar se minha língua nativa era a inglesa mesmo ou portuguesa. Que porra é essa?
Aos poucos fui recordando, voltando à realidade. E a realidade, no caso, era doida. Entrevista, Joseph Quinn, Eduardo Franco, conversa estranha com Joseph, flerte. Uau, Maria Júlia, quem diria que você estaria no meio disso tudo?
O coitado tinha enviado a mensagem há 10h, mas ontem eu estava tão absorta entre minhas confusões mentais e sentimentais, e sono devido às fortes emoções, que não vi.
Precisei sentar na cama para me recompor, e ainda atordoada, respondi:
Não me assustou. Está tudo bem. Me desculpe a demora, mas de fato só vi a mensagem agora. As pessoas costumam mesmo passar o contato errado propositalmente para Joseph Quinn?
É uma habilidade minha que eu particularmente acho incrível: a de fazer piada no meio do caos em que estou vivendo.
Haviam outras notificações – umas dez, para ser mais certeira – e todas de Bianka.
Bianka, ontem, às 9h33: Estou vendo a live agora mesmooo! Você está arrasando.
Bianka, ontem, às 9h40: Maju, o Joseph não para de te olhar. E não é porque você é a entrevistadora e ele o entrevistado.
Bianka, ontem, às 9h44: Nossa, ele 'tá muito na sua (como sempre).
Bianka, ontem, às 9h56: Maria Júlia, o que foi isso???? "Acho que te conheço"???@
Bianka, ontem, às 9h58: Se EU te conheço bem, sei que está se segurando para não surtar agora.
Bianka, ontem, às 10h00: Eu estou rindo tanto de você hahahahah
Bianka, ontem, às 13h30: Amiga, a entrevista já acabou há um tempo. Vc me prometeu que ligaria, cadê você?
Bianka, ontem, às 18h47: Maria Júlia? Aconteceu alguma coisa? Tô preocupada. Me retorna quando vir as mensagens.
E algumas ligações perdidas.
Você está livre para o almoço?, respondo apenas.
Largo o celular na cama e levanto para começar a viver. No banho, ao me encarar no espelho e enxergar aquela mulher que vive lembrando do passado e temendo o futuro, penso: será que sou mesmo digna de recomeçar?
Infelizmente é uma questão que sempre me pega desprevenida, pois eu não sei a resposta. Reconheço que todo ser humano é merecedor de amor, mas as vezes penso que o meu já veio. Isaque era o meu amor, e precisou ir embora – cansei de dizer que ele foi arrancado de mim, removido de minha vida e retirado de minhas mãos. Então, será que eu realmente posso encontrar amor em outra pessoa? Como terei a confiança de não me sentir uma traidora no dia em que seguir em frente?
Apenas o começo de um possível flerte mexeu tanto com meus sentimentos que me fez desligar por horas e só pensar e lembrar de Isaque. Um amor futuro parece tão impossível enxergando essas circunstâncias ao meu redor do ponto de vista atual.
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efeito borboleta || joseph quinn
RomansaMaria Júlia é uma jornalista brasileira que atualmente trabalha como editora e criadora de conteúdo para o site midiático Sensation. Há algum tempo sofreu um trauma ao perder seu esposo em um acidente de avião. Ela tem como hobby a dança, onde enco...